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Biosev sofre pressão de reflexos do IPO de 2013

Unidade Passa Tempo, em Rio Brilhante, MS
Unidade Passa Tempo, em Rio Brilhante, MS

Quando fez sua oferta pública inicial de ações (IPO) no ano passado na BM&FBovespa, a Biosev, braço sucroalcooleiro da multinacional francesa Louis Dreyfus , trouxe uma novidade. A companhia ofereceu aos investidores que comprassem suas ações na oferta a opção de vender os papéis de volta aos controladores após um prazo de 15 meses, pelo preço pago na oferta corrigido por juros. Essa opção seria detonada se a cotação dos papéis da empresa na bolsa, ao fim do prazo, não superasse R$ 16,57. Os meses se passaram, julho chegou e, atualmente, as ações valem R$ 6,40.

Obviamente, todos os acionistas que têm as opções em mãos vão querer exercê-la. Além de a Biosev ter de desembolsar aproximadamente R$ 600 milhões para honrá-las, a situação criou um problema adicional à empresa. Quando recomprar as ações, através da Hédera Investimentos, veículo que criou para lançar as opções, a controladora Louis Dreyfus Commodities (LDC) ficará com mais de um terço dos papéis em circulação na bolsa (free float) – o que dispara, conforme a Instrução CVM 361, a necessidade de realização de uma oferta pública de ações (OPA) por aumento de participação. Ou seja, teria que ser lançada uma oferta para todos os acionistas, o que demandaria ainda mais recursos.

Para evitar esse problema, a Hédera recorreu à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pediu um prazo de 24 meses, a contar da data da liquidação financeira do exercício das opções, para recompor o percentual de ações em circulação sem ter de fazer a OPA. Após a apreciação do assunto pelo colegiado, o prazo concedido para a controladora foi de 18 meses.

Inicialmente, a Hédera havia feito uma consulta à autarquia para confirmar seu entendimento de que, por conta das características de seu IPO, coordenado pelo BTG Pactual, não haveria a obrigatoriedade de realizar a OPA por aumento de participação. No entanto, a área técnica manifestou entendimento contrário e informou que a oferta deveria ser lançada. A área técnica sugeriu que a empresa solicitasse à CVM autorização para não realizar a OPA por aumento de participação desde que se comprometesse a vender o excesso de ações que viesse a adquirir em um prazo de três meses.

Diante dessa primeira resposta da área técnica, Biosev e Hédera optaram por desistir da primeira consulta e fazer o pedido de um prazo de 24 meses para recompor o percentual da empresa em circulação. A solicitação foi justificada por ambas em razão do “momento atual do mercado e das dificuldades enfrentadas por todos os agentes, reduzido grau de liquidez e o alto grau de insegurança para a tomada de decisões por parte dos investidores”. Além disso, observaram que precisariam de tempo para estruturar a venda dos papéis.

Depois de seu IPO, a Biosev ficou com 41,52% do seu capital social em circulação (free float), ou 85,869 milhões de ações. Com o exercício das opções, a controladora deverá comprar 37,406 milhões dessas ações, reduzindo o percentual livre para a negociação na bolsa para 23,44%. Esse percentual também não atende aos 25% exigidos pelo Novo Mercado, segmento de listagem da BM&FBovespa no qual a Biosev é negociada. A bolsa já autorizou a Hédera a recompor o percentual exigido pelo Novo Mercado no prazo de um ano. Para tanto, a Hédera deverá vender, nesse período, 3,239 milhões de ações, ou 1,56% do capital.

Após essa recomposição, a empresa ainda terá de vender mais 5,543 milhões de ações, ou 2,68% da companhia, para que o “excesso de participação” adquirida por conta do exercício de opções seja equacionado. Se a empresa tiver de fazer também essa última venda no prazo de um ano, significaria uma venda em mercado de 8,783 milhões de ações, ou 18,12% do free float, o que poderia prejudicar ainda mais as cotações da Biosev.

No mês passado, a empresa informou que teve no quarto trimestre da safra 2013/14, encerrado em 31 de março, um prejuízo líquido de R$ 1 bilhão. No acumulado do ano, quando a receita líquida alcançou R$ 4,3 bilhões, o prejuízo líquido chegou a R$ 1,5 bilhão. A empresa fez um empréstimo sindicalizado de US$ 440 milhões que, segundo seu diretor financeiro, Paulo Prignolato, ajudará a alongar sua dívida – os compromissos de curto prazo somam cerca de R$ 1,9 bilhão.

A estratégia de ofertar as opções no momento do IPO foi adotada porque a Biosev precisava se listar em bolsa até agosto de 2014, por conta de contrato fechado na fusão da Biosev (antiga LDC-SEV) com o Grupo Santelisa Vale. O documento regula as condições do refinanciamento da dívida bancária da Santelisa Bioenergia com a Usina Continental e com Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Itaú BBA, que estão como coordenadores da oferta. E previa que, na oferta, 30% dos recursos captados para o caixa da Biosev amortizariam a dívida com credores. Antes da listagem em bolsa, em abril do ano passado, a Biosev já tentava há alguns anos abrir capital, sem sucesso.

A opção foi concedida pela controladora como “uma demonstração de confiança negócio” e a Hédera depositou, com recursos próprios, o valor necessário para honrar a opção na CBLC.

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