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Cana mais rentável toma lugar do boi

Elevado preço da terra em São Paulo torna inviável a exploração da pecuária de corte. Em seus cálculos, um hectare alugado tem lucro de 9,4%, enquanto a pecuária leiteira chega a 6% e a de corte, segundo a Scot Consultoria, 3% – considerando médias e não “tops” de produtividade.

“A rentabilidade da pecuária em São Paulo é baixa porque o preço da terra é muito alto”, explica Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Em média, um hectare no estado custa R$ 8,5 mil. Segundo Rosa, o movimento em direção à cana-de-açúcar ajuda a inflacionar os preços da terra.

Em novas fronteiras agrícolas, onde as áreas são mais baratas, a rentabilidade média da pecuária de corte fica em 6% para a produção de gado de corte. “Por outro lado, na cana-de-açúcar tem-se rentabilidade sem investir”, diz Rosa, referindo-se aos produtores que arrendaram terras.

O professor de Economia Agrícola da Faculdade de Economia e Administração (FEA/USP), Guilherme Silva Dias, não acredita que o criador tradicional de gado torne-se um plantador de cana-de-açúcar. “Será mais fácil o proprietário dessas áreas agrícolas vender suas terras para comprar outras em regiões mais adequadas para a exploração da pecuária de corte”, diz. Outra hipótese é de os pecuaristas arrendarem suas terras e passarem a viver da renda paga pelas usinas. “A receita do arrendamento passa a valer como a complementação de uma aposentadoria”, afirmou.

“À medida que as terras vão se valorizando por causa da pressão demográfica há uma exigência de atividades que gerem mais retorno financeiro”, explica José Vicente Ferraz, analista do Instituto FNP. Segundo ele, o movimento de migração é natural em função destas circunstâncias, mas se intensificou agora porque o agronegócio da cana-de-açúcar vive um bom momento. “Não vejo problemas em o estado estar perdendo espaço para pecuária”, diz Vicente.

Para Dias, a transformação por que passa São Paulo é uma evolução natural, que aconteceria de qualquer forma, mesmo se não tivesse ocorrido a euforia dos preços do açúcar e do álcool. Segundo ele, os pastos no estado já estavam em processo de degradação e a renda proporcionada pela pecuária de corte se mostrava insuficiente ao pecuarista, que vinha sendo levado a buscar outros meios de subsistência.

A regionalização das atividades agrícolas, como está ocorrendo com a cana-de-açúcar e com a pecuária, é uma tendência desejável, diz o professor. Isso ocorre em países europeus e nos Estados Unidos. “Produtos lácteos têm condições de viajar milhares de quilômetros e por isso, a produção se concentra no Norte dos Estados Unidos”. No Brasil, essa regionalização enfrenta uma pesada barreira tributária. “Atravessar fronteiras estaduais pode representar um custo adicional, o que estimulando os estados a serem autosuficientes em alguns produtos, de forma onerosa para a economia popular.

Problemas

Mas o avanço da cana-de-açúcar já deixa o governo reticente. Ghobril diz que é preocupante ter uma lavoura hegemônica porque se houver um ciclo financeiro ruim, compromete toda a economia do estado. “A diversificação é importante para o abastecimento da sociedade”, argumenta o secretário-adjunto.

Segundo Dias, as vantagens da expansão da cana-de-açúcar no estado são parcialmente neutralizadas pelos riscos que a monocultura representa. De acordo com ele, grandes extensões de uma mesma lavoura tornam-se vulneráveis à ação de pragas e doenças. Há ainda a questão climática. Na avaliação do professor da USP, a renda paulista pode ser abalada por uma seca prolongada, por exemplo.

Ponchio, por sua vez, diz que uma lavoura com quatro anos seguidos de cana-de-açúcar fica exaurida. “Quem vai investir na recuperação desta terra?”, indaga, ao afirmar que onde há usina perto, a plantação será “para sempre”, mas em lugares onde a cultura tem sido feita independente da instalação da agroindústria canavieira, este ciclo termina em breve.

O professor da USP também está preocupado com a expansão da cana-de-açúcar para regiões onde o regime de chuvas não é muito favorável, como o Alto Noroeste, onde se explora a fruticultura irrigada. Segundo ele, muitas destas lavouras de cana-de-açúcar poderão se tornar inviáveis.

O secretário adjunto argumenta que a redução nas pastagens, no entanto, não significa queda no rebanho paulista, pois o estado é campeão nacional em confinamento. Enquanto a área com pasto se reduziu em 5% desde 2000, o plantel paulista aumentou em 5,6% no mesmo período.

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