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Bioenergia: do Brasil para o mundo

Além de ser o pioneiro na produção da bioenergia para uso em transporte automotivo, até recentemente o Brasil era o único país a ter um programa para a substituição dos combustíveis fósseis — o Pro-álcool.

A produção de biodiesel, uma realidade na Europa e nos Estados Unidos, deve constituir, no Brasil, uma meta mais ambiciosa, tanto em termos de defesa do meio ambiente, quanto da geração de empregos no campo, portanto, de cunho social.

Produzimos, com eficiência, plantas oleaginosas cujos frutos, reagindo com o álcool, dão origem ao tipo de combustível próprio para os motores de auto-combustão. Já dominamos plenamente a tecnologia para a transformação dos óleos vegetais em rica fonte de energia, matéria-prima para o biodiesel.

Dentre as oleaginosas disponíveis, a soja é a campeã, em termos de custo e de volume de produção, por permitir uma forma de agricultura mecanizável, podendo assim ocupar grandes áreas e abrindo campo para altos investimentos.

Os ganhos que o Brasil vem tendo com isso têm sido muitos em termos de fortalecimento da agricultura e da agroindústria, com geração de empregos e desenvolvimento tecnológico.

Observa-se, hoje, o empenho do Governo Federal para o incentivo ao uso do óleo de mamona. Esse empenho se justifica pelo fato da mamona crescer espontaneamente, nas áreas rurais de todo o País. Assim, se os preços forem compensadores, os agricultores terão condições de colher, secar, peneirar e ensacar manualmente os grãos, sem a necessidade de grandes investimentos. Suas características químicas e físicas permitem aplicações como lubrificante de alto desempenho ou como impermeabilizante (neste caso, após hidrogenação), mais nobres que biodiesel. Tudo isso justifica o incentivo e até o subsídio à produção, principalmente pelos benefícios sociais.

Outras fontes de óleo com características semelhantes, sob o ponto de vista químico, são as palmáceas, como o coco, o babaçu, o dendê. Entre as palmáceas, o babaçu apresenta maior potencial, pois, além do óleo, tem como subprodutos o amido, as fibras e um carvão vegetal de alta qualidade.

Planta nativa do País, o babaçu tem sido criminosamente erradicado para dar lugar a pastagens. Assim, há necessidade urgente de um programa que incentive o melhor aproveitamento desta fonte de bioenergia. Atualmente existem estudos que mostram as melhores formas de cultivo e de processamento do babaçu, substituindo os processos atuais, que, além de artesanais, exploram o trabalho escravo e o infantil.

O dendê é a oleaginosa de maior produtividade entre as palmeiras, por se desenvolver bem em regiões úmidas. O problema que se tem com essa cultura é a agressão sofrida por pragas, o que exige o uso de agrotóxicos. Faz-se necessário, assim, um programa de pesquisas no sentido de debelar este problema, o que permitirá que o dendê passe a ser uma rica fonte de óleo para uso industrial.

Importante fonte de energia, ainda pouco explorada no Brasil, é o carvão vegetal. A matéria substitui, com grande vantagem, o carvão mineral na produção de aço com melhor qualidade. Alem disso, o carvão vegetal exige a plantação de vastas áreas de florestas de eucaliptos, o que traz vantagens para o meio ambiente. É pouco divulgado o fato de que uma floresta madura absorve pequena quantidade de CO2, enquanto uma floresta em crescimento o absorve em altos volumes, gerando quantidade aproximadamente igual de oxigênio. Assim, as jovens florestas que estão substituindo pastagens ou terrenos não aráveis contribuem para a redução do efeito estufa.

Outra vantagem do eucalipto é que ele deposita, anualmente, cerca de 25 cm de matéria orgânica no solo, melhorando sua fertilidade. Com as condições favoráveis de extensão territorial e clima, além dos conhecimentos já acumulados, o Brasil tem condições de liderar o mundo na produção de carvão vegetal, deixando de depender da importação de carvão mineral.

Note-se que a economia de divisas é apenas uma das vantagens, quando se pensa na geração de oportunidades para melhor aproveitamento da nossa condição climática e territorial: combinando a produção de biomassa e mineral, poderemos exportar metais puros e suas ligas, no lugar dos minerais, o que representa exportar, indiretamente, a produção agrícola.

(*) Nilton Nunes Toledo, engenheiro de Produção, mestre em Engenharia Mecânica, professor-doutor do Departamento de Engenharia de Produção da Poli-USP e em Administração da Produção da FEA-USP, é especialista em bioenergia.

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