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Cenário de preços no curto prazo: a favor do etanol e contra o açúcar

Confira texto de Julio Maria Borges

Cenário de preços no curto prazo: a favor do etanol e contra o açúcar

Julio Maria M. Borges*

Esta situação a favor dos preços do etanol e contrária à recuperação dos preços do açúcar é exatamente o oposto do que prevíamos no início do ano.

Vejamos o que está acontecendo.

A fonte das informações é nosso relatório semanal de Monitoramento dos Mercados de Açúcar e Etanol.

                                  Mercado internacional 

Açúcar

Não existem no momento argumentos a favor de preços mais altos.

A Índia, com a chuva de monções se regularizando, pode ter uma produção de açúcar na próxima safra 2019/20, que se inicia em Outubro/19 perto do extremo superior da faixa 28-33 mi t.

Além disso, a aprovação de subsídios para incentivar as usinas do país a exportarem até 6 milhões de toneladas de açúcar em 2019/20, traz mais pressão baixista sobre os preços.

Os estoques mundiais de açúcar são relativamente altos bem como está alto o Dólar Índice.

O US$ valorizado contribui para preços mais baixos das commodities.

A economia global está em um momento pessimista; o ouro tem batido recordes de preços altos.

O único argumento do momento para uma alta de preços do açúcar está relacionado ao viés alcooleiro da safra do brasileira.

Este argumento tem sido gradativamente precificado pelo mercado.

Os preços do açúcar em NY na semana passada oscilaram em torno de 11,30 ¢/lb.

Neste momento mostram viés de baixa em busca da faixa 10-11 ¢/lb. 

Petróleo

Conforme já comentamos, a economia global no momento carrega uma dose forte de pessimismo.

A demanda de petróleo mostra-se restrita, inibida pela desaceleração do crescimento da economia mundial.

Do lado da oferta de petróleo não se nota qualquer restrição no momento que possa dar suporte para preços mais altos.

Na ocorrência de acidentes climáticos e de tensões geopolíticas, que restringem a oferta, os preços podem subir.

Preços do petróleo americano WTI em torno de 55 US$/barril , conforme temos observado nos últimos três meses, devem continuar no curto prazo.

Câmbio

O ambiente internacional está muito incerto e tem contribuído para a valorização do dólar.

A guerra comercial EUA X China tem-se agravado.

O Brexit sem acordo é um fantasma que assusta o mundo dos negócios.

Além disso, temos a moratória da Argentina que traz algum reflexo negativo para o Brasil.

A geopolítica do Oriente Médio continua normal: incerta e arriscada.

No ambiente doméstico teremos um alívio na pressão altista da taxa de câmbio quando o processo de aprovação das reformas e privatizações se consolidar.

Nesta situação, poderemos ter uma expressiva valorização do Real perante o dólar americano.

Em resumo: taxa de câmbio volátil, relativamente estável com viés de alta, mostra-se mais provável no curto prazo.

Câmbio na faixa de 4,00-4,20 pode acontecer por algum tempo.

                                     Mercado interno 

Região Centro-Sul

A falta de suporte do mercado externo sugere viés de baixa para preços do açúcar no mercado interno.

Por outro lado, a oferta restrita do produto, devido ao forte viés alcooleiro da safra, dá suporte para preços, que fica reforçado por estoques baixos e chuva prevista para a Primavera.

Na semana passada os preços em São Paulo oscilaram em torno de 59,30 R$/saca 50kg.

No curto prazo o Real desvalorizado e a oferta restrita do produto devem dar suporte para preços, que podem alcançar a faixa de 60-65 R$/saca.

No caso do etanol os argumentos baixistas que chamam a atenção no momento são:

  • bom andamento da moagem de cana, que contribui para o aumento da oferta;
  • a remuneração do etanol para o produtor melhor que a do açúcar gera pressão de oferta.

Por outro lado, os argumentos para suporte de preços podem ser resumidos em dois:

  • a competitividade com a gasolina tem sido bastante favorável ao etanol e isto contribui para uma demanda mais aquecida.
  • o preço da gasolina, com petróleo em torno de 55 US$/barril e Real desvalorizado, cria um ambiente de suporte para preços do etanol.
  • existe previsão de chuva acima da média para a Primavera conforme CPTEC-INPE. Chuva e estoques baixos de etanol é uma combinação altista para preços.

Diante destes argumentos, esperamos preços de etanol relativamente estáveis com viés de alta ao longo da safra.

Na semana passada o etanol hidratado, sem impostos, tinha preços em torno de 1,68 R$/litro.

O etanol anidro tinha um prêmio sobre o hidratado de 13%.

Região Norte-Nordeste

A nova safra 2019/20 no Nordeste começa oficialmente neste mês de Setembro. Normalmente o início da safra nordestina derruba os preços do açúcar e etanol na região.

Como exemplo, podemos citar o caso do etanol hidratado.

Nas últimas quatro semanas o preço líquido do hidratado passou de 2,05 para 1,80 R$/litro.

Uma queda de 12% em um mês é expressiva e reflete pressão de caixa de usinas endividadas.

Este fenômeno ocorre porque na entressafra nordestina o abastecimento é feito ou pelo Centro-Sul ou pelo etanol importado dos EUA.

Nesta condição, os preços incorporam o frete de abastecimento e a oferta é mais concentrada, ou seja, os preços são mais altos que aqueles observados durante o período de moagem da cana.

*Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento

Email: [email protected]           

Site: www.jobeconomia.com.br

Artigo originalmente postado na website Blogs Canal Rural