Mercado

Cana-de-açúcar valoriza terras em até 49%

A expansão da cultura de cana-de-açúcar, motivada pela alta demanda pela produção de álcool, já se reflete na apreciação dos preços de terras.

Enquanto na média brasileira houve uma queda de 2% na cotação da terra em 2005 na comparação com 2004, em regiões no entorno das lavouras de cana, como na de Ribeirão Preto (SP), houve valorização de 49%. No sudeste baiano, também em terras agrícolas de cana, houve um crescimento de 45%, de acordo com dados do Instituto FNP.

“O mercado de terras em um raio de 50 km de proximidade com usinas de cana está num processo de forte valorização”, afirmou Pablo Paulino Lopes, analista do instituto. Por esse motivo, esse boom dos preços atinge inclusive áreas de citricultura no oeste paulista. “Todas as áreas de laranja são aptas à cultura de cana. Por isso, os usineiros tentam convencer os citricultores a vender as suas propriedades para que haja o plantio de cana. Isso pressiona os preços”, afirma Lopes.

Segundo dados do instituto, dos 30 municípios onde ocorreram as maiores altas de preços em 36 meses -até dezembro de 2005-, 14 estão em áreas de cultura de cana ou laranja. Para 2006, a tendência é a de manutenção em patamares elevados ou uma apreciação ainda maior dos preços de áreas dedicadas à atividade sucroalcoleira. A julgar pelo aquecimento desse mercado, a pressão sobre essas cotações deve continuar nos próximos anos. Projeta-se que a área de cana de açúcar crescerá 2,4 milhões de hectares. A estimativa é que a demanda por álcool leve à instalação de mais 80 usinas no país.

Crise da soja

Os percalços de outros setores do agronegócio em 2005 -queda de rentabilidade da agropecuária, redução da área plantada, aumento do endividamento os produtores, por exemplo- tiveram reflexos nos preços das terras. Com isso, houve uma retração no volume de negócios no Brasil.

Em 2005, os sojicultores enfrentaram uma crise do setor em decorrência da queda dos preços internacionais, aliada a uma supersafra mundial e à valorização do real diante do dólar, que apertou as margens de rentabilidade.

“A formação dos preços de terra no país é muito atrelada à cultura de soja. Dos 40 milhões de hectares cultivados, 20 milhões são vinculados à saca de soja. Quando a atividade vai mal, isso se reflete na cotação da terra”, afirma Lopes, analista do FNP.

Segundo o levantamento, a região Norte foi a que teve a maior valorização em 2005, com 67% de alta. Em segundo lugar, aparece a região Sudeste, com 49%. Quando a análise é feita na relação entre preço em reais por hectare, no entanto, é a região Sul que leva vantagem. No Sul do país, é encontrada a maior cotação entre as regiões brasileiras. No bimestre novembro/dezembro de 2005, esse valor foi de R$ 26.532 por hectare. No mesmo período, a região que registrou a cotação mais baixa foi a Norte, R$ 15 por hectare.

No caso do Norte do país, o destaque foi para o município de Santarém (PA). As áreas de pastagem nativa em várzea tiveram uma apreciação de 67%. De acordo com o FNP, isso ocorreu por dois motivos. Primeiramente, porque há uma procura elevada por áreas de reflorestamento na região. A outra razão para o crescimento expressivo é que as terras da região têm um preço mais baixo. “De fato, houve uma alta grande, mas não diria que esse é o “Eldorado” do momento”, avaliou o analista da FNP. Na sua avaliação, o “Eldorado” do mercado de terras está em São Paulo, sobretudo nos municípios paulistas de Araçatuba e de Ribeirão Preto, em terras que hoje ainda estão dedicadas à pecuária, mas que devem ceder espaço para a cana.

No acumulado de três anos até dezembro 2005, Sergipe foi o Estado que teve as terras mais valorizadas, com 110%. “Esse resultado indica que quem investiu em terras naquele Estado teve um lucro real anualizado de 23%”, diz relatório do FNP. Já nas chamadas “novas fronteiras agrícolas e de percuária”, no Acre e em Roraima, as valorização foram menores, 90%. Para analistas, isso significa que essas regiões estão perdendo a força no setor.

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