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Biocombustível de aviação tem potencial forte no Brasil, mas requer políticas públicas

O Brasil tem condições de se tornar um ator importante na produção global de biocombustíveis para aviação, mas o desenvolvimento desse potencial depende de mais investimentos em pesquisa, infraestrutura e na adoção de políticas públicas de estímulo, diz relatório elaborado pelas empresas Boeing e Embraer, em conjunto com a Fapesp e a Unicamp.

No trabalho, intitulado Plano de Voo Para Biocombustíveis de Aviação no Brasil: Plano de Ação, os autores, em sua maioria pesquisadores ligados à Universidade Estadual de Campinas, notam que o Brasil já é um grande produtor de alguns dos principais insumos para esse tipo de combustível – “o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, o segundo maior produtor de soja e registra o mais baixo custo de produção de eucalipto”, três culturas tidas como “candidatas naturais” – mas advertem que, para aproveitar essa vantagem, será preciso melhorar a infraestrutura de transporte.

“A maioria das culturas demanda melhorias de logística pois, em geral, a infraestrutura de transporte no Brasil é precária e as matérias-primas são produtos de baixa densidade e valor unitário”, diz o texto, acrescentando, mais adiante, que as principais regiões consumidoras de combustível de aviação, no País, ficam distantes dos grandes centros de produção agrícola.

O trabalho afirma, ainda, que o Brasil tem condições de desenvolver lavouras para va produção de biocombustível sem pôr em risco a segurança alimentar da população. Em várias partes do mundo, a competição entre o cultivo de matéria-prima para biocombustível e o plantio de alimentos já gera problemas graves, como apontou um trabalho publicado ano passado na Alemanha.

“O Brasil é um dos melhores exemplos mundiais de que é possível conciliar uma produção sustentável de biocombustível com a segurança alimentar”, afirma o relatório sobre biocombustível de aviação. “O Brasil utiliza somente 7% de sua terra para agricultura. O presente relatório indica que o País tem terra abundante disponível para bioenergia”.

Metas e testes

A indústria da aviação comercial adotou metas de redução de emissões de CO2, com uma redução de sua produção de gases causadores do efeito estufa em 50%, até 2050, sobre os índices de 2005.

Um dos pontos-chave para o cumprimento desse objetivo é a criação dos chamados biocombustíveis “drop-in”, que podem ser misturados ao querosene de aviação comum e usados nos mesmos tipo de motor já existentes – uma estratégia diferente, por exemplo, da adotada para o uso de etanol em automóveis, prática que requer uma tecnologia diferente da do motor comum a gasolina.

No ano passado, durante a conferência Rio+20, duas empresas brasileiras fizeram voos de demonstração usando biocombustíveis. A Azul Linhas Aéreas voou com um Embraer E-195, utilizando um “drop-in” produzido no Brasil pela Amyris, a partir de cana-de-açúcar, por meio de biotecnologia. Já a Gol Linhas Aéreas, com um Boeing 737-800, usou querosene de aviação comum com 50% de biocombustível produzido a partir de uma mistura de óleo de milho não comestível e óleo de cozinha usado. Em 2010, a TAM já havia testado um combustível de aviação contendo 50% de combustível fabricado com sementes de pinhão manso produzidas no Brasil.

Desafios

O relatório reconhece que há questões ambientais ligadas à produção e ao uso de biocombustível que precisam ser tratadas caso a caso: por exemplo, se a combinação entre o cultivo da lavoura escolhida e tecnologia de refino adotada realmente se mostra sustentável e gera um balanço favorável de emissão de CO2.

“A certificação de sustentabilidade se tornará, cada vez mais, um requisito de acesso aos mercados”, alerta o texto.

O governo, por sua vez, terá de desempenhar um papel importante no patrocínio da pesquisa científica e na definição de uma especificação para o combustível.

“Como em outras tecnologias inovadoras, o desenvolvimento de biocombustíveis para a aviação depende fortemente de mecanismos de apoio e de políticas públicas apropriadas”, afirma o trabalho.

“Políticas públicas são fundamentais para desenvolver a tecnologia agroindustrial de biocombustíveis para a aviação, assim como será necessário implementar também medidas regulatórias e financeiras para respaldar a produção e o uso de biocombustíveis para a aviação”, afirmam os autores, acrescentando que “políticas de biocombustíveis de longo prazo, que integrem os combustíveis para todas as modalidades de transporte (…) terão de ser estabelecidas para tornar o biocombustível para aviação economicamente viável em razão do custo extra adicional” de se produzir um substituto para o querosene de aviação que atenda às exigências internacionais.

Oportunidades

O relatório vê o Brasil “excepcionalmente bem posicionado” parta desenvolver um programa de biocombustíveis de aviação, por conta da variedade de lavouras ou produtos florestais que poderiam ser explorados, embora haja importantes desafios à frente.

O combustível, aponta o trabalho, é o principal custo operacional de uma companhia aérea, representando 34% na média mundial, e 40% no Brasil. O consumo brasileiro de querosene de aviação deve crescer em 5% ao ano e, com a frota rodoviária usando cada vez mais fontes renováveis, há o risco de a aviação vir a assumir uma fatia cada vez maior das emissões de CO2 do setor de transporte no País.

O estudo afirma que, mesmo requerendo forte apoio do setor público, a adoção do biocombustível de aviação poderá trazer vantagens como benefícios ambientais, mais empregos e estímulo è economia.

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