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Bush a procura de um amigo

Na quinta-feira 8, quando George W. Bush descer as escadas do Air Force One, em São Paulo, o Brasil receberá um presidente que necessita desesperadamente de um amigo. Mais ou menos como na canção do músico James Taylor, chamada You´ve got a friend, que fez muito sucesso nos anos 80. A balada falava de noites sombrias e de um tempo em que nada parece dar certo, quando o único consolo é a amizade. Os primeiros seis anos de Bush foram assim. A guerra contra o terrorismo fracassou, a popularidade do chefe da Casa Branca anda no chão e a sua capacidade de influir na sucessão presidencial americana é mínima. Bush, no entanto, tem mais 100 semanas de poder pela frente. E quer a salvar o seu mandato. A palavra mágica para isso é etanol. E o amigo ideal parece ser o Brasil. Antes mesmo da vinda ao País, Bush espalhou a idéia de que pretende criar uma “Opep do etanol”, num paralelo com a Organização dos Países Produtores de Petróleo. Um dos homens-chave por trás dessa estratégia é seu irmão Jeb Bush, que criou a Comissão Interamericana do Etanol, junto com o ex-ministro Roberto Rodrigues, e com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Luís Alberto Moreno. Jeb, que acaba de deixar o governo da Flórida, tem dito que o etanol será o novo fator de integração das Américas. E fala em investimentos de US$ 100 bilhões para criar um mercado continental. “É uma oportunidade que o Brasil não pode desperdiçar”, aponta Paulo Skaf, presidente da Fiesp, a federação dos industriais paulistas.

Oficialmente, Bush fala em substituir 20% da gasolina consumida nos Estados Unidos por combustíveis alternativos dentro de dez anos e a alternativa tecnológica já desenvolvida e mais barata é o álcool anidro brasileiro, derivado da cana-de-açúcar. Seu custo de produção representa menos da metade do etanol que é feito à base de milho, no meio-oeste americano. Além disso, a perspectiva de expansão é gigantesca. O Brasil produz 17 bilhões de litros e mais de 100 novas usinas estão sendo construídas. Estima-se que, até 2012, a produção será próxima a 30 bilhões de litros. A questão é que, 20% do consumo norte-americano, corresponderia a um volume da ordem dos 100 bilhões de litros. “A cana vai puxar o crescimento brasileiro nos próximos anos”, entusiasma-se Luiz Hafers, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira. Pelas suas contas, cada nova usina gera cerca de 2 mil novos empregos, entre diretos e indiretos. Roberto Rodrigues, que participa da Comissão Interamericana do Etanol, vai além. “A oportunidade para o Brasil não é só o álcool”, diz ele. ” É também o equipamento, a usina, a tecnologia do carro flex e assim por diante”.

O entusiasmo dos empresários ligados ao setor sucro-alcooleiro é justificado. Mas para que a visita de Bush se transforme numa oportunidade concreta é preciso antes superar alguns obstáculos. O presidente Lula, que vem a São Paulo encontrar o chefe da Casa Branca, já deixou claro que irá propor o fim da sobretaxa americana ao etanol brasileiro, que é de R$ 0,30 por litro. E já há um projeto de lei sendo preparado no Congresso americano pelo senador republicano Richard Lugar nesse sentido. Além disso, estuda-se a criação de uma cota, com incentivos, para o etanol que viria de vários países da América Central. É aí que entra um outro problema. Até agora, Jeb Bush tem sugerido que o Brasil transfira seu know-how e sua tecnologia a países do Caribe, que exportariam livremente para os Estados Unidos. “Não há como fazer uma parceria sem saber exatamente como o Brasil poderá lucrar, e não outros países”, aponta João de Almeida Sampaio Filho, secretário de Agricultura do governo José Serra. “E também não há possibilidade de acordo que não passe por São Paulo, que é o carro-chefe do etanol no Brasil”.

Para aparar essas e outras arestas, Jeb Bush virá ao Brasil em abril, logo depois da visita do irmão, para encontros empresariais. Aos poucos, ele começará a pavimentar o caminho para a disputa presidencial de 2012 nos Estados Unidos. O plano da família Bush é retornar ao poder com uma plataforma moderna e ambientalmente correta, depois do desastre ocorrido no Iraque. No entanto, ao mesmo tempo em que há interesses econômicos e políticos nessa ofensiva norte-americana, há também um outro fator por trás disso. Criar uma “Opep do etanol”, tendo o Brasil como um dos seus líderes, é uma forma de minar o poder e a influência de Hugo Chávez na América do Sul. Claramente, essa parece ser a estratégia traçada pelo novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, que tem se mostrado muito mais simpático do que seus antecessores – no Carnaval, por exemplo, ele se esbaldou na Marquês de Sapucaí. Além disso, se a idéia de integrar as Américas a partir do etanol der certo, isso exercerá um magnetismo profundo para que Cuba caminhe na direção de uma economia de mercado, após a morte de Fidel Castro. “Isso seria um sonho”, disse à DINHEIRO um dos aliados da família Bush que vem trabalhando há anos nessa empreitada.

US$ 100 bilhões é o volume de investimento estimado para a criação de um mercado regulador do etanol em todo o continente americano

17 bilhões de litros é a produção nacional hoje

100 novas usinas estão sendo feitas

20% é a meta de uso de etanol nos EUA

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