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Cana-de-açúcar quer ganhar espaço no sertão

O potencial agrícola do vale do submédio São Francisco, que cresceu na esteira da fruticultura irrigada, vem despertando o interesse do setor sucroalcooleiro. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar), Renato Cunha, o potencial da região com capacidade para receber até 120 mil hectares de cana. “As manchas de terra que podem receber a cultura da cana se espelham por pelo menos 15 municípios. Vamos apresentar o projeto de viabilização da cana no Sertão ao novo governo que assume em janeiro. Se um dos pilares do governo do PT é a geração de empregos, o potencial da agroindústria canavieira na região do semi-árido nordestino é de 50 mil postos de trabalho”, diz Cunha. Atualmente apenas uma única usina está implantada na região do semi-árido. A Agrovale registra uma produtividade média bem acima das regiões litorâneas, onde a cana é tradicionalmente plantada em todo o Nordeste.

Segundo Cunha, o projeto ainda está em fase embrionária mas já existem uma série de estudos elaborados pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) que apontam que pelo menos 15 municípios possuem potencial para a cultura. Os municípios estão localizados nos estados de Pernambuco, Bahia e Ceará. A cidade pernambucana de Ouricuri, localizada a 678 quilômetros do Recife, é apontada como a detentora da mancha de solo mais adequada – latosolos e podezólicos – para receber este tipo de cultivo além de possuir a maior área, com cerca de 46 mil hectares.

“Estas áreas espalhadas pelos três estados possuem um potencial altíssimo para o cultivo da cana. Levando água através de canais de irrigação para estes locais não há como não levar o cultivo da cana para estes municípios”, afirma Cunha. As técnicas indicadas são a inundação por janelas ou pivô central.

O problema maior está justamente neste ponto. Para viabilizar o projeto seriam necessários a construção de cerca de 1,5 mil quilômetros de canais destinados a levar as águas do rio São Francisco até as áreas cultiváveis. De acordo com Cunha, é necessário viabilizar a infra-estrutura para que a iniciativa privada venha em seguida.

“Em médio prazo podem se instalar até sete usinas ou destilarias de álcool na região. Pode-se agregar até 7 milhões de toneladas de canas à produção pernambucana que hoje é de 16 milhões de toneladas. Este volume novo é suficiente para produzir até 500 milhões de litros de álcool”, diz o presidente do Sindaçúcar. Este volume deverá ser produzido entre os meses abril a novembro, época de entressafra no litoral nordestino. Uma outra vantagem apontada por cunha está na produtividade média por hectare. Enquanto no litoral a produção é de cerca de 53 toneladas por hectare, no semi-árido este volume chega até a 100 toneladas por hectare. No Sul do País, o volume é de 85 toneladas por hectare.

Agrovale é pioneira no cultivo de cana no sertão

Há 23 anos atrás o vale do submédio São Francisco começava a chamar a atenção para seu potencial junto a agricultura irrigada. Nesta época, poucos podiam imaginar em plantar cana-de-açúcar em meio à caatinga do semi-árido nordestino. Implantada no município de Juazeiro (BA), a 500 quilômetros de Salvador, a Agrovale, pertencente à holding alagoana Control Administração e Participação Ltda e à pernambucana Mecanal, possui atualmente 14,7 mil hectares plantados e deverá produzir nesta safra 2,8 milhões de sacos de açúcar e 26 milhões de litros de álcool.

“Esperamos colher 1,3 milhão de toneladas nesta safra, 12,5% mais que no ano passado. A próxima safra deverá ser ainda maior”, diz o diretor superintendente da Agrovale, Carlos Gilberto Farias. A empresa está investindo R$ 6,5 milhões na implantação de outros mil hectares de cana destinados a ampliar a produção.

A ampliação da área plantada é explicada pelos bons resultados obtidos pela empresa. A produtividade média registrada pela Agrovale é de 103 toneladas. Em algumas áreas isoladas este volume chega a 210 toneladas por hectare. Nas zonas litorâneas este índice é de 53 toneladas por hectare. No Centro-Sul o volume médio registrado é de 85 toneladas por hectare, segundo o Sindaçúcar.

O alto custo da implantação de um hectare de cana na região do semi-árido é justificada pela necessidade da aquisição de equipamentos de irrigação. O custo está situado entre R$ 5,5 mil e R$ 6 mil. Na Zona da Mata nordestina este valor cai para cerca de R$ 2,5 mil. “Mas aqui temos uma produtividade maior. Além disso a longevidade da cana também é superior, chegando a sete cortes contra um máximo de cinco cortes no litoral”, diz Farias. Toda a área de plantio da Agrovale é ocupada por sistemas de irrigação. Os mecanismos utilizados são o pivô central e sulcos de infiltração.

Farias diz que vê com bons olhos a possibilidade da entrada de novos players do setor sucroalcooleiro na região do semi-árido nordestino. “Somos favoráveis a esta movimentação. É algo natural e saudável. A concorrência não será diretamente conosco. Estas empresa que hoje estão no litoral continuarão com suas exportações, até porque muitas delas possuem terminais ferroviários em suas áreas ou nas proximidades. Com a viabilização da ferrovia Transnordestina esta carga deverá seguir para os portos de Pernambuco e então ser exportada. Nosso projeto é exitoso e gera efeito multiplicador. Além disso o potencial de empregos para uma região extremamente carente, como o semi-árido, é enorme”, diz o executivo. A empresa emprega diretamente 3,6 mil funcionários.

A Agrovale espera faturar este ano cerca de R$ 90 milhões. No exercício passado este valor foi de R$ 63 milhões. A Agrovale também atua na área de fruticultura irrigada – uvas e mangas – através de sua coligada Mandacaru Comercial. Esta área deverá faturar este ano cerca de R$ 14 milhões.

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