Mercado

Biorefinarias alavancam lucros do setor

Além do álcool combustível e do açúcar, a cana pode gerar uma série de produtos, trazendo para a indústria sucroalcooleira inúmeras oportunidades de ganho. Plástico biodegradável, álcool de bagaço, energia elétrica, gás carbônico e aminoácidos estão na lista dos derivados da planta.

“Em uma usina dá para aproveitar quase tudo. É possível gerar novos produtos e agregar valor aos já oferecidos. Se o setor adotar o conceito de biorefinaria, aumentará o tempo médio de produção, que é de 180 dias ao ano”, explica Jaime Finguerut, gestor de programas de pesquisa e desenvolvimento do Centro de Tecnologia Copersucar.

Ao se tornar uma biorefinaria a usina agrega ao pólo industrial fábricas capazes de produzir bens a partir de qualquer resíduo. Com isso, cresce o potencial para ganhar novos mercados com álcool e subprodutos de cana.

A descoberta de novos filões exige das refinarias investimento em estrutura, pesquisa e desenvolvimento. “Um exemplo é a produção do álcool DHL, que provém da sobra do bagaço da cana. Esse tipo de industrialização está em fase final de desenvolvimento e precisa apenas de um estudo para viabilizar o álcool de bagaço em planta industrial”, conta Finguerut.

A melhor solução para o aumento da produtividade, segundo ele, é a criação de uma cadeia produtiva eficaz, principal benefício da biorefinaria. “Na indústria alimentícia é possível utilizar a levedura seca, subproduto da produção de álcool, para a produção de ração, uma vez que esse produto possui 40% de proteína”, diz Finguerut. “Há estudos para a utilização da levedura seca também na alimentação humana. Atualmente, um terço das usinas já aproveita esse subproduto.”

Nessa cadeia de negócios, as oportunidades para a comercialização de gás carbônico (CO 2), principalmente para as fábricas de refrigerantes e indústria química, são grandes. “O processo de fermentação gera CO 2 puro e de qualidade”, diz Finguerut.

A produção de plástico biodegradável (PHB) é outra fonte de lucros para o setor. “O PHB ainda é mais caro que o plástico comum e a viabilidade da produção dependerá da maturidade desse mercado. É uma questão de volume.”

Algumas experiências mostram que o mercado para o álcool combustível não se restringe aos automóveis. Na África, a utilização do álcool em forma de gel estende-se aos fogões nas residências. É um produto barato, que compete com o GLP, diz Finguerut. “Para comercializar o álcool para os fogões, as mudanças industriais são mínimas”, afirma José Roberto Moreira, do Conselho do Centro Nacional de Referência de Biomassa.

O setor de aviação também atrai a atenção dos fabricantes de álcool combustível. Se na aviação comercial, o álcool não consegue competir com o querosene, na aviação rural a situação é um pouco mais favorável. “Os aviões pequenos utilizam gasolina especial, nesse caso a diferença de preço é grande”, diz Moreira.

A Aeronáutica Neiva, subsidiária da Embraer, comercializa um modelo de avião movido a álcool e aposta na transformação dos modelos já vendidos para o combustível vindo da cana. Entre as vantagens, a empresa oferece economia de 60% nos gastos com combustível e aumento de cerca de 5% na potência do motor.

Outro produto que anima os usineiros é a produção de energia elétrica a partir do vapor gerado na queima do bagaço de cana. A tecnologia é utilizada pelas próprias usinas, que hoje são auto-suficientes em energia elétrica. “Precisamos apenas de um preço de mercado viável para incentivar investimentos na construção de novas geradoras de energia excedente”, diz Guilherme Almeida Prado, analista de projetos do Grupo Cosan.

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