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Brasil tem o melhor etanol do mundo, mas sofre para exportá-lo

“A infraestrutura logística do Brasil é precária e, hoje, causa impacto nos custos e na confiabilidade de nosso etanol no exterior. Além disso, as tarifas cobradas em estradas, portos e aeroportos, sem contar os impostos na produção, acabam com a paciência de qualquer interessado em trabalhar com o melhor produto que temos: o etanol”. Este foi o desabafo feito pelo diretor de Logística da Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), Adriano Dalbem, durante o seminário Exportação e Logística do Etanol, realizado em São Paulo.

Além do diretor da Brenco, outras importantes figuras do setor de biocombustíveis participaram do evento e concordaram que o Brasil possui uma jóia sem igual no mundo: o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, que polui bem menos que o combustível dos Estados Unidos (fabricado com base no milho) e da Europa (cuja matéria-prima é a beterraba). Mas, de nada adianta ter a excelência na produção do biocombustível se as opções oferecidas para a exportação do produto são as mesmas de antes, isto é, rodovias e portos muito aquém do ideal.

“Temos grandes dificuldades para escoar o etanol que produzimos em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. É critico o nosso estado, pois se depender do Poder Público, somente as rodovias seriam usadas para este fim. As tão faladas Parcerias Público-Privadas (PPPs) não saíram do papel e para a Brenco escoar com a agilidade necessária o etanol que produz, decidimos construir um alcoolduto de R$ 2,8 bilhões, com dinheiro nosso. Ano que vem as construções começam e o alcoolduto vai ligar o Alto Taquari (MT), um de nossos pólos, ao Porto de Santos”.

O gestor de projetos da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Eduardo de Figueiredo Caldas, concordou com as observações de Adriano Dalbem, mas fez questão de ressaltar que não é só o mercado brasileiro que sofre com a falta de opções viáveis para o escoamento do etanol. No exterior, diz Caldas, os produtores encontram as mesmas dificuldades e há um enorme quebra-cabeça a ser montado pelo empresariado. No caso do etanol, fica muito mais fácil direcionar investimentos agora, pois a produção ainda não atingiu seu auge.

“Há uma grande oportunidade para a construção de portos, dutovias, alcooldutos, aparelhos que permitam um escoamento rápido do produto para o exterior. Esse aspecto deve e precisa ser melhorado, sob pena de sermos castigados mais para frente. As empresas brasileiras podem contribuir, investindo pesado e obtendo o retorno depois. Só esperar pela ajuda de terceiros não vai nos levar a lugar algum. Felizmente, diversos conglomerados perceberam isso e parecem dispostos a tudo. O mercado do etanol mostra-se com um incrível potencial”.

O diretor do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores, André Correa do Lago, foi direto ao comentar as chances que se abriram ao Brasil por causa da produção do etanol. Para ele, cabe ao País brigar pela criação de um mercado internacional do produto, pois quem se arrisca a produzi-lo faz somente para consumo interno. Só que o prazo para isso não pode ser maior do que 10 a 15 anos. Se, depois deste período, o Brasil não estiver consolidado no exterior como referência mundial em biocombustível, uma oportunidade de ouro terá sido perdida.

“O momento é de ampliação do uso dos biocombustíveis e a Europa quer produzir e consumir o produto, só para citar um exemplo. O Governo Federal firmou um acordo com os Estados Unidos, mas a nossa parte precisa ser feita. Os obstáculos para produção do etanol ainda são muitos, faltam locais para sua produção. Aqui na América do Sul, vemos a Colômbia com um potencial fantástico para ser parceira nossa. Na África, estamos nos aproximando de Moçambique. E serão necessários novos portos nesses países e aqui. O biocombustível, se bem trabalhado, mudará a história do Brasil”.

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