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Bush mira AL para defender sua política externa

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, prometeu ontem reforçar o orçamento dos programas de assistência voltados para o combate à pobreza na América Latina, numa tentativa de ofuscar os ataques que sua política externa tem sofrido na véspera de iniciar uma viagem de oito dias para o Brasil e outros quatro países da região#.

Bush anunciou que médicos da Marinha americana irão nos próximos meses a vários países da vizinhança oferecer tratamento médico e treinamento, disse que gastará US$ 75 milhões nos próximos três anos para ajudar milhares de jovens da região a aprender inglês e prometeu novos programas para financiar a construção de casas e a abertura de pequenos negócios.

“Numa era de prosperidade crescente e abundância, é um escândalo e um desafio o fato de que dezenas de milhões de nossos irmãos e irmãs no Sul tenham visto pouca melhora em suas vidas”, disse Bush ontem, em discurso para uma platéia formada por autoridades e membros da Câmara de Comércio Hispânica, que representa empresas americanas e estrangeiras com negócios na região.

Para Bush, ajudar a América Latina é uma forma de defender os interesse americanos. “Quando nossos vizinhos são prósperos e pacíficos, isso significa melhores oportunidades e mais segurança para nosso povo”, disse. “Quando há empregos na vizinhança, as pessoas podem achar trabalho em casa e não precisam mais migrar para o nosso país.”

Depois de passar a maior parte do seu governo ocupado com as guerras no Iraque e no Afeganistão e a dois anos do final de seu mandato, Bush decidiu fazer um esforço para se reaproximar da América Latina. Ele está preocupado com o aumento do sentimento antiamericano na região e a ascensão de líderes de esquerda radicais como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Bush chega na quinta-feira ao Brasil, a primeira escala da viagem. Ele se reunirá por algumas horas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira e depois seguirá para o Uruguai. Bush irá ainda à Colômbia, à Guatemala e ao México. A última vez que Bush visitou a América Latina foi no fim de 2005.

Sua agenda inclui vários encontros com comunidades carentes. Em São Paulo, ele visitará o grupo Meninos do Morumbi, que dá aulas de música a crianças e adolescentes de bairros pobres da região metropolitana. Bush também encontrará agricultores na Colômbia e uma cooperativa agrícola na Guatemala.

A ajuda americana para a América Latina sofreu cortes freqüentes nos últimos tempos. O orçamento do Departamento de Estado para este ano prevê US$ 1,47 bilhão, US$ 70 milhões a menos do que no ano passado. Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti e Peru receberão mais de dois terços do dinheiro, que financia principalmente programas de combate ao tráfico de drogas.

Ao usar seu discurso ontem para dar ênfase aos programas de assistência à região, um tipo de ajuda que é crucial para países como a Colômbia, mas tem pouquíssima importância para o Brasil, Bush deixou de lado outras questões que serão discutidas durante a viagem, como a parceria que será anunciada com o Brasil para promover o consumo e a produção de combustíveis alternativos como o etanol.

Também ficaram em segundo plano questões espinhosas que prejudicam o relacionamento dos EUA com a região, como as dificuldades que Bush tem encontrado para convencer o Congresso a aprovar os acordos comerciais assinados recentemente com a Colômbia e o Peru, que podem ampliar significativamente as exportações desses países para o mercado americano.

“A visita do presidente é muito positiva para demonstrar que os EUA querem um compromisso maior com a América Latina, mas será preciso mais que isso para convencer as pessoas”, disse Peter De Shazo, ex-funcionário do Departamento de Estado que dirige um programa de pesquisas sobre a região no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês).

Para os especialistas, é perda de tempo esperar que a viagem de Bush produza novidades em áreas sensíveis como comércio, apesar da pressão brasileira contra as barreiras impostas às importações de etanol ou do interesse do Uruguai em negociar um acordo comercial com os EUA. “Não vai sair muita coisa por aí”, afirmou Grant Aldonas, ex-subsecretário de Comércio para assuntos internacionais.

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