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Brice o binômio da sustentabilidade

Considerando que a busca de alternativas para aumentar sua influência nas decisões sobre a economia mundial é uma prioridade do Bric (Brasil, Rússia, China e Índia), foi lógico o destaque conferido à segurança alimentar e à oferta energética na pauta da primeira reunião de cúpula desse bloco de emergentes, em Ecaterimburgo, em 16 de junho. Afinal, não há dúvida quanto ao peso político e diplomático crescente das nações capazes de atender às demandas internacionais de comida e combustíveis limpos, advindos de fontes renováveis.

Na verdade, o Brasil é o país com as melhores condições de assumir a liderança na produção e exportação de produtos agropecuários, incluindo as commodities e os biocombustíveis. Tal circunstância se comprova no fato de que acabamos de receber referendo da mais alta credibilidade: o estudo do Banco Mundial (Bird) “Desenvolvimento com Menos Carbono — Respostas Latino-americanas ao Desafio das Muda! nças Climáticas”.

A pesquisa ratifica que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo (mais de 80% da energia que produz são provenientes de fontes renováveis, como a hidroeletricidade e os biocombustíveis líquidos).

Sugere, ainda, que o País pode compartilhar suas experiências bem-sucedidas de manejo ambiental com outras nações emergentes e em desenvolvimento, especialmente no desenvolvimento de energias renováveis. Embora o relatório não tenha incluído nessa lista de diferenciais as tecnologias de aplicação do etanol, como os automóveis flex, evidencia o reconhecimento da comunidade internacional não só à nossa capacidade de produzir, mas também de inteligência e know how.

Muito relevante também esse mesmo estudo considerar que o etanol brasileiro de cana-de-açúcar reduz de 70% a 90% as emissões de gases do efeito estufa, em comparação à gasolina. Os biocombustíveis, ainda segundo os dados do Bird, representam cerca de 6% da energia co! nsumida no setor de transporte da América Latina, com destaque para a produção e consumo de etanol do Brasil. Fundamental é o reconhecimento, no documento, de que, “ao contrário da produção do etanol de milho em outros países, o produto brasileiro de cana-de-açúcar não contribuiu, em razão do desvio de terras destinadas à produção agrícola, para o aumento do preço das matérias-primas alimentares ocorrido em 2007/2008”.

Todas as condições são favoráveis.

Cabe ao Brasil, porém, duas grandes e urgentes lições de casa para que esse imenso potencial possa apresentar resultados práticos imediatos na sua economia e no crescimento de seu PIB. A primeira delas depende, exclusivamente, dos próprios brasileiros: conter de modo radical o desmatamento, em especial na Amazônia, pois esse problema, além de imensos danos ecológicos para o próprio País e o mundo, acaba comprometendo nossa credibilidade como guardiões da sustentabilidade.

A segunda missão, mais árdua no plano pol! ítico, é relativa às negociações para diminuir ou extinguir as tarifas de importação de etanol nos Estados Unidos e outras nações do bloco dos desenvolvidos.

O Governo Federal e a diplomacia estão muito passivos nesse embate. Não adianta esperar a ressurreição de Doha. É preciso partir para acordos bilaterais. O estudo do Bird é muito claro nessa questão: “Reduzir ou eliminar as elevadas tarifas comerciais e os enormes subsídios proporcionados por muitos países, produziria benefícios econômicos para o Brasil e para os seus parceiros, além de diminuir as emissões de gases do efeito estufa”.

Seria fundamental que, a partir de sua primeira reunião de cúpula na Rússia, as nações do Bric pudessem atuar diplomaticamente de maneira mais coesa e sinérgica, avançando nas negociações, com norte-americanos e europeus, dos subsídios agrícolas e taxas de importação do etanol. Ao agirem assim, não estariam beneficiando apenas o Brasil, mas todo o bloco, à medida que a contribuição re! cíproca poderia implicar a contrapartida brasileira no fornecimento e também na transferência de tecnologia, o que é muito importante.

Assim, nas gestões diplomáticas referentes ao binômio da sustentabilidade — alimentos/combustíveis limpos — poderia viabilizar-se o grande objetivo dos quatro grandes emergentes, de constituição de uma nova ordem mundial mais justa e democrática.

João Sampaio, economista, é o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e o presidente do Consea

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