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Cientista faz alerta sobre biocombustíveis e alimentos

O Brasil pode e deve deixar claro ao mundo que sua produção de biocombustíveis, que chegará a 1 bilhão e 800 milhões de litros/ano em julho, e de etanol, com 25 bilhões de litros/ano, não prejudica e nem encarece a produção de alimentos no país. Ao mesmo tempo, precisa ocupar racionalmente a Amazônia, onde não se planta cana-de-açúcar, para evitar eventuais riscos à sua soberania na região.

“Culpar o biocombustível por uma discutível escassez de alimentos é bobagem. O aumento da eficiência na produção mundial de alimentos vai continuar. Sobram alimentos. O que falta é o acesso a eles pela população. Precisamos encontrar formas de fazer a distribuição”.

O alerta e a afirmação são do professor da Universidade de São Paulo (USP), Miguel Dabdoub, presidente da Câmara Setorial de Biocombustíveis do Estado de São Paulo e diretor científico da Conferencia Internacional Ecochange – Biocombustíveis, Meio-ambiente, Alimento e Fome, que será realizada no Centro Osvaldo Cruz de Convenções das Faculdades COC, em Ribeirão Preto, de 1º a 3 de julho próximo.

Dabdoub destaca que menos de um por cento da área de plantio do Brasil é ocupada pela cana-de-açúcar, alvo de críticas, mesmo produzindo o etanol, um combustível limpo. “Do total de 581 milhões de hectares do país, usamos 56 milhões para produzir todo tipo de alimentos. A área de cana é de 7 milhões de hectares, o que representa só 0,8% do total, considerando-se no cálculo que parte da produção é de açúcar”.

Segundo o coordenador científico da Ecochange, a mistura de biocombustível renovável ao óleo diesel brasileiro, que alcançou 3% no ano passado, chegará a 4% em julho próximo. “Fazemos a defesa da conservação ambiental do planeta e o uso de biocombustíveis é interpretado erradamente nos Estados Unidos e na Europa. Estamos diante da economia verde e precisamos destacar que são os combustíve! is, via transporte, que movimentam toda a economia”.

A Ecochange, que deverá reunir aproximadamente três mil especialistas e interessados no tema, debaterá quais as conseqüências da poluição para o futuro do planeta, o uso da água e da terra, a segurança energética e alimentar, com seus reflexos na fome e na pobreza.

Dabdoub, que também é coordenador do Projeto Biodiesel Brasil e do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas da USP, sugere que á ocupação de áreas degradadas de florestas usando plantas perenes, como a palma africana, produtora do óleo de dendê, que consome o dióxido de carbono, principal causador do efeito estufa.

A palma africana produz 12 vezes mais óleo vegetal, dendê, do que a soja. A Malásia, por exemplo, ocupa de 11 a 13% de sua área plantada, com o cultivo de palma, para reflorestamento de áreas degradadas, onde existiam árvores que só rendem sombra. “Precisamos fazer uso racional da terra para garantir sua sustentabilidade. Plan! tar em áreas degradadas diminui a erosão, aumenta os postos de trabalho e reduz o êxodo rural”.

O coordenador científico da Ecochange entende que o uso racional da Amazônia e a educação ambiental são fatores essenciais para que o país preserve sua soberania sobre a região. “Castanheiros, seringueiros e pescadores, que são extrativistas, têm interesse natural na conservação da floresta, de onde tiram seu sustento. Precisam ser apoiados pela educação ambiental, aliada ao desenvolvimento sócio-econômico. A produção da indústria de pesca brasileira, em água doce, é desprezível. Pode ser ampliada. O Vietnã, para citar um caso, é grande produtor de óleo de peixe, também usado em biocombustíveis. Uma única indústria vietnamita, a Agfish, produz 800 milhões de litros/ano, equivalente a 2% do que o Brasil produziria em biocombustíveis”.

Porém, na opinião de Dabdoub, a indústria do petróleo não tem interesse no desenvolvimento de energia renovável, sustentada pela biodiversidad! e. “O cadeia de produção de etanol, a partir da cana-de-açúcar, evoluiu muito no uso de água, um direito universal. O resíduo das indústrias, a vinhaça, agora serve de fertilizante do solo. Substitui a aplicação de fertilizantes produzidos a partir do petróleo e da indústria química. Áreas de cana são recuperadas com o plantio, em sistema de rotação, de amendoim, usado na produção de óleo para biocombustíveis e também para fixar o hidrogênio na terra, renovando-a. E há limpeza de cana a seco. A produção de etanol no Brasil, que era de produção de 70 toneladas por hectare, do passado, chega a até 120 toneladas por hectare atualmente.”O grau de sustentabilidade de sua produção aumentou muito”, afirma o especialista. “Houve melhora de qualidade de emprego, com profissionais preparados para a mecanização da produção, e de condições de trabalho. Não existe mais bóia-fria como há 15 anos. Os trabalhadores são transportados por ônibus. A tecnologia melhorou, temos também limpeza de cana ! a seco”.

Dabdoub considere que é “pura especulação” dizer que a produção de alimentos é prejudicada pelos biocombustíveis. “Houve, antes da crise financeira global, um aumento elevado do petróleo, que teve reflexo nos transportes e, consequentemente, na elevação de preços de todos os produtos que o usam, como as embalagens plásticas. Agora que o petróleo despencou para a faixa de 50 dólares o barril, os preços das commodities, como o milho e a soja, também caíram”.

Uma tonelada de soja, acrescenta, pode render o equivalente a 200 litros de biocombustíveis e a 800 quilos de farelo de soja, usado para na criação de gado, de suínos, etc., que vão se transformar em alimentos para a população.

“Preservar é congelar. Conservar é explorar de modo racional. Se usarmos a racionalidade e a educação, os biocombustíveis ajudarão a mitigar a fome no mundo, como a do desenvolvimento da agricultura brasileira tem demonstrado. Nós contribuímos para mitigar a fome na Europ! a e na Ásia, com a imigração de italianos e japoneses”, completa Dabdoub, coordenador científico da Ecochange (www.ecochange.com.br).

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