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Brasil busca a parceria da África

Governo brasileiro oferece tecnologia e ajuda a criar um mercado mundial de álcool fortalecido. O Brasil quer usar o conhecimento para conquistar a África. Em um trabalho conjunto do Itamaraty e Ministério da Agricultura, o governo tem oferecido aos países daquele continente tecnologia para a produção de culturas tropicais – principalmente alimentos – e a experiência no álcool combustível. Em troca, o Brasil espera o apoio dos africanos para transformar o etanol em commodity internacional e, em um segundo momento, suporte do continente para o desejo do Palácio do Planalto de ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Cerca de 70 comitivas internacionais estão desde o começo da semana em Brasília para o congresso internacional “Iniciativas Globais em Commodities”. Organizado por vários organismos como a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e o Fundo Comum das Commodities (CFC), o evento tem funcionado como uma vitrine da tecnologia brasileira no agronegócio para mais de 100 delegados de países pobres, principalmente da África.

“O Brasil é provavelmente o país com a agricultura mais eficiente do mundo. E temos interesse em ajudar os países amigos ao transferir nossa tecnologia”, disse ontem o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a uma platéia de diplomatas e técnicos de países distantes como Botswana, Congo, Gabão e Tanzânia. Um dia antes, os convidados conheceram essa experiência nacional nos laboratórios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde conheceram a tecnologia para a produção de cacau, café, mandioca e outras culturas comuns em terras tropicais.

Essa propaganda da tecnologia brasileira na produção de alimentos faz parte de uma ação maior. As autoridades não admitem oficialmente, mas o plano do Brasil é conquistar o continente africano inicialmente com a produção de mais alimentos e com custo menor. Essa é a principal demanda da região na atualidade. Assim, o País estaria credenciado para iniciar a cultura da cana-de-açúcar com objetivo de produzir álcool combustível. O ministro da Agricultura admitiu ontem que a África será importante para a criação de um parque mundial de produção de combustíveis renováveis suficientemente grande para atender à demanda dos países ricos. Isso deve ajudar o Brasil que pretende transformar o etanol em commodity mundial.

O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, considera essa oferta conjunta como uma estratégia natural. Ele lembra que os países africanos têm demanda urgente por alimentos, área em que o Brasil pode ajudar, tanto que a Embrapa abriu no final do ano passado o primeiro escritório na África, em Gana. “Mesmo sendo uma política de Estado, é inegável que também há interesse comercial”, disse. Rodrigues cita que o Brasil, por dominar a cadeia produtiva, pode passar a vender equipamentos que são produzidos em larga escala no País. “Ao mesmo tempo, podemos ganhar um continente todo de aliados no esforço em propagar a cultura das energias renováveis”.

“Em alguns locais, essa mudança será rápida porque já há produção de açúcar em muitas áreas tropicais. Nesse caso, só seria preciso alterar as instalações da usina para produzir álcool. Para os produtores, seria ótimo porque o valor agregado do etanol e do açúcar não se comparam”, observa Hardi Vieira, do Fundo Comum das Commodities (CFC).

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