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Brasil e o diabo na briga do petróleo

As provocações de Hugo Chávez – que chegou a chamar o presidente George W. Bush de “diabo” na última Assembléia Geral da ONU – têm merecido o silêncio da Casa Branca. Mas a resposta virá em breve. E o Brasil estará no centro dela. Ao desembarcarem em Brasília, no dia 7, o subsecretário de Estado para assuntos políticos, Nicholas Burns, e o subsecretário para o Hemisfério, Thomas Shannon, trarão uma proposta de parceria estratégica entre os Estados Unidos e o Brasil, para a produção e comercialização de etanol e biodiesel.

O plano tem como objetivo reduzir a dependência do petróleo – e de regimes que se financiam com ele, como o de Chávez. É a concretização do objetivo anunciado por Bush em seu discurso sobre o Estado da União, na terça-feira. Nele, o presidente americano propôs reduzir em 20% o consumo de gasolina nos próximos dez anos nos Estados Unidos , de modo a diminuir a dependência do petróleo e a emissão de gás carbônico. “Durante demasiado tempo, nossa nação tem dependido do petróleo estrangeiro”, disse Bush. “Isso nos deixa mais vulneráveis a regimes hostis.”

Cerca de 15% do petróleo consumido nos EUA vem da Venezuela. Em contrapartida, 42% do petróleo exportado pela Venezuela destina-se ao mercado americano. Em termos porcentuais, portanto, a dependência venezuelana é maior ainda que a americana. Juntos, Brasil e Estados Unidos respondem por 70% a 80% do etanol produzido no mundo. O sentido principal da parceria é obviamente econômico. Mas um de seus efeitos colaterais será o de sublinhar o contraste entre Brasil e Venezuela nas relações com os Estados Unidos.

Em seu último evento público como representante do Brasil em Washington, o embaixador Roberto Abdenur declarou, no dia 17, num simpósio do Instituto Brasil do Woodrow Wilson Center: “O Brasil e os Estados Unidos não podem ter temor de falar em parceria.” Burns, número 3 do Departamento de Estado, se reunirá com o seu equivalente no Itamaraty, Antônio de Aguiar Patriota, que assume em março a embaixada do Brasil em Washington. Ainda neste semestre, provavelmente em abril, Lula visitará Bush.

Apesar dos freqüentes – e, para os americanos, incompreensíveis – afagos de Lula a Chávez, o governo Bush não confunde os dois presidentes.

“O governo dos EUA aprecia o fato de que o Brasil esteja buscando políticas muito mais moderadas, orientadas para o mercado e menos agressivas”, diz Peter Hakim, presidente do Diálogo Inter-Americano, um centro de estudos sobre a região. “Mas se sente frustrado porque o Brasil parece entusiasmado demais em desenvolver relações estreitas com Chávez e com freqüentes imagens de Lula abraçando e louvando Chávez.”

Segundo Hakim, “não se sabe se isso é expressão de fraqueza ou de erro de julgamento, falta de compreensão do perigo que Chávez representa”. O fato é que, para os EUA, “Lula deveria impor-se mais sobre Chávez”, assim como “o Brasil deveria exercer mais liderança no Mercosul”.

Em princípio, o diálogo entre Lula e Chávez é visto mais como benéfico do que como prejudicial por Anthony Harrington, ex-embaixador dos EUA em Brasília. “Claro que, dependendo dos acontecimentos, pode chegar um tempo em que o Brasil terá de ser mais firme na defesa de seus interesses e valores democráticos”, pondera o diplomata. “O ressurgimento e expansão do populismo em partes da América do Sul, exemplificado pelo presidente Chávez, complica potencialmente o exercício crescente da liderança positiva do Brasil na região.”

Já complicou, a julgar pelo crescente descolamento entre a retórica e os interesses reais, tanto de Lula quanto de Chávez.

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