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BNDES concentra linhas nos grandes

O Plano Inova Empresa, anunciado na semana passada pelo governo federal, não muda praticamente nada na estrutura e forma de trabalho da área de inovação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Tampouco altera os programas e os caminhos que as empresas e empreendedores devem percorrer para acessar os recursos do banco federal de fomento.

No ano passado, o BNDES aplicou R$ 3,3 bilhões em projetos de inovação, dos quais R$ 1 bilhão foi repassado à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A Finep executa o orçamento de acordo com seus próprios parâmetros.

O valor efetivamente aplicado pelo banco, de R$ 2,3 bilhões, foi distribuído em sua maior parte (R$ 1,964 bilhão) para empréstimos a empresas. Dos R$ 330 milhões restantes, R$ 164,6 milhões foram aplicados em projetos indiretamente através de instrumentos de renda variável.

Helena Tenório, chefe do Departamento de Avaliação, Inovação e Conhecimento do BNDES, explica que cada instrumento está voltado para um público específico. “As linhas de crédito estão concentradas nas grandes empresas e para as pequenas empresas temos a renda variável e o cartão BNDES”, diz.

Nos programas de renda variável, o banco opera através de fundos de investimentos em participações, os chamados fundos de capital semente, no qual o banco faz uma chamada pública para trazer gestores interessados em partilhar o risco com outros investidores privados, buscar projetos adequados à política de investimentos e administrar os recursos. O BNDES entra como cotista desses fundos que são voltados para micro e pequenas empresas (“startups”).

Denominados Criatec I e Criatec II, os fundos de investimentos nos quais o BNDES aporta recursos são voltados para empresas inovadoras, com faturamento anual de até R$ 10 milhões. O Criatec I já foi encerrado, tendo aplicado R$ 100 milhões em 36 empresas. O Criatec II foi lançado em janeiro, ainda está em fase de captação e o III está em formatação para lançamento ainda este ano.

Para as linhas de crédito, o perfil dos tomadores acompanha programas específicos baseados em características e desafios setoriais. Indústria de fármacos, equipamentos de saúde (Pro Farmo), software (Pro Soft) e engenharia (Proengenharia) são os principais.

Todos os projetos, sejam para financiamento ou participação acionária, passam pelo comitê de inovação, criado em 2010, antes mesmo de passar pelo comitê de crédito.

João Carlos Ferraz, vice-presidente e diretor da área de planejamento, afirma que inovação já era uma das três prioridades do banco junto com sustentabilidade e desenvolvimento regional. Isso significa que “não há limite orçamentário”. Qualquer projeto de inovação que seja do interesse estratégico do país e cumpra com os pré-requisitos básicos de documentação e garantias, terá apoio do banco, garante.

Segundo o executivo a grande mudança trazida pelo Inova Empresa é na política de incentivo à inovação que passa a mirar em áreas e focos estratégicos, ao invés de projetos individuais. “Caminhamos para olhar além do risco do projeto, para o esforço da empresa em termos de inovação”, afirma Ferraz. “Trabalhando com a estratégia, é possível analisar a coerência da empresa, se ela tem os ativos (laboratórios, recursos, pessoas, instalações) que seriam necessários para um programa de pesquisa”, conclui.

Segundo Ferraz, antes do Inova Empresa sempre houve consultas entre os diversos órgãos de governo que atendem projetos de inovação. Porém cada um tinha suas próprias diretrizes de avaliação, procedimentos e execução orçamentária. “Cada um continua tendo suas políticas, mas agora vamos trabalhar de maneira conjunta”, explica Ferraz.

Também será mantido o sistema de chamadas públicas para financiamento, como o do programa Paiss, de estímulo à inovação no desenvolvimento do etanol de segunda geração e o Inova Petro, para a área de petróleo e gás. “Há avaliação consensual que a produtividade, seja da terra, dos equipamentos, da maneira tradicional de se produzir etanol tende a decrescer. O etanol de segunda geração permitirá avanços de eficiência de maneira bastante significativa”, afirma o vice-presidente do banco, apontando um dos setores que vão receber mais apoio do programa Inova Empresa.

Os outros são, conforme divulgado no anúncio do programa em Brasília dia 14: a cadeia agropecuária, o setor de energia, o complexo industrial ligado à saúde, a indústria aeroespacial e de defesa, o setor de Tecnologia da Informação (TI), de telecomunicações e os empreendimentos ligados à recuperação e conservação do clima, biodiversidade e desenvolvimento urbano.

Na prática, nada muda na rotina do banco, segundo Ferraz. “Continuamos com nossas linhas normais, o que estamos fazendo é que todo e qualquer funcionário do BNDES tenha o conhecimento da problemática da inovação e esteja disposto a financiá-la e apoiá-la”. Segundo ele, o trabalho daqui para frente será mais de “introjeção” da agenda da inovação nos 2.780 funcionários do banco, do que criar um novo departamento de inovação.

Em 2012, os valores desembolsados pelos dois principais agentes financeiros oficiais da inovação no país fecharam em alta. No caso do BNDES foram 25% a mais em relação a 2011. Na Finep, foram 32,5% a mais.

No entanto, ambos apresentam orçamentos muito superiores aos desembolsos, indicando que o volume de crédito disponível – incentivado com custo menor e prazos maiores – não encontra toda a demanda esperada.

Na Finep o número de empresas que obtiveram apoio financeiro à inovação baixou em 2012 para 77, em comparação a 104 no ano anterior. Os dados constam de uma apresentação da agência e de seu relatório de gestão referente a 2011 (o de 2012 ainda não foi divulgado).

Questionado sobre esse descompasso entre oferta e demanda, João Carlos Ferraz explicou que, por ser uma área prioritária do banco, não há limites para os projetos de inovação. Segundo ele, o que aparecer será atendido desde que cumpra com os requisitos necessários.

Ferraz admitiu, porém, que o volume de projetos de inovação financiados pelo banco poderia ser maior. “O entrave é a demanda, e se não há mais, [o motivo] escapa ao BNDES. Eu não consigo criar projetos, essa é uma decisão empresarial”, disse.

Na análise de Ferraz, a participação relativa de setores intensivos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil é menor que outros países onde se investe mais. “Se você olhar nossa balança comercial, ela tem uma participação expressiva da importação de bens de alta tecnologia. Nós somos mais competitivos e inovadores em indústrias e atividades intensivas em recursos naturais, logística, pessoas, nas quais a propensão a investir [em P&D] é menor.” Ferraz afirma que o investimento em inovação só começou a crescer a partir de 2006, e foi duramente afetado pela crise financeira internacional.

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