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Capacidade da produção brasileira de grãos na safra 2012/13 desafia ausência de investimentos em logística

A relevância do Brasil no agronegócio mundial não é novidade. Porém, nos últimos 20 anos, os destaques têm sido commodities como carnes, milho e soja – mercados concretizados no cenário internacional e que evidenciam o sucesso de investimentos feitos nas últimas décadas. A condição demográfica e econômica revela que os principais produtores de alimentos precisam acelerar a produção para suprir a demanda mundial crescente. Mas não é apenas na demanda por alimentos que se concentra o agronegócio. O foco nos biocombustíveis (como o etanol de cana-de-açúcar, milho e o biodiesel a partir de oleaginosas) acelera esse processo.

Além do pioneiro biocombustível de cana-de-açúcar, o Brasil tem expansão frequente na produção e exportação de carnes e, em velocidade surpreendente, de milho e soja. Em parte, esse crescimento atende à própria melhoria da demanda interna, mas também passa a atender uma procura internacional que não tem sido suprida.

No caso da soja, a ampliação da produção interna e da exportação é evidente, pois revela a intensidade da demanda mundial em relação à capacidade brasileira de produzir mais. Áreas ainda disponíveis, utilização de terras desfavoráveis à cultura, melhoria da tecnologia de produção e dinamismo no mercado deverão levar o Brasil a assumir a primeira colocação na sojicultura em 2013. Uma safra prevista em 83 milhões de toneladas para 2013 é a resposta da capacidade brasileira em atender a demanda internacional.

Sem dúvida, se a soja segue um caminho de sucesso já esperado, o milho vai se consolidando como novo grande produto para exportação mundial. Desde 2000, quando o Brasil embarcou seu primeiro carregamento na exportação de milho, alguns sinais estruturais ficaram evidentes. Enquanto os Estados Unidos utilizavam mais milho para a produção de etanol em virtude de condições limitadas de plantio, a Argentina e o Paraguai buscaram a melhoria da produção, mas não a ponto de suprir a demanda internacional. Portanto, diante desse cenário, o mercado internacional precisaria de um novo grande exportador de milho.

O Brasil chegou ao mercado internacional devido a quebras de produção em alguns exportadores-chave, pelo auxílio do governo em momentos difíceis da comercialização, mas, primordialmente, pela surpresa de resultados na produção de uma segunda safra de milho no mesmo ano comercial. Os investimentos das empresas de sementes para adaptar suas tecnologias à realidade das condições de clima e de solo da chamada “safrinha” brasileira são os grandes responsáveis pelo sucesso do país na milhocultura.

Embora tenhamos uma safra de verão em que a área plantada praticamente diminuiu 50% em 25 anos, houve melhorias consideráveis na tecnologia aplicada – e os resultados proporcionados pela biotecnologia no milho influenciam essa produção. Hoje, mesmo com área muito menor, produzimos mais do que há décadas na safra de verão. Mudanças radicais de tecnologia – em particular na utilização de sementes tecnificadas, na maior adubação e no plantio – e alguma ajuda no clima – com uma menor incidência de geadas no Paraná – favoreceram essa ampliação saudável.

No momento em que há uma quebra histórica de produção nos Estados Unidos, o Brasil se destaca com uma supersafra de milho, de mais de 72 milhões de toneladas neste ano, sinalizando um novo recorde de exportações. As vendas brasileiras, em 2012, podem ficar entre 17 e 20 milhões de toneladas na exportação. Com esse dado, o Brasil assumiria a segunda posição nas exportações mundiais de milho, atrás apenas dos Estados Unidos.

Quanto à sojicultura, a utilização de variedades cada vez mais precoces para o plantio e a melhoria da tecnologia aplicada à safrinha trouxeram resultados também impressionantes, com uma produção expressiva de 37,7 milhões de toneladas em 2012, no Brasil.

Precisamos, agora, trabalhar para produzir o que pode ser a maior safra de grãos da história em 2013. Os produtores, as cooperativas e as empresas de insumos buscam atingir esse resultado. Entretanto, a maior preocupação se centralizará na logística interna brasileira: como escoar uma safra recorde com a mesma estrutura de 20 anos?

As entidades que representam o agronegócio brasileiro precisam focar investimentos nisso. Caso contrário, a situação poderá iniciar um processo de baixa nos preços dos grãos brasileiros devido à precariedade da estrutura de escoamento da produção interna.

Paulo Molinari, diretor técnico da SAFRAS & Mercado, é economista formado pela Universidade Federal do Paraná, com pós-graduação em Agribusiness pela FAE. Atua há 28 anos em análise econômica e de mercados agrícolas, e é consultor sênior em Agribusiness.

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