Mercado

Biomassa substituirá petróleo, diz Sachs

“Estamos no início da moderna civilização da biomassa.” A frase é do economista e sociólogo Ignacy Sachs, coordenador do Centro de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da França. Em palestra no Instituto de Estudos Avançados da USP, ele apresentou sua avaliação de que a era do petróleo está no fim.

Na opinião do especialista, o modelo atual de civilização será inevitavelmente substituído. “Primeiro saímos do carvão para o petróleo, e agora vamos para a biomassa, que, no fundo, significa energia solar, que é renovável.” Dependendo de como a transição ocorra, Sachs acredita que o novo modelo energético poderá levar a uma grande transformação econômica e social, resultando em uma civilização sustentável do ponto de vista ambiental e social.

Sachs apresenta três motivos para sua certeza de que ocorrerá uma mudança no padrão energético. O primeiro são os estudos que apontam para um pico na extração de petróleo mundial em 10 a 20 anos. O segundo fica por conta da geopolítica. O custo de depender do Oriente Médio para as suas fontes energéticas estaria muito alto para os Estados Unidos e seus aliados. Por último, o dilema ambiental. O petróleo é o principal responsável pela emissão de gases do efeito estufa e o Protocolo de Kyoto já impõe a redução do seu uso.

Transição

A transição de uma matriz energética para a outra levará décadas, lembra Sachs. Mas o economista diz que cada vez mais surge um consenso em torno dos biocombustíveis. O fato é que, com o petróleo a US$ 60 o barril, eles estão competitivos, especialmente o álcool obtido a partir da cana-de-açúcar.

O Brasil é o exemplo a ser seguido, diz Sachs. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), ressalta, também trabalha com a perspectiva de voltar sua matriz energética para os biocombustíveis. Um estudo recente do USDA aponta que o país pode praticamente se livrar do petróleo em 20 anos. Os EUA têm um amplo programa de estímulo à produção de etanol à base de milho, que não é muito eficiente para a produção de energia. Isso porque o custo energético da produção do cereal também é alto, em razão do uso de fertilizantes e outros insumos derivados do petróleo. No caso brasileiro, o custo é bem mais baixo.

Custo no Brasil é mais barato

Segundo dados do presidente da Crystalserv, João Carlos de Figueiredo Ferraz, o custo de produção no Brasil é de 0,3 unidade de energia para cada litro produzido de álcool. Nos EUA, é de 1,5 unidade de energia para cada litro. Mas a grande aposta do USDA, segundo Ignacy Sachs, é o etanol produzido a partir da celulose, ou seja, a partir de bagaço ou qualquer tipo de vegetal. No caso da cana, usando o bagaço, acrescenta o economista, seria possível produzir 90% a mais de álcool com o uso da mesma tonelagem de matéria-prima.

O economista destaca que esta é uma oportunidade de se buscar uma real sustentabilidade da civilização no planeta. “Para isso, porém, não podemos apenas trocar um combustível pelo outro. É preciso repensar todo o padrão de consumo mundial.”

Banner Revistas Mobile