JornalCana

Chance de acordo com UE é remota, dizem agricultores

Produtores rurais são os mais preocupados com os rumos das negociações

Enquanto Mercosul e União Européia entram no segundo dia de negociações, representantes dos setores agropecuário e industrial do Brasil demonstram ceticismo em relação à criação de uma área de livre comércio entre os dois blocos.

Para Gilman Viana, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), é “remota” a possibilidade de que os blocos concluam as conversações até outubro.

No setor industrial, a negociação também é vista com reservas. “Não diria que estamos otimistas”, afirma Lucia Maduro, economista da Unidade de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que acompanha as conversações.

O rumo das negociações parece preocupar mais os produtores rurais, que teriam muito a ganhar com um eventual livre acesso ao mercado europeu.

Ganhos

Segundo Vianna, numa estimativa inicial, esse cenário proporcionaria ganhos anuais ao setor rural brasileiro de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões, tendo em conta apenas os produtos que já constam na pauta de exportações para a Europa.

“Mas o ambiente não está de muito otimismo, as negociações internacionais estão baseadas muito na postergarção”, reclama.

Viana sugere que a União Européia “não está interessada em um acordo” e por isso usa a tática de “criar empecilhos”.

“Estamos exportando 300 mil toneladas de carne por ano para a Europa. Agora, propor uma cota de 100 mil toneladas em prestações que parecem crediário é conversa. Isso é não querer fazer o acordo, mas politicamente convém dizer que eles querem fazer”, afirma o presidente da CNA.

O setor de agronegócios quer o fim ou, pelo menos, a redução dos subsídios agrícolas europeus.

“A prática protecionista e de subsídios distorce o comércio e não tem sentido ser defendida. A União Européia produz açúcar a US$ 700 a tonelada, mas vende no mercado internacional a US$ 260 a tonelada. Não entendo por que os países desenvolvidos precisam desses subsídios, em detrimento da oportunidade dos outros. É fundamental eliminar as distorções.”

Produtos

Viana pede que os europeus definam com mais clareza como os produtos considerados “sensíveis” devem ser tratados.

“Por que tenho que dar em troca as minhas vantagens competitivas para corrigir as distorções do outro? Por que apenas não corrigimos a distorção do outro?”

Viana diz que, se for necessário, é melhor deixar de concluir o acordo até outubro. Mas “um acordo fraco” é melhor do que não haver acordo.

“É preciso dar o nome adequado ao acordo fraco, não seria um acordo de livre comércio, mas de preferências comerciais”, afirma o presidente da CNA.

O setor industrial prefere ter mais tempo de negociação a um acordo mais modesto.

“É melhor não cumprir a data de outubro e ter um acordo melhor”, diz a economista da CNI Lucia Maduro.

Abertura

As questões que mais preocupam a indústria são o grau e a velocidade de abertura do Mercosul aos produtos industrializados europeus, a proposta européia de excluir do livre comércio itens produzidos com equipamentos que recebam isenção de imposto de importação e o estabelecimento das “regras de origem” dos produtos dos dois blocos.

“Em termos de acesso a mercados, para nós, o mercado europeu já é bastante aberto. Então, quais seriam os ganhos? Existem sim, mas não posso dizer que eles sejam tão significativos como no caso da agricultura”, diz Lucia. “No caso da indústria, o mais importante é o acesso europeu ao Mercosul.”

Por causa da diferença de evolução industrial da Europa em relação ao bloco sul-americano, ou das “assimetrias”, como diz a CNI, a indústria brasileira defende um cronograma de abertura mais lento e gradual.

O setor pede que o Mercosul não ceda na sua proposta inicial, que estabelece grupos de produtos com prazos que teriam uma carência para entrar sem pagar imposto de importação no Mercosul.

Os sul-americanos aceitam a liberação imediata para alguns produtos, mas querem prazos de dois, oito e até dez anos para outros, enquanto os europeus pedem mais agilidade.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram