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Bolsa para especuladores: como assim?!

Na semana de 20 de novembro, ao comentar os caminhos da economia bra-silei-ra frente o debate que se travava entre os ministros Antonio Palocci e Dilma Rousseff, o presidente Lula cravou: Se alguém quiser ainda continuar especulando sobre a economia, por favor se dirija à bolsa de São Paulo.

Apesar da frase ter sido proferida há 20 dias, a sugestão de que bolsa é recinto reservado a especuladores é ardilosa e merece reflexão. O primeiro ponto é: o que é especular? Os dicionários apresentam duas definições: estudar com atenção e minúcia; negociar no mercado de capitais ou de câmbio para auferir lucros, aproveitando-se de uma situação temporária do mercado.

A soma das duas definições permite qualificarmos com maior precisão o especulador: é um agente do mercado, que estuda com atenção o comportamento das variáveis que influenciam o preço dos ativos que lhe interessam, com o objetivo de comprar barato e vender caro.

Ao contrário do que sugere o senso comum e a exclamação do presidente, é importante registrar que esse especulador desenvolve um papel primordial no mercado: contribuir com a geração de liquidez para as ações. As ofertas de compra e venda alocadas pelos especuladores são freqüentemente usadas como portas de saída ou de entrada para investidores que desejam formar ou se desfazer de uma posição de longo prazo.

Mais do que desmistificar o especulador, é preciso ressaltar que o mercado de ações tem papel importantíssimo, de viabilizar o direcionamento de recursos de poupadores para tomadores, financiando o desenvolvimento econômico. Emitindo e distribuindo suas ações, as empresas se capitalizam e viabilizam projetos de expansão, agregam eficiência à gestão de seu endividamento e se mostram aos poupadores como alternativa de investimento.

É verdade que na década de 90 a capitalização das empresas através do lançamento de ações foi irrisória, mas essa situação vem se revertendo. Até a operação de abertura de capital da Cosan, finalizada no dia 11, as emissões de ação em 2005 superavam R$ 12,2 bilhões, dos quais R$ 4 bilhões referentes a ofertas primárias. Isto é, R$ 4 bilhões foram direcionados diretamente para o caixa das empresas emissoras.

Considerando as operações de 2004, as ofertas primárias chegam a R$ 7,5 bilhões e as emissões perfazem R$ 20,6 bilhões. Com esse desempenho, a Bovespa alcançou a 9. posição no mundo em emissões de ações, à frente de bolsas importantes como, por exemplo, a da Alemanha.

Analisando pela ótica do investidor, os lançamentos de ações também têm sido proveitosos. Das 17 ofertas de 2005, só duas ações não apresentaram valorização em relação ao seu preço no momento da oferta ao público. Vale ressaltar que a rentabilidade média com a aquisição desses títulos tem sido bem mais elevada do que a proporcionada pelo Ibovespa no período.

Aliás, não é de hoje que os investidores de ações têm remuneração bem mais interessante do que com outras alternativas até mais conservadoras. É importante que se diga: não estamos nos referindo a profissionais ou especuladores – mas àqueles brasileiros que usaram parte do seu FGTS para adquirir ações da Petrobras e da Vale e que, ao se tornarem sócios das empresas se beneficiaram.

A Bovespa tem se esforçado para esclarecer a população sobre o que é este mercado, o que é se tornar acionista, da relevância da emissão de ações como meio de financiar o crescimento. Os resultados têm sido exitosos. Basta ver o aumento do volume de negócios, da participação do investidor pessoa física e a retomada das operações de lançamento de ações.

É preciso que os leitores contextualizem as palavras do presidente como mera – e inoportuna – retórica. Colocar a bolsa como recinto para especuladores (no sentido mais pejorativo e antiquado do termo) é não enxergar o quanto a sociedade, representada por investidores e empresas negociadas se beneficia de um mercado de ações robusto e eficiente. Tomar como certas as colocações de Lula é abrir mão do potencial de remuneração que tem se mostrado melhor que o das demais alternativas de investimento.

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