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Cenário favorece o fortalecimento de usinas em recuperação judicial

Após o agudo período de crise que pegou no contrapé muitos grupos de usinas sucroalcooleiras alavancados e outros já de longa data endividados, o segmento faz um balanço otimista do que sobrou. Em um universo com mais de 500 unidades industriais, apenas oito pediram recuperação judicial e algumas delas já estão conseguindo se reerguer, apoiadas sobretudo nos bons preços do açúcar. Com isso, a tendência é que na maior parte dos casos a moagem volte a níveis pré-crise, os caixas sejam reforçados e dívidas com fornecedores sejam pagas.

Juntas, as oito usinas têm capacidade conjunta de moagem de cana de quase 30 milhões de toneladas, ou cerca de de 5% do que foi processado na safra 2009/10, que se aproxima de 590 milhões de toneladas. Na temporada passada, a capacidade ociosa das unidades em recuperação foi elevada, pelo atraso no início dos trabalhos e pelo excesso de chuvas. Nesta safra, em alguns casos a moagem pode até superar o volume realizado antes dos pedidos de recuperação judicial.

O Grupo Naoum, de Goiás, fundado há 40 anos pelo empresário Munir Naoum, pretende moer nesta safra um volume recorde. A previsão da empresa é processar 3,7 milhões de toneladas, mais do que as 3,57 milhões de 2008/09, antes da recuperação judicial. Com três usinas que somam capacidade de moagem de 4 milhões de toneladas, o grupo tradicionalmente produz mais açúcar do que etanol. Na temporada passada, já imerso na crise, o grupo teve sua receita afetada pela chuva no Centro-Sul e por pendências jurídicas do processo de recuperação, que atrasaram a captação de recursos para os trabalhos de manutenção na entressafra. Assim, o processamento começou em julho, com três meses de atraso e a moagem ficou em 2,4 milhões de toneladas, 1 milhão a menos do que o previsto.

Com os percalços, o Grupo Naoum estima que deixou de faturar R$ 100 milhões, ou 40% do potencial previsto no período. Para bancar parte dos custos de manutenção desta entressafra, recém-encerrada, a empresa pediu crédito a fornecedores antigos. Fontes do mercado dizem que isso foi possível em razão da volta do empresário Munir Naoum aos negócios – ele tinha se afastado antes do início das dificuldades. Apesar de ter pedido a recuperação no fim de 2008 e obtido a aprovação no primeiro trimestre de 2009, a empresa ainda negocia com seus credores. Quando anunciou a recuperação, o grupo tinha dívidas de US$ 100 milhões.

Após ficar paralisada de dezembro de 2008 a julho de 2009 por falta de recursos para operar e pagar fornecedores, a Usina Albertina conseguiu a liberação de garantias por seus credores e pode iniciar a moagem no ciclo passado. Foram processadas apenas 850 mil toneladas, ante uma capacidade de 1,5 milhão de toneladas. No entanto, a produção, mesmo reduzida, ajudou a gerar caixa a partir dos bons preços do açúcar e débitos trabalhistas foram todos quitados. Também foram pagas dívidas de até R$ 20 mil com fornecedores. Foram satisfeitos 75% do número total de credores e cobertas pouco menos de 10% da dívida total avaliada em R$ 240 milhões, incluídas pendências fiscais.

Dessa forma, neste ciclo (2010/11) a usina conseguirá antecipar a moagem para os próximos dias (antes de abril) e espera retornar aos níveis de moagem pré-crise, de 1,5 milhão de toneladas de cana. Fundada na década de 20 e sob a administração da empresária Viviane Carollo até a recuperação judicial, a Albertina estabeleceu um conselho de administração informal formado por acionistas e credores. O dia a dia é tocado por uma equipe profissional e com uma gestão interna para garantir o cumprimento do plano de recuperação, de acordo com Marcelo Milliet, gestor interino da usina.

Milliet explica que está sendo terminada uma auditoria para que seja concluída a implementação do programa de recuperação, que considera duas alternativas. Uma é a conversão das dívidas dos três principais credores, que somam US$ 60 milhões, em ações. “Se esses credores converterem seus débitos em ações, os outros que não o fizerem, terão desconto de 70% do que têm a receber”. A outra é a criação de uma holding, com a maior parte dos ativos, que seria leiloada por um valor mínimo a ser definido. “Neste caso, a previsão é que o leilão seja em novembro. Se o valor mínimo não for atingido, existe a possibilidade de fazermos outro em maio de 2011”, afirma ele.

No caso da Usina Campestre, de Penápolis (SP), fundada da década de 40 pela família Egreja, a reorganização financeira só foi possível com o afastamento da antiga administração. Em um processo conturbado de recuperação judicial, a usina já está em seu terceiro administrador judicial – profissional autorizado por um juiz para acompanhar e fiscalizar o processo de recuperação judicial – e ainda não conseguiu levantar recursos para fazer a manutenção para reiniciar a moagem da safra 2010/11.

“Não temos ainda uma previsão de quando esses recursos serão levantados e de início de moagem”, diz o gestor judicial da usina, José Carlos Fernandes de Alcântara. Segundo Carlos Alberto Pacianotto, advogado da Campestre, está sendo negociada com a credora Mercavale Mercantil Vale do Sol, de Minas Gerais, uma venda antecipada de açúcar para obter recursos. A expectativa é levantar R$ 10 milhões mediante um contrato de compra antecipada de 200 mil a 250 mil sacas de açúcar. “Fizemos um adendo no plano de recuperação com a criação da figura do credor parceiro para beneficiar com condições privilegiadas os credores que concederem crédito à usina, ou na forma de capital ou de serviços estratégicos”, explica Pacianotto.

Entre as vantagens oferecidas está um menor prazo de pagamento e a eliminação do deságio sobre a dívida, que para os outros credores será de 50%. A Campestre tem capacidade de moagem de 3 milhões de toneladas de cana e, por causa do atraso na moagem e das chuvas, moeu cerca de 1,8 milhão de toneladas no ciclo 2009/10.

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