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Cana de São Paulo atravessa fronteiras e ganha mercado

O grupo Piasa, controlado por engarrafadores da Coca-Cola e um dos maiores produtores de açúcar do México, vai receber nos próximos dias uma encomenda que poderá mudar os rumos da companhia. A empresa importou material genético de cana-açúcar de São Paulo para elevar sua produção e já começa a planejar sua entrada em etanol.

O material genético foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. A negociação de variedades de cana mais produtivas pelo IAC para empresas nacionais e estrangeiras deve se tornar corriqueira. “Estamos vendendo tecnologia para empresas do Brasil e do exterior para que elas aumentem a produtividade em regiões propícias ao cultivo da cana”, disse ao Valor João de Almeida de Sampaio Filho, secretário de Agricultura do Estado.

Além do México, o IAC também negocia a exportação de material genético a países africanos, como Angola e Moçambique, que também têm interesse de elevar seus investimentos no setor sucroalcooleiro.

O Brasil é o ponto de partida para importação de material genético, uma vez que detém a expertise em produção de açúcar e álcool à base de cana.

Segundo Sergio Quintero, diretor do grupo Piasa, a empresa fechou convênio com o IAC por cinco anos e deverá firmar outros com esse mesmo objetivo com empresas de pesquisas e universidades brasileiras. “A produtividade da cana processada por nossas usinas gira em torno de 65 toneladas por hectare. Queremos aumentar a produtividade em 15% com essas novas variedades”, afirmou Quintero. No centro-sul do Brasil, a produtividade média gira em torno de 85 toneladas de cana por hectare. A produtividade obtida pela Piasa é verificada em algumas regiões do Nordeste.

O grupo Piasa tem duas usinas de açúcar, concentradas no Estado de Vera Cruz, e é um das maiores produtores de cana daquele país. “O México possui 57 usinas no total, mas cinco unidades vão fechar este ano”, afirmou Quintero. A companhia produz 400 mil toneladas de açúcar por ano, destinadas em boa parte para o mercado interno.

Para esta safra, a companhia pretende processar 3,5 milhões de toneladas, mas quer atingir no médio prazo 5 milhões de toneladas. O mercado de álcool está no radar da empresa, mas ainda está em fase de projeto. Segundo Quintero, além de material genético, o grupo também está importando equipamentos industriais da Dedini Indústria de Base, com sede em Piracicaba (SP), e também de outras companhias paulistas. “Importamos uma caldeira gigante porque queremos investir em co-geração de energia a partir da biomassa.”

No mercado interno, a venda de material genético de cana também está fortemente aquecido, sobretudo para a região Centro-Oeste do país. Usinas que estão se instalando no Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás e oeste da Bahia buscaram cana mais adequadas às suas regiões no IAC, afirmou Marcos Landell, coordenador do centro de cana-de-açúcar do instituto paulista.

No oeste baiano, o IAC firmou parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa de Desenvolvimento do Oeste Baiano (Fundação BA) para desenvolver variedades propícias para aquela região. Em cada Estado dessas novas fronteiras, o IAC mantém campos de experimentos para novas variedades de cana.

“O IAC fez um zoneamento dos ambientes de produção de cana para entender que tipo de variedade seria mais propícia para cada região”, afirmou Landell. Os estudos, segundo ele, começaram em 1994 e já começam a dar resultados práticos.

Em Goiás, variedades de cana já são plantadas pelo grupo sucroalcooleiro Jalles Machado. Em Tocantins, a agroindústria Rio Galhão também cultiva variedades desenvolvidas pelo IAC. “Somos procurados por vários grupos que avançam para regiões novas.”

Com 121 anos de história, o IAC também é um dos pioneiros em variedades de café. O secretário da Agricultura João Sampaio afirmou que todos os recursos obtidos com a venda de material genético de cana voltam para o instituto para fomentar novas pesquisas. Sampaio não revelou a receita do IAC com as vendas dessas variedades. “Temos um orçamento para este ano de R$ 11,5 milhões, o maior já recebido, para os diversos centros de pesquisas do Estado.”

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