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Biodiesel do Paraná virá do óleo de girassol

Qualquer transeunte percebe o desconforto que os escapamentos de veículos movidos exclusivamente a diesel provocam no trânsito. Mas há também os riscos para o meio ambiente: além de altas concentrações de gases provocadores do efeito estufa, há a emissão de material particulado e fuligem, altamente nocivos ao ser humano.

“Por esses fatores, a norma para adicionar ao diesel uma parcela de biodiesel será muito benéfica”, afirma Bill Jorge Costa, gerente da divisão de biocombustíveis do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). “Também é preciso descobrir alternativas para os combustíveis fósseis, que estão se esgotando rapidamente”, ressalta.

A norma a que Costa se refere foi aprovada, na última terça-feira, na Câmara dos Deputados. Ela fazia parte da Medida Provisória do Biodiesel, agora lei, regulamentada pelo Programa Nacional de Uso de Biodiesel. O programa prevê adição de 2% do novo combustível ao convencional, com o objetivo de diminuir o consumo e obter ganhos econômicos – reduzindo importações – e ambientais. Além disso, a lei abre oportunidades para o Nordeste, uma vez que a mamona, planta bem adaptada ao semi-árido, deve ser uma das principais fontes do novo combustível.

No Paraná, as pesquisas apontam outros vegetais como forma de se extrair o óleo para fabricação do biodiesel: girassol e nabo forrageiro. “Também fazemos pesquisas com óleo de soja, já que o Estado é grande produtor, mas o óleo de girassol deverá ser a principal fonte”, explica Costa. Os trabalhos para desenvolver a produção de biodiesel no Paraná estão sendo feitas em duas frentes. A Secretaria de Estado da Agricultura está instalando núcleos de observação no interior para garantir a qualidade do óleo de girassol, e o Tecpar, que faz pesquisas na área há mais de três anos, realiza os experimentos para obtenção do combustível. “Estamos criando uma unidade piloto onde faremos os testes. Ela deve estar pronta até agosto”, diz o gerente. A unidade terá capacidade para 500 litros diários.

Necessidade

Costa ressalta, porém, que o Paraná ainda está longe de produzir a quantidade necessária para poder garantir a mistura prevista na lei. “Para isso precisaríamos estar produzindo aproximadamente 800 milhões de litros por ano”, afirma. “Mas existe apenas uma planta para produção de biodiesel no Estado, em Rolândia”, diz. Para sanar essa lacuna produtiva, o governo do Estado assinou, essa semana, um protocolo de intenções com a Petrobras para a construção de uma unidade de produção de biodiesel em São Mateus do Sul, que está em fase de estudo de viabilidade.

Mercado futuro

Costa diz que, assim como o programa federal, o paranaense tem como foco a agricultura familiar. “A idéia é alavancar a economia de pequenos agricultores, dando incentivo para a produção de oleaginosas.” Mas o gerente admite que caso não haja a entrada de grandes produtores no programa, dificilmente a produção atingirá o número de litros suficiente de biodiesel para mistura no diesel comum. “Se for resolvida a questão das commodities para a utilização da soja para a produção de biodiesel, se criará um excelente mercado futuro para os agricultores do Estado.”

Produto é obtido através de reação química com álcool

Bill Jorge Costa, que também é coordenador do Centro Brasileiro de Referência em Biocombustíveis, explica que o biodiesel é um produto que se obtém da reação química entre qualquer óleo vegetal com álcool etílico ou metílico. “Ele tem queima limpa e é derivado de fontes naturais e renováveis. É obtido principalmente de óleo de girassol, amendoim, mamona, sementes de algodão e de soja”, diz.

É uma alternativa renovável, que resolve dois problemas ambientais ao mesmo tempo: aproveita resíduos, já que muito desses vegetais vão parar em aterros, e reduz a poluição atmosférica.

Em função de suas características de queima e pela presença do oxigênio na sua estrutura, reduz 78% das emissões poluentes como o dióxido de carbono, responsável pelo efeito estufa, 98% de enxofre na atmosfera e 90% das emissões de fumaça.

O gerente do Tecpar explica que, misturado ao diesel convencional, se transforma em combustível ideal para ônibus e caminhões. “No Brasil, que tem grande produção de cana-de-açúcar, adota-se o biodiesel de base etílica”, diz. Para ele, a associação entre a agroindústria da soja e da cana é estratégica. “Na Europa já se utiliza biodiesel homologado e definido”, afirma Costa. Nesses países, as misturas variam entre 5% a 12% com o óleo comum e a indústria automobilística produz motores regulados para funcionar com a mistura.

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