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Brasil, o novo Texas do século XXI

O potencial de produção de etanol combustível é vantagem estratégica do País. Quem não se lembra de um rapaz humilde que depositou todas suas economias e esperanças na procura de petróleo no Texas? De que, no momento em que estava à beira da falência, viu jorrar o “ouro negro”, exultante ao saber que se tornaria um milionário? Essa imagem de James Dean, no filme “Giant – Assim Caminha a Humanidade”, é, na verdade, emblemática do século XX, de cujo desenvolvimento o petróleo foi a força motriz. Sua exploração, incipiente nos idos de 1850 nos Estados Unidos, ganhou fôlego com a invenção do automóvel e acabou com o reinado do carvão, propulsor da industrialização desde a segunda metade do século XVIII.

Mas no século XXI o cenário é outro, tendo nas diferentes fontes renováveis de energia o motor de seu desenvolvimento – e, sob esse aspecto, o Brasil é o novo Texas devido à sua experiência e ao seu potencial como produtor de etanol combustível.

Assistimos, nos anos 70, a crises de oferta de petróleo em que predominavam as motivações políticas que levaram os preços às alturas. Agora, impera a dificuldade de se adequar a oferta a uma demanda aquecida. Com o consumo mundial de gasolina perto de 1,2 bilhão de metros cúbicos ao ano (ou 7,7 bilhões de barris/ano), e com poucas reservas novas, cresce a expectativa de a produção mundial de petróleo alcançar seu pico no início da próxima década. Depois disso é ladeira abaixo.

É evidente que nem o carvão nem o petróleo (leia-se aí também o gás natural, em prazo um pouco mais longo) vão desaparecer de uma hora para outra. Mas certamente irão perder seu papel estratégico de dar as cartas do processo de desenvolvimento econômico.

Se o petróleo tende a ser o paradigma do passado, torna-se imperativo concentrar esforços no desenvolvimento de fontes limpas e renováveis, que representem garantia de melhor qualidade de vida para as gerações futuras. O etanol, utilizado na indústria química e alimentícia, ganhou as ruas e estradas do Brasil como opção à gasolina nos anos 70. Vemos hoje a multiplicação de seu uso pelos mais diversos cantos do mundo, representando mais de 70% da produção total de álcool. Destacam-se Brasil e Estados Unidos com mais de 85% da demanda atual. Em 2004, dos quase 4 milhões de metros cúbicos de transações internacionais de etanol, mais de 700 mil destinaram-se a seu uso como combustível.

Esse mercado só tende a crescer, especialmente como aditivo à gasolina. Sua produção local originária em matérias-primas como cana, milho, mandioca, entre outras, gera a expansão do agronegócio e do emprego. O etanol também tem papel relevante na diversificação da matriz energética, aumentando a segurança do abastecimento, com impacto positivo sobre o meio ambiente ao reduzir emissões nocivas, quer locais, quer globais. Para os países que dependem de importações de petróleo acrescenta-se o benefício da diminuição de gastos em divisas. Tudo isso vale para o biodiesel, produto de uma constelação de óleos vegetais. Assim, o etanol e o biodiesel são a base de uma “nova agricultura energética”, recebendo o apoio de iniciativas ambientais tais como a Diretiva de Biocombustíveis da União Européia, do Programa de Combustíveis Oxigenados dos Estados Unidos e do Protocolo de Kyoto.

Se o consumo de etanol é ainda pequeno em relação ao da gasolina (cerca de 2,5%) também é fato que, a cada dia, mais países estudam e implementam seu uso para mitigar o impacto negativo dos combustíveis tradicionais. Além de Brasil e Estados Unidos, Índia, Tailândia, China, Coréia, Filipinas, Austrália, África do Sul, Colômbia, Peru, Guatemala, Canadá, Suécia, Alemanha, França, Espanha e Reino Unido têm se voltado para o uso de combustíveis renováveis.

Para criar e ampliar programas de álcool combustível é preciso expandir a “agricultura energética”. Um mercado mundial de álcool combustível implica a adesão de países como Japão e Coréia, que não dispõem de matéria-prima, mas precisam do etanol por questões econômicas e ambientais.

Mesmo sendo o maior produtor e exportador mundial, o Brasil tem se colocado à frente da criação de um grande mercado internacional de etanol por uma questão estratégica: é primordial a existência de uma grande rede de fornecedores para maior garantia de oferta do produto, com estoques de segurança para disciplinar os preços.

É essencial a harmonização internacional das políticas de etanol combustível com a padronização das especificações. É preciso eliminar as proibições e limitações severas de importações de álcool e sua substituição por acordos mais flexíveis e claros; substituir as altas tarifas atuais de importação por tarifas inferiores àquelas aplicadas aos combustíveis fósseis; e diminuir o uso de subsídios até a sua eliminação.

Nosso compromisso com o futuro exige investimentos em fontes renováveis de energia. É o que de melhor podemos deixar para as próximas gerações.

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