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Cachaça dá impulso a 11 municípios

Governo incentiva produção artesanal para desenvolvimento sustentável; produtores formam cooperativa. O sudeste do Tocantins se prepara para entrar no seleto grupo dos produtores de cachaça de alambique. Com esse objetivo, foi criada no último final de semana a Cooperativa dos Produtores de Cachaça de Alambique (Coopercachaça), uma entidade que nasce com 27 sócios-fundadores, um grupo que há um ano e três meses participa do esforço para organizar o setor. O arranjo da cadeia produtiva da cachaça é uma das ações do Prosudeste, um programa do governo estadual executado pelo Sebrae, criado para promover o desenvolvimento sustentável de 11 municípios da região.

A produção de cachaça de alambique possui maior concentração em Combinado; a mais famosa é a cachaça dos Azuis, produzida de forma totalmente rudimentar às margens de um dos menores ribeirões do mundo, o Azuis, com menos de 200 metros. Embora não exista confirmação histórica, estima-se que alguns desses alambiques possuem pelo menos 150 anos e foram movidos pela força de escravos levados pelos bandeirantes para explorar ouro para a Coroa Portuguesa. A cidade de Taguatinga foi escolhida pelos cooperados para sediar a Coopercachaça. O prefeito Paulo Roberto (PSDB) doou um terreno com um galpão, que será reformado e adaptado para atender as necessidades da cooperativa.

A superintendente estadual da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB/TO), Maria José Oliveira, disse que a entidade agora vai ministrar cursos especiais para dirigentes, conselheiros e também de gestão. “Vamos oferecer todos os elementos necessários para a boa prática do cooperativismo”, enfatizou. Durante o período que antecedeu a criação da cooperativa, a OCB ministrou vários cursos de capacitação voltados para a produção e o cooperativismo.

Entusiasmada com os resultados do projeto, a diretora Técnica do Sebrae, Lina Maria Cavalcante, destaca que a cooperativa só foi criada depois que os produtores demonstraram maturidade para dar mais esse passo. Segundo Lina Maria, o grupo que fundou a entidade participou de todas as etapas do programa, que começou com palestras de sensibilização, vários cursos de capacitação e um grande seminário que reuniu cerca de 200 pessoas.

Diagnóstico

O Sebrae contratou diversas consultorias e cada alambique foi visitado para um diagnóstico minucioso. Hoje cada produtor sabe o que precisa, para produzir em conformidade com o padrão de qualidade exigido para a certificação junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Com todo o arranjo produtivo mapeado, a cooperativa e o Sebrae partem agora para a busca de novas parcerias, como bancos, para financiar a produção; os órgãos ambientais para definir questões como reserva legal e documentação da terra uma vez que alguns só possuem registro paro-quial. “Para cada item pendente vamos buscar o parceiro correto”, acrescenta Lina Maria.

Agora que o projeto está consolidado, explica Lina Maria, será contratada uma consultoria especializada que vai criar o conceito de identidade da cachaça do sudeste. Esse plano envolve a criação de uma marca, do rótulo, do marketing de divulgação e comercialização e, sobretudo, o padrão de qualidade do produto. O Sebrae contratou uma consultoria especia-lizada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para analisar as características físico-químicas da cachaça tocantinense, e está aguardando a emissão do laudo para dar os próximos passos. Segundo Lina Maria, cada produtor tem ciência do que precisa para atingir um padrão de qualidade mínima.

O presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça de Alambique (IBCA), Eduardo Campelo, considera que a organização que acaba de ser instituída, aliada à tradição, pode tornar o sudeste em um importante pólo produtor de aguardente. Campelo, que atuou como consultor no projeto, diz que os produtores são carentes de tecnologia e apoio governamental para resolver questões ambientais. Depois disso, montar a linha de produção nas pequenas fábricas é uma questão de tempo, analisa.

Atualmente a região produz em média 800 mil litros/ano que mal dá para atender a demanda local. Campelo acredita que se a cooperativa ficar no comando do processo de produção e comercialização, dentro de cinco anos é possível prever um volume de dois milhões de litros/ano. Além de atender o próprio sudeste, Campelo considera que é possível avançar para Palmas e norte do estado, hoje atendidos pelo Maranhão, São Paulo e Pernambuco. Ele acredita que é possível pensar inclusive em mercados dos Estados Unidos e da Europa, mas para isso questões ambientais e trabalhistas precisam ser resolvidas.

Equilíbrio

Os produtores estão cientes de que é preciso dar um passo de cada vez para atingir o padrão de qualidade que caracterize seu produto. Elementos como a presença do cobre, acidez e teor alcoólico, perceptíveis ao consumidor, precisam estar em equilíbrio, ensina Campelo. “O ideal é que não haja muita variação entre uma cachaça e outra”, acrescenta. O controle da qualidade pode ser feito pelo próprio motorista do caminhão que fará o transporte do produto dos alambiques até à cooperativa.”

Cada cooperado recebeu um manual de produção e sabe como fazer o controle para garantir a qualidade. Campelo afirma que a cachaça do sudeste tem um sabor peculiar, que ele atribui a uma combinação de clima, temperatura e solo contrariando o processo de produção, que é quase todo rústico. Por causa dessa característica, acredita que é possível fazer um bom produto, que será agregado a valores culturais que possam distinguir essa cachaça como um produto genuinamente tocantinense.

Propostas de nome como Azuis e Serra Geral e a utilização do capim dourado na confecção da embalagem já começam a circular no meio dos envolvidos com o projeto. A estrada para assegurar a sustentabilidade da cachaça de alambique no Tocantins é longa, diz Lina Maria Cavalcante, mas cada passo está sendo dado de uma única vez. Essa firmeza faz o grupo sonhar com a escola de alambiqueiros.

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