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Bush pedirá que Lula convença países em desenvolvimento sobre Doha

O cerne do encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano George W. Bush, hoje, em Camp David, será uma “sessão estratégica” para destravar as negociações da Rodada Doha. Segundo o diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos, Dan Fisk, a rodada multilateral de comércio está no topo da agenda dos dois líderes, que pretendem “revigorar” a negociação. “A discussão trará implicações muito reais para os negociadores”, disse Fisk ontem.

A viagem de Lula aos EUA representa a retomada das negociações iniciadas em 9 de março, com a visita de Bush ao Brasil. Na ocasião foi firmado entendimento de insistir na negociação da Rodada Doha, de desenvolver cooperação para produção de biocombustíveis e de promover ações pró-democracia em países africanos.

Bush conta com algum tipo de avanço sobre Doha no encontro com o presidente Lula para convencer o Congresso americano a renovar o chamado fast track – mecanismo que permite ao Executivo negociar acordos comerciais sem que os tratados sofram emendas do Legislativo. E conta com a liderança do Brasil para conseguir concessões de países em desenvolvimento em relação a abertura de mercado agrícola, no caso da Índia e outros países protecionistas, e industrial. “O Brasil traz grande credibilidade a esse processo, os dois países têm relacionamentos bem-sucedidos com outros países e, assim, um papel a cumprir”, disse Fisk.

O segundo item de discussão da agenda será a cooperação na área de biocombustíveis entre dois presidentes devem anunciar a lista dos quatro países da América Central e Caribe que participarão do projeto piloto de promoção de combustíveis alternativos. O Haiti será um deles. Desde a assinatura do memorando de entendimento na visita de Bush ao Brasil, foi criado um comitê de direcionamento da cooperação que está se reportando aos presidentes. Haverá US$ 9,2 milhões para pesquisas de viabilidade de produção de etanol, transferência de tecnologia e implementação de usinas. Os recursos serão rateados entre Brasil, EUA, Banco Interamericano de Desenvolvimento e Fundação das Nações Unidas.

O terceiro tópico da discussão em Camp David será a ampliação das relações econômicas entre Brasil e EUA. Os dois países já assinaram um acordo para compartilhamento de informações tributárias. Agora, segundo Fisk, caminham para negociar um acordo de eliminação de bitributação.

O último tópico abrange questões regionais, como Haiti, e mundiais, como colaboração na África. Fisk afirmou que os dois presidentes não irão discutir um prazo para retirada das tropas brasileiras do Haiti, mas vão abordar formas de melhorar a atuação no país. Em relação à África, os países assinaram um acordo de cooperação para apoio ao corpo legislativo de Guiné-Bissau, com US$ 200 mil de recursos dos EUA, e devem discutir iniciativas contra a malária no continente.

HOSPEDAGEM

Lula iria dormir de ontem para hoje na Blair House, setor de Camp David que abriga chefes-de-Estado e suas delegações convidadas pelo presidente dos Estados Unidos. O presidente brasileiro vai se reunir com Bush por cerca de duas horas, acompanhado do ministro Celso Amorim e de Marco Aurélio Garcia, e depois os dois líderes conversam com jornalistas. Às 18h, Bush e Lula vão jantar na casa de campo, no horário típico americano. Depois disso, Lula volta a Brasília.

Lula será o primeiro líder latino-americano a ser recebido por Bush em Camp David. Antes dele, só o ex-presidente do México, Carlos Salinas de Gortari, foi recebido na residência de campo da Presidência dos Estados Unidos, para uma visita de trabalho, em 1991. O ex-presidente Bill Clinton recebeu Fernando Henrique Cardoso no local em 1998, mas, segundo Dan Fisk, tratou-se de uma visita social , e não de trabalho.

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