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Câmbio segue pressionado e dólar vai a R$ 3,53

A escalada do dólar continuou ontem, num dia em que a moeda americana emplacou a quinta alta seguida, fechando em R$ 3,53, com valorização de 0,43%. O câmbio oscilou muito, entre a mínima de R$ 3,46 e a máxima de R$ 3,54, e ficou mais pressionado à tarde, depois do pronunciamento do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, afirmando que o país se reserva o direito de tomar qualquer medida que considerar necessária contra o Iraque. O dólar subiu 6,65% nos últimos cinco dias e, com isso, atingiu a mesma cotação registrada em 2 de janeiro. A queda no ano encolheu para apenas 0,28%.

Pela manhã, o mercado de câmbio teve um desempenho positivo. Segundo operadores, vendas pesadas do Citibank, que estaria trazendo para o País os US$ 250 milhões captados pela Telefônica, levaram o dólar a ser negociado a R$ 3,46. Além disso, a expectativa de que o governo consiga um acordo para eleger sem grandes problemas João Paulo Cunha (PT-SP) para a presidência da Câmara e José Sarney (PMDB-AP) para a do Senado também animou o mercado. E, como o dólar havia subido 6,19% em quatro dias, alguns investidores aproveitaram para vender a moeda e embolsar os ganhos recentes. A notícia de que o Banco do Brasil captou US$ 100 milhões no mercado europeu também deu alento para os investidores.

À tarde, no entanto, as declarações de Powell, que confirmaram a disposição dos EUA de atacarem o Iraque, acabaram pressionando o câmbio, que atingiu a máxima de R$ 3,54. O analista Hélio Ozaki, da corretora Finambrás, disse que, num momento de tanta incerteza em relação ao cenário externo, muitos investidores tendem a buscar refúgio na segurança do dólar. Ele ressaltou ainda que houve manobras especulativas. Segundo ele, o fato de o mercado brasileiro movimentar volumes pouco expressivos de recursos abre espaço para especulação.

Nesse cenário, algumas tesourarias de bancos, que se animaram com a entrada de recursos pela manhã e apostaram na queda das cotações, tiveram de correr às compras quando o humor do mercado se inverteu, depois das declarações de Powell. Para Ozaki, as palavras do secretário de Estado americano são preocupantes, mas também foram usadas como pretexto por investidores interessados na alta do dólar. Segundo operadores, a questão agora é saber se a moeda vai romper o suporte de R$ 3,50. “Essa parece ser uma referência importante para o câmbio no momento”, afirmou o diretor de um banco estrangeiro.

Analistas lembraram ainda que quem traz recursos para o País costuma proteger-se contra a oscilação do dólar no mercado futuro, o que anula o efeito da venda da moeda no mercado à vista. Isso teria ocorrido ontem com o dinheiro da Telefônica.

Para o estrategista-chefe do HSBC Investment Bank, Dawber Gontijo, a virada do humor do mercado ocorreu principalmente devido à expectativa crescente de um conflito no Oriente Médio, que pode, além de pressionar os preços do petróleo, afetar o fluxo de recursos para mercados emergentes como o Brasil.

Gontijo entende que o dólar estava caindo rápido demais, e que um câmbio entre R$ 3,20 e R$ 3,30 talvez não fosse o nível mais prudente para manter o processo de ajuste das contas externas. Aliás, os números do setor externo de dezembro, divulgados ontem, agradaram aos investidores, mas não foram suficientes, assim como a notícia sobre a captação do Banco do Brasil, para reverter mais uma alta do dólar.

O mercado de títulos da dívida externa, por sua vez, teve um dia positivo. O bom desempenho das bolsas americanas no fim do pregão contribuiu para a alta dos papéis. O C-Bond subiu 1,39%, cotado a 68,438% do valor de face. O risco país, calculado com base em cesta de títulos da dívida, recuou 0,64%, para 1.389 pontos. (Estado de S. Paulo)

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