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Certificação socioambiental é decisiva para a bioenergia

Segundo estudos da União Européia, entre 2009 e 2030, a procura mundial de energia aumentará em torno de 1,8% por ano. O maior movimento de busca, mais da metade, ocorrerá nos países em desenvolvimento, hoje responsáveis por cerca de 40% do total. Como se sabe, o paulatino esgotamento dos recursos hídricos disponíveis e das reservas de combustíveis fósseis, associado aos impactos que a exploração destes produzem no ambiente, torna a bioenergia, menos poluente e advinda de fontes renováveis, a única alternativa atualmente viável para atender àquela demanda.

Entretanto, a substituição da matriz energética mundial não é tão simples assim, pois a produção da bioenergia compete com a de alimentos, estabelecendo o grande dilema contemporâneo da sustentabilidade. O aquecimento global é um dos fatores que agravam o problema, já que safras e a disponibilidade de água podem ser limitadas em todo o Planeta, potencializando a geração de conflitos (de idéias e até entre países disputando os “santuários” da sobrevivência).

Nesse cenário de tensão, o Brasil posiciona-se como a grande potência ambiental e energética, pois é o único país onde existem plenas condições de se obter da terra combustíveis e eletricidade renováveis, sem prejuízo à produção de comida. Como admite a própria FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), um dos fóruns nos quais se tem debatido o tema “energia versus segurança alimentar”, temos a maior área de agropecuária do mundo, com 235,1 milhões de hectares, além de clima propício, a mais abundante reserva hídrica, biodiversidade superlativa e tecnologia própria para agregar valor a tudo isso.

Para entender melhor o potencial brasileiro no campo energético, é interessante recorrer aos exemplos do etanol e do biodiesel. O primeiro já substituiu mais de 50% do consumo interno de gasolina. Para atender a essa demanda, que reduz muito as emissões dos gases do efeito estufa, é utilizado na cultura da cana-de-açúcar apenas 1% das terras agricultáveis. Mais de 90% dos carros novos em circulação no Brasil são flex fuel, e a logística de distribuição garante total facilidade de acesso ao etanol a toda a frota nacional.

Quanto ao biodiesel, também já presente nas bombas dos postos de abastecimento de várias cidades brasileiras, reduz em 78% as emissões líquidas de gás carbônico e em 90% as de fumaça, além de praticamente eliminar as de óxido de enxofre. Ademais, estudos dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, da Integração Nacional e das Cidades indicam: para cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar, podem ser gerados cem mil empregos no campo. Esse percentual significa algo em torno de 900 milhões de litros/ano. Deve-se considerar, ainda, que a agricultura familiar emprega, em média, um trabalhador para cada dez hectares cultivados.

Como se percebe, o Brasil tem condições ímpares e diferenciadas, já que a dependência de fontes externas é pequena e sua energia é limpa, abrindo oportunidades para investidores em mecanismos sustentáveis nessa área. A persecução persistente e duradoura de objetivos bem definidos permitirá atenuar até mesmo o desequilíbrio social estrutural, aproveitando-se o imenso potencial energético que o País registra, sem precedentes em todas as demais nações. Além de atender plenamente ao mercado interno, poderá suprir com eficiência inclusive a demanda externa.

No entanto, com o intuito de fortalecer a participação dos biocombustíveis brasileiros no mundo, com evidentes benefícios na pauta de exportações e geração de emprego e renda interna, algumas medidas precisarão ser adotadas. Uma delas refere-se à criação de um conceito de certificação de responsabilidade socioambiental que permita ao produtor ser visto como partícipe de uma cadeia de suprimentos de energia sem agressão ao meio ambiente e, ainda, como promotor de projetos de inclusão social.

Os procedimentos de certificação socioambiental são uma tendência mundial em muitos setores. Tais processos servem para melhorar a imagem dos produtos, facilitar a decisão de compra para clientes e consumidores e evitar barreiras ao comércio internacional. O “selo” que garantirá o ingresso de nossos biocombustíveis nos mercados europeu, norte-americano, asiático e, futuramente, até nos países em desenvolvimento somente será conferido àqueles que utilizarem métodos produtivos ecológica e politicamente corretos. Em termos práticos, isto significa que nossos produtos devem ser ambientalmente adequados, socialmente justos e economicamente viáveis.

*Antoninho Marmo Trevisan é presidente do Conselho Consultivo da BDO Trevisan, da Trevisan Consultoria e Outsourcing, diretor da Trevisan Escola de Negócios e Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão.

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