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Cafta pode ajudar Brasil a exportar açúcar

O setor de açúcar brasileiro pode ser um dos principais beneficiados com a aprovação do acordo DR-Cafta (sigla em inglês para acordo de livre comércio entre a República Dominicana, a América Central e os EUA).

O incremento do acesso das exportações brasileiras para o mercado norte-americano seria um efeito indireto, argumenta o instituto americano de estudos sobre agricultura IATP, da desestruturação do regime açucareiro em vigor nos Estados Unidos.

“O Brasil é que teria a maior fatia [do mercado americano]. Há um sentimento geral de que ninguém conseguirá competir com o preço brasileiro”, avaliou Dennis Olson, especialista do IATP.

Segundo o instituto, o Brasil é o único país cujo preço por libra de açúcar está abaixo da média do mercado: US$ 0,08. Os países desenvolvidos têm uma média de US$ 0,38. Entre os países em desenvolvimento, o que mais se aproxima do preço brasileiro é a Tailândia, com US$ 0,13 por libra.

Atualmente, o governo americano paga cerca de US$ 0,20 por libra de açúcar para produtores americanos. O valor é praticamente o dobro do preço de mercado. A manutenção do pagamento desses valores pelos EUA é possível, principalmente, pelo regime de cotas de importação em vigor naquele país. Hoje, os produtores de açúcar, entre eles Brasil e Tailândia por exemplo, têm que se contentar com cotas de exportação equivalentes a 13% do açúcar consumido pelos americanos. No primeiro semestre deste ano, o Brasil exportou US$ 1 bilhão de açúcar bruto. Em junho, foram US$ 246 milhões.

Os EUA não figuram entre os principais mercados para o produto. Não por acaso. O açúcar é um dos produtos mais protegidos do comércio exterior americano. A commodity está numa lista com mais de cem outros produtos cujas tarifas “ad valorem” (sobre o valor) estão acima de 30%.

Mas, na avaliação do IATP, se o DR-Cafta for implementado, esse quadro pode mudar, ainda que gradualmente. Com um acordo de livre comércio, o sistema de cotas que serve para controlar a oferta do produto no mercado doméstico americano deve ser desarticulado. Com isso, os preços que são mantidos artificialmente altos, sustentando a produção americana, tenderão a cair. Olson, no entanto, argumenta que o fim desse sistema não será, necessariamente, uma boa notícia para todos os países exportadores da commodity. “Na superfície, o colapso da indústria de açúcar nos EUA pode parecer uma boa notícia. Mas [o mercado dos EUA] não vai ser dividido igualmente entre os países em desenvolvimento”, diz o analista.

Oposição americana

As projeções do instituto mostram que, com a adoção do acordo de livre comércio entre EUA e América Central, em 15 anos, as importações americanas cresceriam mais de 2,5 milhões de toneladas, causando uma forte queda nos preços praticados pelos EUA.

Isaac Cohen, ex-diretor da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), entretanto, contemporiza o temor do poderoso lobby do açúcar nos EUA de ver uma invasão de açúcar importado, sobretudo do Brasil, nas prateleiras dos mercados americanos. “Todos têm medo do Brasil, que é um dos mais eficientes produtores de açúcar do mundo. Mas não acredito que o sistema de cotas dos EUA vá desaparecer totalmente”, disse Cohen à Folha.

A argumentação do USTR, órgão responsável pelas negociações comerciais dos EUA, também tenta conter a oposição dos produtores. Segundo o USTR, com a entrada em vigor do DR-Cafta, o aumento de açúcar importado seria de “apenas uma colher e meia de chá por semana per capita”. Mas a ASA (associação de produtores americanos de açúcar) afirma que “votar no DR-Cafta é o mesmo que votar no envio de 146 mil produtores de açúcar e trabalhadores para a fila do desemprego”.

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