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Bem-vinda a estabilidade do álcool

O preço do álcool hidratado nas usinas paulistas está 7,2% mais baixo do que um mês atrás. Nesta época, há um ano, o preço do combustível era 30% maior e o País vivia significativa crise de abastecimento do produto. Vale notar também que o atual movimento de queda de preço ocorre quando a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) registra aumento de 177% nas exportações de etanol, na comparação com o ano passado. Por exemplo, em janeiro as vendas externas do combustível alcançaram US$ 158 milhões, ante US$ 56 milhões em janeiro de 2006. É verdade que o preço do álcool nas bombas caiu apenas 2,2% nas últimas quatro semanas, diferença explicada pelos distribuidores como “descompasso natural” entre o preço das usinas e o do varejo.

Diversas razões, internas e externas, explicam esta tranqüilidade no mercado de álcool. No plano interno, a regularidade da oferta está assegurada por sólido ciclo de investimento no produto. Por exemplo, aportes do BNDES para projetos do setor sucroalcooleiro aumentaram 85% entre 2005 e 2006. As liberações de recursos dessa agência de fomento tiveram forte evolução: de R$ 590 milhões em 2004 para R$ 2,1 bilhões em 2006. No orçamento do banco está previsto para este ano aporte 25% maior para o setor.

O apoio do BNDES aos projetos de etanol não é caso isolado. Quando o governo lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foram anunciados investimentos de R$ 16,2 bilhões, com participação da Petrobras, nos projetos de expansão na produção de álcool. Vale notar: o avanço no apoio do BNDES para plantio de cana: em 2004, o banco destinou R$ 184 milhões para o setor, passando para R$ 225 milhões no ano seguinte, até atingir R$ 392 milhões em 2006. Para os projetos de usinas de álcool o salto foi bem maior: o BNDES desembolsou para este fim R$ 331 milhões em 2004, o dobro dessa quantia em 2005 e, R$ 1,3 bilhão em 2006. O banco, aliás, aumentou os aportes até para projetos de cogeração de energia a partir do bagaço de cana.

No plano externo, os preços do produto também não estão pressionando a oferta. Os embarques de álcool perderam valor nos últimos doze meses. Em março de 2006, o metro cúbico de álcool estava cotado nos EUA em US$ 550 e hoje alcança US$ 440. É fato que os preços do açúcar também não se recuperaram depois de longo período de queda o que ajuda a oferta de álcool. Porém, como mostrou estudo da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB) divulgado anteontem, o comércio com os EUA cresceu, nos últimos 12 meses, 8,5%, sustentado basicamente pelas vendas de álcool, que foram dez vezes maiores em 2006 do que no ano anterior. Para se avaliar a importância deste salto, as exportações de petróleo e derivados triplicaram nessa mesma comparação.

O Brasil domina perto de 1% das importações dos EUA (cerca de US$ 24,4 bilhões) nas contas da AEB; em 2006, as commodities avançaram na pauta direcionada aos norte-americanos, notadamente combustíveis. Por exemplo, as exportações de etanol para este mercado passaram de US$ 77 milhões em 2005 para US$ 882,3 milhões em 2006, enquanto as vendas de petróleo passaram de US$ 667 milhões para US$ 1,9 bilhão, na mesma comparação. As vendas de etanol avançaram no mercado dos EUA, apesar das barreiras impostas ao produto naquele país. Como informou a agência Bloomberg anteontem, a tarifa que incide sobre etanol importado do Brasil, de US$ 0,54 por galão, será mantida até 2008. Samuel Bodman, secretário de Energia dos EUA, segundo a agência, dispensou qualquer alteração no sistema tarifário do produto neste momento, afirmando que qualquer mudança terá de ser feita “no momento apropriado”.

Desde 2003, quando chegaram ao mercado os primeiros veículos bicombustíveis, o País não enfrentava a entressafra da cana de modo tão tranqüilo, inclusive com redução de preço. Há até tendência de queda ainda maior. É um importante sinal para o mercado externo da confiabilidade da capacidade produtora do País do combustível verde.

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