A norte-americana Cargill foi a companhia estrangeira que mais investiu no setor sucroenergético brasileiro em 2015. Seja direta ou indiretamente, através de fundo de investimentos do qual é a principal controladora, a companhia prova suas apostas no mercado de açúcar e de etanol para avançar nos negócios no Brasil.
A Cargill tem três negócios diretamente ligados ao setor sucroenergético brasileiro. E em dois deles investiu pesado em 2015.
O mais novo investimento da norte-americana no setor sucroenergético do Brasil foi a aquisição das duas usinas de cana-de-açúcar do tradicional Grupo Ruette, do interior paulista.
A compra significou um processo de cerca de seis meses, girou perto de R$ 600 milhões, conforme informações de mercado, e foi realizada por meio do fundo de investimentos Black River, do qual a Cargill é controladora.
O Portal JornalCana informou em 24 de agosto de 2015 sobre as negociações entre o Grupo Ruette e o fundo.
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As duas usinas da Ruette são a Paraíso e a Monterey, localizadas respectivamente nos municípios paulistas de Paraíso e Ubarana. O controle das unidades sucroenergéticas já está com a Black River desde 30/12/2015.
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As negociações sobre a compra das duas usinas integraram mais um episódio da crise financeira que abateu o setor sucroenergético brasileiro desde 2008. Conforme o Portal JornalCana apurou, as dívidas do Grupo Ruette somavam no ano passado R$ 800 milhões, dos quais R$ 340 milhões com os bancos.
enquanto o faturamento por safra passava pouco mais de R$ 500 milhões.
Uma das fórmulas do Grupo Ruette foi buscar a Recuperação Judicial, como fizeram 54 usinas sucroenergéticas brasileiras.
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Mas a opção da diretoria do Grupo foi pela negociação com os credores. Foi no meio dessa fase que surgiram cinco interessados em comprar o controle das duas usinas, das quais a subsidiária da Cargill saiu-se vencedora.
Capacidade de moagem
Com a aquisição das duas usinas do Grupo Ruette, a Cargill (e a Black River) alcança ampliou sua capacidade de moagem de cana-de-açúcar em 3,5 milhões de toneladas.
Com os 3,5 milhões de toneladas, a Cargill chega a uma capacidade total de moagem de 16 milhões de toneladas de cana, o que a coloca no pódio das grandes players do setor sucroenergético brasileiro.
Como fica a moagem média operada pela Cargill (Black River)
Usinas Monterey/Paraíso: 3,5 milhões de toneladas
Usina Cevasa: 2,5 milhões de toneladas
Usinas São Francisco/Rio Dourado: 10 milhões de toneladas*
Total: 16 milhões de toneladas
*montante leva em conta moagem média de 36 mil toneladas/dia em safra de 270 dias
Etanol de milho
Outro investimento peso-pesado da Cargill em 2015 foi na produção de etanol de milho. Por meio da SJC Bioenergia, e juntamente com sua sócia, o Grupo USJ (Usina São João, da família Ometto), a multinacional americana deu início, em dezembro de 2015, às operações de etanol de milho em unidade junto à Usina São Francisco (USF), no município de Quirinópolis (GO).
A produção de etanol de milho não é exclusiva na unidade da SJC na Usina São Francisco. Confira detalhes dessa nova operação no Portal JornalCana.
Cevasa
Já a atividade sucroenergética pioneira da Cargill no Brasil, e que segue firme, é a Central Energética Vale do Sapucaí Ltda, a Usina Cevasa, no município de Patrocínio Paulista (SP).
A Cargill detém 68% do controle da Cevasa, conforme apurou o Portal JornalCana, enquanto os demais 28% pertencem a fornecedores de cana-de-açúcar ligados à empresa Canagrill, com base na cidade de Jardinópolis (SP) e região próxima da unidade sucroenergética.
Criada em 1994 pelo empresário do setor Maurílio Biagi Filho, que hoje detém de fatia societária da usina de etanol Aroreira, localizada em Tupaciguara (MG), a Cevasa realizou a primeira safra em 1999 com cerca de 500 mil toneladas de cana. E fazia exclusivamente etanol.
Hoje, além de açúcar e bioeletricidade, a Cevasa tem capacidade de 2,5 milhões de toneladas de cana/safra e ajuda a comprovar os motivos pelos quais a Cargill, que atua em vários segmentos do agronegócio brasileiro, não deixou de apostar no setor sucroenergético, mesmo nos anos de crise. Investiu em novas unidades (na fábrica junto a Usina São Francisco) e na compra de usinas (Ruette). E já amplia os lucros desses investimentos.
Saiba mais quem é a Black River
Segundo a Cargill, a Black River é uma administradora de recursos de terceiros (asset management) especializada em investir em estratégias alternativas. Formada em 2003, a empresa tem atuação independente, embora seja subsidiária da Cargill. Possui atuação em 12 países.