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Bunge vê luz no fim do túnel para a indústria de açúcar do Brasil

A indústria brasileira de açúcar está chegando a um ponto de virada, conforme a escassez mundial leva a preços mais estáveis, em um momento em que a depreciação do real reduz os custos de produção. A avaliação é da Bunge, empresa que possui oito usinas no país.

O Brasil, maior produtor do mundo, terá de aumentar a produção na próxima década para atender à crescente demanda, afirmou o diretor-executivo da empresa, Soren Schroder, na  Dubai Sugar Conference, um evento privado para 400 líderes dessa indústria. Os déficits de abastecimento global previstos para este ano e o próximo vão resultar na estabilização dos preços, disse ele.

Os contratos futuros de açúcar negociados em Nova York subiram 5% no ano passado, após quatro anos de declínio. Em 2015, o produto teve o terceiro melhor desempenho no índice Standard & Poor de 24 matérias-primas. A queda de mais de 30% do real está impulsionando os ganhos para os usineiros que vendem a mercadoria em dólar, além de reduzir os custos de um pico atingido em 2011, disse Schroder.

“Acreditamos que a moagem de cana-de-açúcar brasileira e também a indústria do etanol estão em um ponto de virada, que chegamos ao fundo”, afirmou o CEO da Bunge, que movimenta cerca de 6,5 milhões de toneladas por ano em sua divisão de açúcar e bioenergia. “Há luz no fim do túnel.”

Déficit no abastecimento 

Os estoques globais de açúcar ficarão abaixo da demanda em 5 milhões de toneladas na temporada iniciada em 1 de outubro, de acordo com a Bunge. Outro déficit de 2 milhões de toneladas é esperado para o ano seguinte. O Brasil terá de processar mais cana para atender a demanda de açúcar que a Bunge acredita que aumentará em 48 milhões de toneladas na próxima década, além do consumo doméstico de etanol – para o qual a empresa prevê um crescimento de 40%.

O contrato futuro do açúcar bruto caiu 14% este ano, para US$ 0,1314 por libra no pregão da ICE na sexta-feira.

O real desvalorizado diminuiu os custos das usinas em US$ 0,08 a US$ 0,10 por libra em relação ao pico de 2011 e fez o Brasil se tornar mais uma vez o produtor mais barato, disse Schroder. Com a crise política e econômica no Brasil, o real teve o segundo pior desempenho do ano passado em uma cesta de 24 moedas de mercados emergentes monitoradas pela Bloomberg.

“A combinação da moeda e maior eficiência coloca o Brasil de volta no mapa de uma forma muito sólida”, disse o executivo.

Fardo da dívida

Mesmo assim, o real depreciado significa que a dívida dos usineiros “atravessou o telhado”, já que mais de 50% dos empréstimos são tomados em dólares, continuou Schroder. Ele citou um estudo realizado em março de 2015, com 65 grupos no centro-sul (maior região produtora de açúcar do Brasil), mostrando que o endividamento líquido tinha aumentado 23% na comparação anual.

Vários anos de preços baixos e dificuldades financeiras fizeram 47 usinas fechar nos últimos três a quatro anos, o que reduziu a capacidade de processamento, disse ele. Enquanto o mercado global precisa que o Brasil atenda à demanda, o país provavelmente não será capaz de atrair investimentos para aumentar a capacidade de processamento de cana rápido o suficiente, disse o executivo.

A indústria de açúcar do Brasil vai precisar de preços mais estáveis ​​para atrair investimentos. A cotação tem de estar entre US$ 0,14 e US$ 0,16 por libra para criar um incentivo à expansão das usinas existentes, e acima dessa faixa para estimular novos projetos. Schroder se recusou a comentar se a Bunge ainda planeja vender seus ativos no país.

Embora o real mais baixo tenha dado “uma pequena folga” aos usineiros brasileiros, ainda existe espaço para melhorar a eficiência no país, de acordo com a Bunge.

“A política no Brasil no momento está muito complicada, mas um dia isso vai ser resolvido”, disse Schroder. “Como é que vamos competir nesse momento? Isso é o que temos que pensar. Temos que pensar em uma maneira de assegurar a viabilidade a longo prazo.”

Fonte: (Bloomberg)

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