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Cana hidrolisada e seus segredos

A cana-de-açúcar tem sido amplamente usada para alimentação de bovinos, por ter, principalmente, duas características: alta produção por área, o que propicia baixo custo por tonelada produzida, e por ser considerada “um silo em pé”, pronta para consumo dos animais justamente na época seca do ano, quando há falta de forragens para pastoreio. Contudo, a cana tem um ponto desfavorável na dificuldade de ingestão e baixa digestibilidade. Isso ocorre porque a planta contém alto teor de lignina, elemento entrelaçado nas células que compõem as fibras dos vegetais e que impede a ação das bactérias do rúmen.

A lignina pode ser rompida por meio de ações físicas e químicas conhecidas como “hidrólise”. A hidrólise química modifica a estrutura fibrosa da cana de açúcar, favorecendo o melhor aproveitamento da fibra e elevando seu valor nutritivo em pelo menos 30%. Além de melhorar a digestibilidade, ela equilibra o pH ruminal evitando problemas de acidose nos ruminantes e também eleva a palatabilidade (gosto) da cana.

Com a hidrólise, a fermentação da cana picada é evitada, facilitando o consumo. Outra vantagem é o afastamento de moscas e abelhas. A hidrolisação pode ser feita com soda cáustica (NaOH) ou cal virgem micropulverizada (ou microprocessada). A soda tem como desvantagem o preço e os cuidados necessários para manuseio, por ser um produto corrosivo e que pode causar queimaduras. No uso da cal micropulverizada, alguns cuidados devem ser observados.

Em primeiro lugar, a cal deve ter laudo comprobatório de que está em acordo com os níveis de dioxina e nitrofuranos preconizados pelo Ministério da Agricultura. Recomenda-se para cada 100 quilos de cana preparar uma solução com 1 kg de cal micropulverizada diluída em 4 litros de água. É necessário agitar o líquido durante o processo de pulverização, porque a cal não se dilui totalmente na água.

A cana não deve ser fornecida aos animais logo depois da hidrólise. Ao usar soda, o produtor deve esperar 12 horas e, ao usar cal micropulverizada, o tempo de espera é de apenas 3 horas. Após a hidrólise, a cana pode ser armazenada por até 5 dias em local coberto, e também pode ser feita silagem ou fenação. A fenação da cana consiste em secá-la logo em seguida à hidrolisação –espalha-la ao sol, em local cimentado, por cerca de 8 horas, até os fragmentos ficarem secos e quebradiços – e conservá-la em sacos em local seco e arejado.

Outra opção de armazenamento é a ensilagem, que segue os mesmos critérios indicados para ensilagem de milho. Outro ponto importante está no tamanho das partículas de fibra, que devem ser menores que 6 milímetros para aumentar o contato do hidrolisante, portanto é necessário que as lâminas da picadeira sejam reguladas e a fiadas frequentemente. Deve-se lembrar que a hidrolisação não altera a composição bromatológica da cana, daí ser necessário melhorar seu teor proteico com a adição de ureia.

Para 100 quilos de cana de açúcar hidrolisada, devem ser usados 900 gramas de ureia e 100g de sulfato de amônio diluídos em 4 litros de água, regando a solução sobre a cana, no momento do trato dos animais. O produtor deve, ainda, fornecer concentrados de acordo com as exigências nutricionais de cada categoria animal. Não é fácil encontrar a cal microprocessada em lojas agropecuárias, e é necessário prestar atenção ao fato de que essa cal não é aquela usada em construção, que, aliás, pode trazer problemas para o gado.

Fonte: José Salvador Resende, engenheiro agrônomo do Plantão Técnico da Emater-MG. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (31) 3349-8140 e 3349-8030 e o e-mail atende@emater.mg.gov.br.

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