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Câmbio fecha janela para as importações de etanol americano pelo Brasil

Câmbio fecha janela para as importações de etanol americano pelo Brasil

A guinada do dólar frente ao real, ocorrida nas últimas duas semanas, fechou a “janela” de importação de etanol de milho pelo Brasil, para alívio, ao menos por enquanto, das usinas do Nordeste do país. Todos os anos, elas reclamam da entrada de biocombustível importado nos primeiros meses do ano, quando a safra nordestina de cana-de-açúcar ainda está acontecendo. Em janeiro, quando o câmbio ainda era favorável à importação, houve o desembarque de um volume recorde de etanol para o mês no Nordeste.

A queda nas cotações do milho nas bolsas internacionais – efeito de uma grande colheita do grão nos EUA – respingou nos preços do etanol americano, produzido a partir do cereal. Com isso, o galão de 3,785 litros do biocombustível, que já chegou ao patamar de US$ 2 na bolsa de Chicago, desceu a US$ 1,30 entre o fim do ano passado e o início deste ano. Atualmente, está no patamar de US$ 1,40.

Por outro lado, o etanol no Brasil vem se valorizando nos últimos meses na usina, reflexo de um maior consumo doméstico e na esteira da valorização dos preços da gasolina. Desde meados de dezembro, o indicador Cepea/Esalq para o anidro subiu 8,4%, para R$ 1,5067 o litro.

Nesse cenário, entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015, o etanol de milho americano chegava aos portos brasileiros valendo de 9% a 10% menos que o biocombustível nacional. Mas com a alta do dólar – que saiu do patamar de R$ 2,60 em janeiro para níveis superiores a R$ 2,80 em fevereiro – essa relação se inverteu de forma que o etanol de milho dos EUA entraria no Brasil a preço de 7% a 10% mais elevado que o biocombustível local, segundo cálculos da consultoria FCStone.

Entretanto, até o fechamento dessa “janela” de importação muitos negócios já haviam sido realizados com margens de lucro atrativas. Conforme tradings, já há contratos firmados de importação de cerca de 600 milhões de litros de etanol de milho, sendo que 420 milhões devem entrar entre abril e agosto no Norte e Nordeste. Parte desse volume já está no país desde janeiro. Foram 81 milhões de litros para todo o Brasil, sendo 59 milhões de litros pelos portos de Manaus (AM) e São Luís (MA), este último porta de entrada para o mercado nordestino, diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Cana-de-Açúcar do Pernambuco (Sindaçúcar), Renato Cunha.

corn_ethanolplant_reuters_rick-wilkingPara o mês de fevereiro, a previsão do mercado é de que sejam internalizados mais 61 milhões de litros, sendo 21 milhões de litros pelos portos do Norte e Nordeste. “Essas importações são descabidas e estão causando um colapso no mercado nordestino”, reclama Cunha.

Normalmente, o Nordeste produz por ano metade da demanda de etanol do próprio mercado e do Norte do país. Neste ciclo 2014/15, por exemplo, serão 2,36 bilhões de litros – sendo 1,46 bilhão de litros de anidro, que é misturado à gasolina, e 900 milhões de litros de hidratado – para uma demanda estimada de 3,6 bilhões de litros.

A diferença de 1 bilhão de litros deveria entrar durante a entressafra nordestina, a partir de abril, defende Cunha. Normalmente, o produto vem da região Centro-Sul do país – de Goiás e Mato Grosso – e, eventualmente do exterior. “Mas o que acontece é que há alguns anos os grupos do Sul do país estão despejando etanol no nosso quintal durante o período de moagem”, diz.

Desde meados de janeiro deste ano, os preços do etanol no mercado nordestino subiram, refletindo a maior tributação na gasolina. O indicador semanal Cepea/Esalq para o anidro em Pernambuco subiu 4,73% entre 16 de janeiro e 6 de fevereiro, último dado disponível. Mas Cunha defende que a entrada de produto importado nesta época do ano limita o aumento da remuneração do produto às usinas. “O nosso receio é que a valorização do etanol, decorrente da volta da Cide na gasolina e do aumento do percentual de mistura de anidro, seja anulada por causa das importações”, afirma. Ele defende que esse tipo de operação passe a depender de licença da Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Embora seja a lei de mercado – tradings importarem etanol quando há margem de lucro -, as usinas do Nordeste têm razão em reclamar da entrada de produto americano durante a safra, avalia o diretor da comercializadora de etanol Bioagência, Tarcilo Rodrigues. “É como se houvesse uma espada na cabeça o tempo todo”, compara Rodrigues.

(Fonte: Valor Econômico)

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