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Biodiesel atrai grandes grupos e investimentos de R$ 1,2 bilhão

A Agrenco é um bom retrato do agronegócio moderno brasileiro. O escritório de São Paulo fica em um edifício de última geração. Na sala do presidente, a tela do computador é de cristal líquido, tem 42 polegadas e está pregada na parede. Ali, o paulista Antonio Iafelice, fundador e maior acionista, faz contato com os escritórios da Argentina, Inglaterra, Itália, França e de Cingapura. Dos 106 funcionários, 26 têm mestrado e 6 são PHD. Iafelice é um dos três do time com mais de 50 anos.

O grupo agrícola, criado há 15 anos na França e com sede na Holanda, é especializado nas áreas financeira, de comercialização, tecnologia e logística. O mais novo negócio é o biodiesel.

Em sociedade com o grupo japonês Marubeni, a Agrenco está à frente de um dos maiores projetos de biodiesel anunciados até agora no País. Em dois anos, suas três usinas – duas em Mato Grosso e uma no Paraná – deverão atingir produção de 380 milhões de litros por ano de biodiesel feito a partir de soja, outras oleaginosas e gordura animal.

A Agrenco faturou US$ 1,4 bilhão em 2006 e espera dar um salto em 2008, quando seus três complexos de bioenergia (que além de gerar energia vão produzir biodiesel) estiverem operando a plena carga. Até lá, o grupo prevê receitas de US$ 2,5 bilhões. Passei a vida dando lucro para os outros. Agora chegou a vez de lucrar com minhas idéias, diz Iafelice, considerado um dos executivos mais influentes do agronegócio atual, segundo o professor da Harvard Business School, Ray Goldberg, um dos maiores especialistas americanos no assunto.

O projeto da Agrenco é parte do segundo ciclo do biodiesel no País. O filão, até então dominado por projetos experimentais, apenas para consumo próprio, virou negócio de gente grande.

Passa agora a ser disputado por grupos capitalizados, dispostos a investir centenas de milhares de reais em usinas de grande porte para abastecer os mercados nacional e internacional.

Neste ano, os investimentos no setor devem dobrar e atingir R$ 1,2 bilhão.

Só o volume de combustível alternativo que sairá da Agrenco a partir de 2008 é cinco vezes maior que tudo o que foi produzido no País no ano passado.

Neste ano, a produção deve ser quase dez vezes superior à de 2006, segundo o Ministério das Minas e Energia. Os números ainda são considerados modestos. O consumo tende a crescer a partir de 2008, quando o governo tornar obrigatória a mistura de 2% de biodiesel no diesel. Mas é evidente que 2007 já será a fase de arrancada, diz o diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, que acompanha de perto o setor.

As novas usinas que estão saindo do papel terão capacidade para produzir pelo menos 100 milhões de litros por ano, o que é considerado economicamente viável por especialistas.

De maneira geral, as empresas desse novo ciclo estão estreitamente ligadas ao campo, como a Caramuru Alimentos, as produtoras de grãos ADM e Granol e o frigorífico Bertin, que inaugura em março, no interior de São Paulo, a maior planta para produção de biodiesel a partir de gordura animal.

A Bertin Biodiesel, unidade de negócios mais jovem do grupo, pode faturar perto de R$ 200 milhões no seu primeiro ano de operação. Esse é um negócio estratégico para o Bertin.

A produção não será apenas para consumo próprio, mas para ser vendida no mercado interno e, futuramente, até no externo, diz o diretor-comercial da unidade, Rogério Barros. O frigorífico está investindo entre R$ 20 milhões e R$ 40 milhões no projeto. De certo modo, a gente esperava que isso fosse acontecer perto de 2008, mas o que nos surpreendeu foi a quantidade de projetos que apareceu nos últimos meses, diz um integrante do Ministério das Minas e Energia. Era natural que os grandes grupos entrassem. A dimensão do mercado de combustíveis força uma busca de economia de escala.

OPORTUNISMO

O combustível alternativo também tornou-se alvo de atenção de investidores estrangeiros.

Em alguns meses, deve ser anunciado um projeto de US$ 200 milhões no interior de Mato Grosso capitaneado por um fundo de investimento inglês especializado em petróleo e um grupo chinês de energia e varejo. A construção deve começar até o fim do semestre. O início da produção está previsto para março de 2008, diz André Luís Pereira, sócio da Petrobio, empresa contratada para montar a usina. Segundo ele, o complexo incluirá, além da usina, uma central de esmagamento de soja. O nome das empresas ainda é mantido sob sigilo, porque o fundo inglês está preparando a abertura de capital na Bolsa de Londres. Como toda corrida do ouro, o biodiesel também atrai aventureiros. Tem muitos oportunistas, projetos de fundo de quintal. Da noite para o dia, muita gente diz que tem tecnologia para montar uma usina, diz o consultor em agronegócio, Newton Roda. O Brasil, mesmo assim, vai tornar-se um grande fornecedor de bioenergia.

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