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BM&F lança produtos a caminho da desmutualização

Com um bom grau de internacionalização – o investidor não residente representa hoje cerca de 20% do mercado -, a BM&F trabalha em várias frentes, enquanto observa, atenta, a onda de fusões de bolsas pelo mundo. Ao mesmo tempo que caminha rapidamente para a desmutualização, não descuida do crescimento do negócio. Lançou recentemente nos EUA um contrato de etanol e tem, em estudo, os de metais não-ferrosos e derivativos não padronizados, conforme conta Manuel Felix Cintra Neto, em entrevista dada a esta coluna em Nova York, onde recebeu, semana passada, o Prêmio Homem do Ano 2007, da Câmara Brasil-EUA.

Aqui vão os principais trechos dessa entrevista:

A dosagem da política monetária hoje está correta?

Sempre cabe uma discussão sobre se a próxima decisão do Copom vai cortar a taxa em 0,25 ou 0,50 ou 0,75 ponto porcentual… O que deve ser destacado nesse caso é a independência do Banco Central (BC) nessas decisões. Isso, sim, é um avanço cultural importante. O BC tem todos os dados à mão para responder a essa pergunta. Recentemente, alguns economistas disseram que o câmbio ajudou a desmascarar as deficiências de infra-estrutura. Esse é outro ponto importante.

O Brasil já pode dizer que tem uma Bolsa de Primeiro Mundo?

Não uma, duas. A BM&F e a Bovespa não deixam nada a desejar na comparação com as bolsas dos grandes centros de liquidez, em volume e em serviços de clearing, gerenciamento de risco, chamadas de garantia intraday e outros detalhes importantes. A Futures Industry Association coloca a BM&F entre as dez maiores bolsas de derivativos do mundo. Com as fusões em Chicago e também em outros lugares, a BM&F deve ficar entre as quatro ou cinco maiores bolsas de futuros.

O que falta para a internacionalização da Bolsa?

Os mercados da BM&F já têm um bom grau de internacionalização. Divulgamos diariamente as posições em aberto – isto é, os contratos comprados e vendidos que ficam na prateleira. O investidor não residente já representa cerca de 20% do mercado – o que não é pouco -, atuando através de brokers no Brasil. Os agropecuários são 100% internacionalizados, com depósito de garantias e liquidação em Nova York. Faltam alguns detalhes de regulamentação, que dependem do governo, para aumentarmos a isonomia plena dos mercados da BM&F e das bolsas concorrentes. É importante notar que a internacionalização não envolve só a Bolsa, envolve a brokeragem também. Por isso lançamos uma campanha e um programa de apoio à competitividade do corretor brasileiro. Por volta de julho as corretoras habilitadas estarão recebendo os selos do Programa de Qualidade Operacional.

Como o senhor vê o processo de fusão de bolsas lá fora?

A tendência é a formação de grandes centros de liquidez e integração transcontinental. Isso já aconteceu com as Bolsas de Nova York/Paris/Londres e também com a Eurex, liderada pelos alemães, que entrou no mercado americano. O risco é que, com as fusões, aconteça uma superposição de esferas reguladoras. Quem não tiver firmeza poderá, entre outras coisas, perder a capacidade de fixar preços e também de regular ou auto-regular seu próprio mercado.

Em que estágio está a desmutualização da BM&F e conseqüente abertura de capital?

A AGE de dezembro autorizou o Conselho a concluir estudos, que serão apresentados a uma nova Assembléia, a ser convocada dentro de um mês ou dois, para bater o martelo sobre o modelo da desmutualização. Isso passa pelo crivo do Banco Central e da CVM. Depois dessa fase poderemos estudar a abertura do capital. Note que desmutualização e IPO são passos diferentes. Só estou falando sobre o primeiro passo.

O sistema de impostos limita as atividades da BM&F no que se refere à atração de investidores externos?

Nesse caso, paradoxalmente, é o contrário. O sistema de impostos dificulta algumas operações internas de cobertura, principalmente pelo cliente corporativo não financeiro. Mudamos o contrato de álcool, que foi rebatizado para etanol, e relançamos na semana passada com entrega no porto, cotado em dólar, resolvendo o problema para o operador internacional. Mantemos uma boa linha de contato com os técnicos do Tesouro e temos dado um encaminhamento positivo para os problemas que ainda existem no mercado interno.

Além do contrato de etanol, quais outros produtos estão na fila?

Estamos estudando metais não-ferrosos e derivativos não padronizados. Até há algum tempo nosso modelo de registro de swaps (trocas) e outros produtos negociados no balcão era único no mundo. Recentemente, vi que as grandes bolsas internacionais estão caminhando para entrar também no que já fazemos aqui há tempos.

Com a pressão no câmbio, hoje, há muita procura por hedge. O senhor teme algum desequilíbrio neste sentido?

O câmbio no Brasil é livre e o mercado já aprendeu que a moeda sobe e desce. É uma questão de cultura. Quando o euro foi lançado, poucos achavam que se valorizaria diante do dólar e foi o que aconteceu. Quem trabalhar coberto (hedgeado) não tem por que temer a volatilidade. Aliás, já temos empresas de grande porte destacando no balanço os benefícios do hedge.

O empresário brasileiro sabe usar bem o mercado futuro como proteção ou ainda temos que avançar nesta cultura?

O uso de hedge lá fora por clientes corporativos não financeiros chega a 90%. No Brasil, fica abaixo de 20%. Estamos trabalhando para desenvolver a cultura do cliente não financeiro, que é onde o carro pega. Por conta disso, recentemente fechamos parcerias com Fiesp, Ciesp, Amcham para treinamento e esclarecimentos.

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