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Cenário de escassez continuará até 2013

Mesmo que os investimentos do setor sucroalcooleiro sejam retomados neste ano, o cenário de escassez deve prevalecer, pelo menos, até 2013. “Não há mais tempo para mudar esse cenário. A decisão de um projeto demora em média um ano para sair do papel. Se os investimentos forem retomados agora, o reflexo apenas será sentido em 2013, mas ainda será um cenário de escassez”, afirma vice-presidente da fabricante de equipamentos Dedini, José Olivério.

Na avaliação dele, diante da expectativa de crescimento da frota de carros flex, o setor deveria estar numa onda mais agressiva de investimentos, como ocorreu entre 2000 e 2008. Nesse período, o volume de cana-de-açúcar moída teve um crescimento médio de 10,4% ao ano. De lá pra cá, essa taxa caiu para 3,3%. O avanço da cana foi decorrente de um otimismo generalizado no setor, que resultou na construção de 112 usinas entre 2005 e 2010. Neste ano, devem entrar em operação apenas 5 unidades, ainda reflexo de decisões passadas.

Além dos investidores tradicionais, vários estrangeiros desembarcaram no País para estrear na produção de açúcar e álcool. Até então, havia excesso de liquidez no mercado e muita gente se endividou no curto prazo para fazer os investimentos, afirma o diretor-presidente da Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool, José Pessoa de Queiroz Bisneto. “A crise enxugou o excesso de liquidez e provocou uma chuva de falências no setor.”

Volatilidade. Além disso, a enorme volatilidade de preços no mercado acabou corroendo a remuneração do setor. Durante a safra, as empresas que precisavam de dinheiro jogavam muito etanol no mercado, derrubando o preço. Na entressafra, a reduç ão da oferta fazia o preço alcançar picos elevados. “Desse jeito a remuneração foi sendo corroída. Mas como havia excesso de liquidez no mercado, ninguém percebia isso. Quando veio a crise, o problema ficou exposto.”

Queiroz calcula que cerca de 50 usinas ainda estejam em recuperação judicial, desde o início da crise. “Hoje, não vemos nenhuma sinalização de retomada dos investimentos. Há uma inibição geral no setor”, diz ele, que acredita que as usinas atuais possam aguentar parte da demanda dos carros flex se investirem na expansão da área plantada e dos parques industriais.

O sócio da IBM Business Consulting, Martiniano Lopes, também vê potencial a ser explorado nas usinas existentes. Ele afirma que muitas unidades construídas recentemente ainda não estão a pleno vapor e podem dar uma boa contribuição para o mercado nos próximos anos, se decidirem expandir suas atividades. “Muitas estão operando apenas com uma moenda. Elas podem instalar uma segunda moenda e aumenta r a produção.”

O ex-presidente da Unica, Eduardo Pereira de Carvalho, diretor da consultoria Expressão, não tem a mesma convicção. Na avaliação dele, o setor precisa “brutalmente de investimentos” em novas unidades. “Mas não estou vendo isso ocorrer. A única coisa que vejo é fusão e aquisição. Se quisermos atender o mercado, teremos de construir novas usinas”, destaca.

Outro problema que pode representar um entrave para o setor é que o grande produtor de cana do País está no limite. São Paulo tem restrições para elevar a área plantada, diz Lopes. Ele, que acredita na expansão das usinas existentes para atender à demanda, reconhece que o cobertor é curto. Ou seja, não adianta aumentar muito a capacidade industrial do Estado, já que não haverá cana para todos. Isso tem de ocorrer no Centro-Oeste.

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