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Brasil condena posição russa sobre Kyoto

O governo brasileiro se recusa a encarar as declarações contra o Protocolo de Kyoto feitas por Andrei Illarionov, assessor do presidente russo, Vladimir Putin, como um golpe fatal no tratado de combate ao aquecimento global. Dois ministros reafirmaram ontem o compromisso brasileiro com o protocolo.

Em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, criticou a política russa: “É lamentável que os países que têm maior responsabilidade nesse processo se recusem a ratificar o Protocolo de Kyoto. O Brasil vai continuar trabalhando para que o protocolo possa se transformar em realidade”, disse a ministra.

“Lamento profundamente, isso é um retrocesso”, disse à Folha o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral. “Estávamos convencidos de que a Rússia iria aderir. Isso [o protocolo] atende aos interesses russos e aos dos países emergentes”, afirmou.

O secretário-executivo do MCT, Antônio César Russi Callegari, afirmou que é preciso apreciar “com certo cuidado” as declarações de Illarionov. “A Rússia está na posição de cobrar um preço alto [por sua adesão], e seria admirável ou surpreendente que não o fizesse”, avalia.

Para o climatologista Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mesmo que a posição russa seja confirmada, “não dá para lutar contra a evidência científica” da influência dos gases-estufa sobre o clima global. “Kyoto foi e é uma maneira de dar o primeiro passo [para o controle de emissões] de forma organizada, mas, se não vingar, a pressão vai vir da própria sociedade e do mercado”, diz o cientista.

O deputado José Sarney Filho (PV-MA), ministro do Meio Ambiente no governo anterior, concorda: o país deve seguir na trilha de Kyoto, com acordos bilaterais ou multilaterais, mesmo que o pacto naufrague. Sarney Filho criticou também a política de George W. Bush nos EUA: “É uma influência maléfica, que mostra o desdém pela questão climática”.

Everton Vargas, chefe da delegação brasileira nas negociações sobre Kyoto, declarou que o impasse criado não prejudica a continuação da conferência iniciada anteontem em Milão. “Há vários outros temas em debate, como a questão da transferência de tecnologia a países em desenvolvimento e o futuro estabelecimento de políticas para a redução de emissões”, afirmou. Ele segue para Milão na sexta-feira.

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