A estimativa de uma boa rentabilidade este ano tem animado o setor sucroenergético, mesmo com as incertezas quanto às condições dos canaviais da região Centro-Sul no ano safra 2021/22. O clima seco de 2020, que não teve efeito prejudicial na temporada 2020/21, deve atrasar, em alguma medida, o desenvolvimento da cana a ser colhida em 2021, tanto no caso da planta de primeiro quanto no caso dos demais cortes.
Adicionam-se à questão da menor produção média de cana por hectare, prevista para 2021, em função da seca no ano anterior, outros fatos podem ser apontados, também, como possíveis responsáveis pela menor quantidade de ATR (Açúcar Total Recuperável) disponível a ser alocada para a produção de açúcar e etanol em 2021, relativamente ao ano de 2020.
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Entre eles, se destacam os incêndios ocorridos em canaviais no ano passado, que precisarão de tempo para a recuperação. A redução dos tratos culturais nas lavouras no início da pandemia devido à descapitalização do segmento produtor, especialmente pelas quedas da demanda e do preço do etanol. Também o aumento da idade média dos canaviais e uma menor disponibilidade de área a ser colhida que poderá estar em processo de renovação, postergada também em decorrência da pandemia.
Com a finalidade de minimizar os efeitos do clima e da pandemia sobre a produtividade dos canaviais e a qualidade da planta a ser colhida, a moagem na região Centro Sul deve se iniciar em abril, não se prevendo a antecipação da safra como ocorreu em anos anteriores. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), os mais otimistas consideram, no entanto, que o clima pode ser favorável nos dois primeiros meses de 2021, permitindo uma recuperação dos canaviais e pouca alteração relativamente a 2020 no ATR disponível.
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Ainda de acordo com o CEPEA, no ano safra 2021/22, o mix de produção deverá se ajustar às expectativas de preços relativos de etanol e açúcar, da forma como feito em 2020/21. O açúcar deve continuar remunerando mais que o etanol em 2021, considerando-se a conjuntura esperada para cada um desses dois mercados, tanto no âmbito nacional quanto no internacional, e, dessa forma, pode-se inferir que usinas devem privilegiar a fabricação do adoçante, limitadas, no entanto, pela capacidade instalada nessa linha de produção.
Quanto aos preços em 2021, as expectativas atuais dos agentes do mercado de etanol hidratado – refletidas, de certa forma, nos contratos futuros negociados na B3 – são de que estes operem, na maior parte das vezes, acima de R$ 2.000,00/m³. “Somente em abril, maio, junho e julho, quando a pressão vendedora esperada é maior, os valores devem ficar apenas um pouco abaixo desse patamar. Na B3, o contrato Dezembro/21 chega a R$ 2.135,00/m³, superior ao de dezembro/2020, que foi de R$ 2.105,50/m³”, afirma o instituto.
É certo que as cotações do petróleo e derivados devem definir o “preço teto” para o etanol, e, nesse sentido, o cenário é positivo para a competitividade do biocombustível. Instituições financeiras e o mercado, de forma geral, trabalham com um cenário de preços médios para petróleo e derivados em 2021 superiores ao que vigoraram em 2020.
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Em relação à demanda de combustíveis, não se espera, em 2021, retração como a que ocorreu no segundo e terceiro trimestres de 2020, mesmo com recrudescimento da pandemia associada à covid-19. Não há mais espaço na atual conjuntura econômica nacional para implementar medidas emergenciais de ajuda financeira à população de baixa renda que permitam a sobrevivência, mesmo tendo vários setores da economia paralisados. Assim, restrições de mobilidade como as vistas em 2020 não devem ocorrer.
“Considerando-se que não haja queda significativa da demanda em 2021 e um mix de produção favorável ao açúcar, com estagnação ou queda do ATR, pode-se esperar que os preços de etanol se estabeleçam sempre em patamar muito próximo à paridade com o valor da gasolina”, conclui o CEPEA.