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Brasil Ecodiesel prepara nova reestruturação

A Brasil Ecodiesel deve apresentar ao mercado um plano de reestruturação estratégica em cerca de 120 dias. A afirmação foi feita pelo novo diretor-presidente da empresa, Mauro Cerchiari, que está há pouco mais de um mês no cargo. Endividada e sem capital de giro para produzir o biodiesel vendido em leilões para a Petrobrás até o início do ano, a Brasil Ecodiesel recebeu uma nova injeção de capital que a permitiu voltar a operar e reduzir de forma substancial sua dívida. Criada em 2003 pelo empresário Daniel Birman, com a estratégia de produzir biodiesel usando matérias-primas regionais e alternativas – como a mamona, produzida pela agricultura familiar e incentivada pelo próprio governo federal -, os investimentos regionalizados logo se transformaram em um pesadelo administrativo. Com prejuízos consecutivos,! a Brasil Ecodiesel concentrou sua produção na soja, reduziu a operação de suas unidades nordestinas e menos competitivas e foi atrás de nova capitalização. “Nossos principais credores formaram um fundo, o Neo Biodiesel, e trocaram a dívida por ações, transformando-se em nosso principal acionista”, diz Cerchiari. Segundo ele, a nova Brasil Ecodiesel não quer conquistar market share a qualquer custo. “Queremos ser a empresa mais eficiente.” A seguir, os principais trechos da entrevista:

O sr. está no comando da empresa há cerca de um mês. Depois de enfrentar vários problemas de fluxo de caixa, registrar prejuízos consecutivos e deixar de cumprir algumas entregas de biodiesel em 2008, os novos aportes de capital realizados neste ano resolveram todos os problemas da empresa?

Não, mas estamos caminhando nessa direção. A empresa tinha um endividamento elevado, de cerca de R$ 300 milhões, e a capitalização, que elevou o capital social para R$ 808,2 milhões, permitiu que! ela saísse da rotina da sobrevivência e se transformasse em uma empresa que pode ser gerenciada.

Qual é o tamanho da dívida hoje?

A dívida de R$ 300 milhões foi reduzida para R$ 93 milhões. Mas o essencial foi a transformação do seu perfil. Antes, tínhamos R$ 120 milhões vencendo no curto prazo e R$ 177 milhões no longo prazo. Agora temos apenas R$ 12 milhões de dívida de curto prazo e os restantes R$ 81 milhões no longo. O mais importante é que ficamos com um perfil da dívida do tamanho da empresa. E ainda estamos com cerca de R$ 50 milhões líquidos para fluxo de caixa.

Como foi a renegociação da dívida com os principais credores?

Os principais bancos credores formaram um fundo de investimento em participações (FIP), convertendo a dívida em ações da empresa. Esse fundo, o Neo Biodiesel, formado entre outros bancos pelo Bradesco, o Fibra e o Fator, é atualmente o maior acionista da Brasil Ecodiesel, com uma participação de 14,24% no controle. Os antig! os acionistas controladores não injetaram mais recursos durante o processo de aumento de capital e tiveram sua participação diluída. Então, o fato de os principais credores terem aceitado converter a dívida em capital contribuiu para que a empresa ficasse operacional. Isto foi fundamental para que a empresa retomasse sua produção e honrasse seus contratos com a Petrobrás. Também voltamos a apresentar lucro no último trimestre. Agora que a empresa está novamente operacional, ela está pronta para sofrer uma reestruturação mais ampla.

Como se dará essa reestruturação e em quanto tempo estará pronta?

Agora que as decisões operacionais já podem ser tomadas, estamos elaborando um plano estratégico para a empresa, um diagnóstico para ser recomendado ao conselho administrativo a respeito do futuro da empresa. Devemos apresentar este plano ao mercado em cerca de 120 dias.

Vocês estão preparando a empresa para ser vendida?

Não, de forma alguma. Estamos prepara! ndo a empresa para o futuro, para que ela se ajuste ao mercado. Queremos ficar mais focados no negócio principal da Brasil Ecodiesel, em seu core business, que é a produção de biodiesel. A empresa tem, por exemplo, duas esmagadoras de grãos que estão paradas, uma na Bahia e outra no Rio Grande do Sul. Na verdade, nunca operaram. Todo o óleo utilizado pela empresa é adquirido de terceiros. Apesar de possuir as esmagadoras, a Brasil Ecodiesel nunca esteve no negócio de esmagamento. Porque quem esmaga grão tem que ter uma logística para escoar o farelo, que é o principal produto.

Vocês pretendem vender essas unidades?

É uma possibilidade. Mas também estamos interessados em realizar parcerias estratégicas. Podemos arrendar as duas unidades, fazer uma parceria com outras esmagadoras para obter vantagens financeiras na compra do óleo.

E como seriam essas parcerias estratégicas?

Essas parcerias teriam como objetivo ter maior conhecimento da cadeia de supriment! o como um todo. Nossa principal matéria-prima é o óleo vegetal, que corresponde a 75% dos custos de produção do biodiesel. Atualmente quase a totalidade de nossa matéria-prima é o óleo de soja e deve continuar sendo por um longo tempo. Então existe uma necessidade de ter melhor conhecimento da cadeia de suprimento para se ter também uma melhor gestão destes processos.

Poderia ser por meio de uma joint ventures? Ou vocês querem comprar alguma empresa?

Aquisições dependem de oportunidade de mercado. Este setor ainda está em sua infância e está claro que ele caminha para certa consolidação, porque possui um grande número de participantes com várias escalas de produção. As parcerias poderão ajudar essa consolidação porque poderemos crescer nossa participação no mercado sem elevar nossa produção. Hoje temos seis unidades industriais produtoras de biodiesel. Quatro delas estão operando basicamente com soja em sua capacidade total. As outras duas, localizadas no Nordeste, es! tão operando de forma descontinuada, à medida que nova demanda aparece.

Essas duas usinas estão trabalhando com interrupções por conta do fracasso de se criar uma oferta de oleaginosas alternativas, como a mamona?

Sim, é um fato. Elas estão localizadas no Nordeste – uma no Ceará e outra no Piauí. A razão principal é que, do ponto de vista logístico, as condições são desvantajosas para o fornecimento de matéria-prima. É difícil e mais custoso levar o óleo de soja até lá para a produção de biodiesel. E ainda não temos óleo vegetal de outras fontes neste momento. As experiências agrícolas com mamona e pinhão manso na área agrícola que a Brasil Ecodiesel possui não foram realizadas de forma correta e não deram o resultado esperado.

O sr. acredita que a atenção que o governo está dando para o pré-sal pode atrapalhar o bom desenvolvimento dos biocombustíveis?

Não acredito que poderá atrapalhar. No longo prazo, pode ser complemento importante. Vejo que a que! stão dos renováveis é uma necessidade imperiosa do ponto de vista ambiental. O mundo inteiro está buscando melhorar sua matriz energética introduzindo combustíveis renováveis. Entendo que o Brasil poderá aliar as reservas de petróleo aos combustíveis renováveis. Estamos vendo a substituição do fóssil pelo renovável no mundo todo e o pré-sal não vai mudar isso.

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