O CEO para a América do Sul da Stellantis, Antonio Filosa, responsável pelas marcas Fiat, Peugeot, Citroën e Jeep, não vê a eletrificação de veículos como a melhor saída para o Brasil, já que o carro movido a etanol tem quase a mesma pegada de carbono que o carro elétrico quando se considera todo seu ciclo de vida, da manufatura ao uso no dia a dia.
Segundo Filosa, nos mercados que têm matrizes energéticas fundamentalmente fósseis, trabalhar com eletrificação é fundamental, porque um carro elétrico emite zero no uso. Mas o Brasil é diferente.
“O Brasil tem a grande vantagem de ter uma matriz energética essencialmente limpa. Além disso, o carro a etanol é quase tão neutro quanto o carro elétrico quando você olha todo o ciclo de vida. O carro elétrico no uso é zero, mas em toda a cadeia que vem antes dele, ele polui, emite CO2”, afirma.
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Filosa argumenta ainda, que o veículo a etanol, tem emissões contidas no uso, mas toda a cadeia tem muitos benefícios porque o etanol vem da cana-de-açúcar, que retira CO2 da atmosfera. Além disso, a grande fortaleza do etanol é que ele está presente em todos os postos de gasolina e é muito acessível. O carro a etanol ou flex tem um preço muito competitivo. E todas as virtudes do etanol são potenciadas com a combinação com a eletrificação, nos modelos híbridos. É um investimento a baixo custo.
Em entrevista ao Brazil Journal, o executivo da Stellantis explica o porquê da meta de eletrificação dos veículos da companhia serem distintas: 100% de carros elétricos na Europa em 2030, 50% nos EUA e só 20% no Brasil.
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“A Europa não tem outra chance. Para respeitar os limites de emissões de CO2, a única chance é a eletrificação. O Brasil tem uma chance que é o etanol. O Brasil tem condições estruturais fundamentais para a energia limpa. E para o setor de transporte, tem o etanol para fazer a transição. Se a gente não quer deteriorar o mercado, essa é a saída”, disse.
Segundo o executivo, se a Stellantis decidir pela eletrificação no Brasil, teriam que pedir ao Governo incentivos que claramente não são possíveis no contexto atual.
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“Então, todo mundo sabe que esse não é o caminho a seguir, porque não agrega mais que o etanol combinado a pequenas eletrificações. Ao contrário: deterioraria o mercado e machucaria o PIB. O resumo é simples: se você quiser fazer como a Europa, você deve estar preparado para um carro cujo preço aumente 50% ou mais, o que significa um mercado que vai cair muito, sobretudo para as faixas com menor poder aquisitivo. Isso vai fazer as fábricas e os fornecedores encolherem, diminuindo os empregos. E tudo isso para obter o quê? Praticamente o mesmo valor de emissões de CO2 que o etanol. Acho que ninguém vai fazer essa loucura”, conclui Filosa.