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“Biden não negociará via ameaças e sanções, o que gera um certo alívio ao Brasil”

Afirmação é do embaixador Sérgio Amaral

São Paulo-SP, 01 de Fevereiro de 2021 - Reunião conjunta dos Departamentos COSAG e COSCEX, na Fiesp, Presidida por Jacyr Costa.
São Paulo-SP, 01 de Fevereiro de 2021 - Reunião conjunta dos Departamentos COSAG e COSCEX, na Fiesp, Presidida por Jacyr Costa.

As expectativas a respeito do novo governo de Joe Biden e os efeitos no agronegócio brasileiro foram apresentadas durante a primeira reunião de 2021 do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) e do Conselho Superior de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Coscex), ambos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), nesta segunda-feira (1º).

Com o tema “O governo Joe Biden e seus efeitos no agronegócio brasileiro”, a reunião, presidida por Jacyr Costa, contou com a participação do embaixador Sérgio Amaral e o coordenador do Insper Marcos Jank, que debateram vários pontos importantes, como o fortalecimento das pautas sustentáveis atreladas ao crescimento econômico, uma das prioridades apontadas pelo novo governo americano.

Amaral, que foi embaixador nos EUA de 2016 a 2019, dividiu sua reflexão sobre as mudanças na política estadunidense após o pleito presidencial. Ele ressaltou que o presidente americano anunciou que não negociará via ameaças e sanções.  Em direção contrária à política de Donald Trump, Biden deve retomar a questão da Organização Mundial do Comércio (OMC), paralisada pela gestão América em Primeiro Lugar. “Essa posição, se for levada à risca, nos gera um certo alívio”, disse.

Na avaliação do embaixador, Biden deverá se dedicar à restauração das alianças com parceiros tradicionais dos EUA, especialmente com a Europa. O fato deve receber uma atenção especial do Brasil, pois os Estados Unidos devem adotar medidas de alianças com os parceiros, principalmente com a Europa.

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Sérgio Amaral

“O momento atual é de extrema importância, considerando a relevante emergência da China, a pandemia [de Covid-19], a volta do multilateralismo e a questão do clima”, destacou.

Amaral destacou que a parceria com a Europa dará prioridade ao clima, e para retomar o tema, em breve será organizada uma cúpula do clima para discutir a economia verde. Ao pensar nesse quesito, Biden resgata a ideia de green new deal (em português, novo acordo verde ou novo tratado verde), criada no governo Roosevelt.

“O meio ambiente e o clima são a utopia do século 21”, enfatizou o embaixador. Ele ressaltou que a natureza da questão climática não se trata apenas de um tópico do governo, mas de um compromisso da sociedade, e o que é imposto no comércio em relação a certos produtos. Neste contexto, ele afirma que a Amazônia é um grande ativo para o Brasil, sendo preciso promover a mudança não porque os ambientalistas e estrangeiros desejam, mas sim porque o país e seu setor privado devem valorizar a biodiversidade, assim como estabelecer programas de cooperação internacional com parceiros que estão aberto a isso.

Marcos Jank, também comentou sobre os efeitos dessa eleição no agronegócio brasileiro e disse que trabalhar em conjunto com outras nações é crucial para que pontos importantes avancem: “Hoje o mundo precisa ainda mais de multilateralismo e não menos, pois temos novos assuntos críticos, que exigem essa coordenação mútua. As questões climáticas estão entre as pautas prioritárias, lembrou.

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Marcos Jank

Jank afirmou que o Brasil tem uma agenda muito mais positiva do que negativa com os EUA, citando como exemplo o desenvolvimento do mercado de etanol para outros países, como China e Índia.

Ele destacou, ainda, pontos importantes que precisam ser destravados para que a agenda avance: resolução da questão fundiária na Amazônia e a implementação efetiva do Código Florestal. “O Brasil precisa se concentrar em defender o Código Florestal e esclarecer como funciona o desmatamento legal, isso melhoraria nossa imagem”, explicou.

Segundo o coordenador do Insper, a promoção do agronegócio pode ser orquestrada pelo Itamaraty e outros órgãos do governo e por meio de mobilização do setor. Para ele é preciso participar ativamente das discussões em torno do tema para desmistificar o papel do agro com as questões da Amazônia.

Jank afirmou, ainda, que o setor privado precisa colocar na mão do governo uma proposta concreta de como fazê-lo, caso contrário não haverá possibilidade de entendimento que o Brasil está comprometido com a questão da preservação ambiental. Além disso, deve se internacionalizar e estar presente em conversas preliminares com os EUA e a Europa. “O Brasil pode ter uma agenda de complementariedade com esses países” concluiu.