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Brasil faz ofensiva contra restrições da Europa

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com diversas entidades do setor, está recebendo no País uma delegação de parlamentares europeus com o objetivo de reagir à perda de participação nas importações da União Européia (UE) e reverter a imagem de expansão predatória do agronegócio brasileiro que se difundiu entre alguns segmentos do bloco.

A política de biocombustíveis e sustentabilidade ambiental são os principais temas apresentados para o grupo chefiado pelo deputado Neil Parish, presidente da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu.

“O convite partiu do Brasil para tentar esclarecer alguns conceitos que estavam em discussão no parlamento europeu, na verdade preconceitos que atravancam esse comércio bilateral”, afirma Matheus Zanella, assessor técnico da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), entidade que organizou um encontro entre os visitantes e brasileiros.

Resposta

Na reunião realizada ontem em Brasília, o vice-presidente da comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu, Friedrich Baringdorf, disse que a União Européia sabe das dificuldades do Brasil em cumprir as regras de rastreabilidade, mas que a legislação européia precisa ser respeitada.

Ao fazer sua apresentação inicial, Parish, disse que é preciso tratar o assunto rastreabilidade “agarrando o touro pelo chifre”. Ele afirmou que a UE exige a rastreabilidade porque os consumidores dos 27 países do bloco querem comer carne que provenha de uma fonte segura e que possa ser rastreada.

Uma das exigências dos europeus é a coerência entre as informações que constam no banco de dados da rastreabilidade. “Precisamos ter certeza de que o gado que consta do banco de dados é o mesmo exportado para a União Européia”, afirmou.

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária, Antenor Nogueira, foi contundente ao perguntar se os europeus achavam justo garantir uma reserva de mercado para a carne bovina européia. Nogueira apresentou dados que mostram que o custo de produção da carne na Irlanda é muito superior ao brasileiro. Na média, na Irlanda, o custo é de US$ 458 para cada 100 kg de carne bovina.

No Reino Unido, este valor é de US$ 598 e no Brasil, US$ 181,25. “Além da questão do custo, o senhor não acha que é estranho questionar o controle sanitário do País quando foram registrados 180 mil casos de BSE [encefalopatia espongiforme bovina ou mal da vaca louca] e de tuberculose no rebanho europeu?”, questionou Nogueira.

O presidente da Comissão respondeu dizendo que não estava no Brasil para criticar o sistema de produção do País e lembrou que o Brasil leva vantagem porque tem uma situação climática melhor e as superfícies são mais amplas. “Não quero criar polêmica”, disse o parlamentar.

Já o representante da Federação de Agricultura do Mato Grosso, Zeca Dávila, disse que visitou frigoríficos e propriedades na Europa e que ficou “decepcionado”

Os parlamentares também foram questionados se apoiavam a campanha “difamatória” contra a carne brasileira, organizada pela Associação dos Produtores da Irlanda. Parish disse que a associação de fazendeiros zela pelos interesses de seus produtores da mesma forma que a CNA faz pelos produtores locais. “Nosso papel é defender o nosso mercado e vocês têm que defender o de vocês”, disse Baringdorf.

Parish, disse também que a União Européia tem dificuldade em entender a “aritmética” do Brasil no que diz respeito às áreas destinadas à produção de grãos para alimentos e biocombustíveis. Ele disse que a preservação da Amazônia é uma preocupação constante entre os europeus e que o incremento da produção de biocombustíveis é um termo controverso.

O superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta, disse que o Brasil tem condições de suprir a demanda mundial por alimentos, mas que para isso é preciso haver investimentos em logística e, principalmente, em portos.

O deputado Friedrich Baringdorf, vice-presidente da comissão européia, foi contundente ao dizer que a fome é um problema não só dos países pobres mas que populações de classe média também são prejudicadas pelo aumento de preço dos alimentos.

O principal argumento dos agricultores brasileiros em relação à expansão do etanol parte do fato de que 95% do crescimento das lavouras de cana-de-açúcar está na Região Centro-Sul, portanto não estaria disputando área com outras culturas. “Queremos diferenciar o etanol brasileiro do americano”, diz Zanella.

“Em relação ao desmatamento e o avanço do plantio na região da Amazônia estamos mostrando que houve um crescimento da produção dos grãos sem aumentar a área. A área da soja caiu de 2004 para cá caiu enquanto a produção de grãos cresceu mais de 10%”, destaca Zanella.

Reflexo nas exportações

No primeiro trimestre de 2008 algumas importantes commodities já apresentaram queda nos embarques para os países europeus, entre eles produtos tradicionais como o café e a soja. Os efeitos dessa tendência são minimizados pela alta nos preços dos alimentos que mantém o volume financeiro estabilizado ou em elevação.

Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro diversificou os destinos das suas exportações, intensificando o comércio com a Índia e a China, países que apresentam crescimento acelerado no consumo de alimentos. O mercado asiático surgiu na última década como alternativa à estagnação da demanda européia.

“As duas grandes razões para a gente fazer essas ações e garantir esse mercado é o fato de que eles pagam os preços maiores, em razão do alto poder aquisitivo. Além disso, cria-se uma confiança quando se exporta para o maior importador do mundo, é uma segurança para outros mercados”, ressalta.

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