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Brasil exportará 50% de toda a soja à China

Numa ponta, a China, maior importador. Na outra, o Brasil, maior exportador. Enquanto o Brasil se consolida como exportador de matéria-prima, sobretudo de soja, a China fortalece sua agroindústria e hoje sequer é considerada importadora de farelo de soja, pelas estatísticas oficiais. O resultado é que o Brasil se consolidará como maior exportador de grão, e a China, maior importador. A interdependência pode gerar conflitos no longo prazo, com vantagens para os chineses, segundo a Céleres Consultoria. Atualmente, 43% de toda soja vendida ao exterior pelo Brasil são comprados pelo país asiático. A previsão é de que o percentual supere 50% em 10 anos.

A previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) é de que na safra 2006/07, a China vai importar 32 milhões de toneladas de soja em grão, que representa 50% das importações mundiais. Há dez anos, eram de 8%. Na próxima década, o volume será de 57,2 milhões, o que equivalerá a 56,1% das importações mundiais do grão. A participação do bloco da União Européia, segundo maior importador mundial de soja, cairá dos atuais 20,4% para 12,2% no período.

O aumento da importação de grão pela China é resultado de um cenário já sentido pela agroindústria brasileira: expansão da indústria de esmagamento chinesa. Atualmente, a China processa 37,5 milhões de toneladas de farelo de soja. Há dez anos, esse volume era de 7,5 milhões, segundo levantamento da Céleres. O reflexo é a redução das importações chinesas desse produto, que caíram de 3,5 milhões de toneladas, em 1996, para ínfimas 50 mil toneladas a partir de 2001. “Atualmente, os relatórios do Usda até omitem a China da listagem de importadores de farelo”, pontua Leonardo Sologuren, da Céleres.

O analista acredita que a projeção de o Brasil se consolidar como maior exportador de soja em grão e a, China, como maior importador, trará sérios atritos no longo prazo aos dois países. “Trata-se de uma mútua dependência e vai exigir esforços diplomáticos dos dois países”, explica Sologuren. Entre conflitos previstos, segundo o analista, está o de aumento de exigências em qualidade, como tentativa de conseguir vantagens na negociação. “Eles já são bem agressivos no mercado externo. Na posição disparada de maior comprador, tendem a ficar ainda mais”, diz.

A economista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, lembra, como exemplo, que vários navios de soja brasileiros foram embargados pela China em 2004 por estarem fora de uma especificação, que não existia. “Foi uma estratégia para não pagar os preços negociados nos contratos”, recorda.

Ela pondera, entretanto, que perto dos instrumentos de barreiras sanitárias e subsídios praticados por outros grandes compradores de produtos agrícolas do Brasil, a estratégia chinesa não foi das piores. “Teve grande repercussão, pela unilateralidade da decisão”, diz. Por outro lado, segundo ela, não há muito o que fazer, já que a China é o maior importador mundial, além de tentar, na medida do possível, diversificar mercados. A economista pondera que a China também terá que se adaptar ao funcionamento da Organização Mundial do Comércio (OMC).

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