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BB vende recebíveis de agronegócio

Dono de uma carteira de crédito da ordem de R$ 100 bilhões voltada ao agronegócio, o Banco do Brasil fechou na semana passada sua primeira venda de créditos ligados ao setor a investidores no mercado de capitais. A operação, no valor de R$ 40,5 milhões, foi realizada com a emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA).

Os títulos foram emitidos pela securitizadora Gaia e possuem lastro em um contrato de fornecimento de cana de açúcar da produtora do interior paulista ACP para a Odebrecht Agroindustrial, nova denominação da ETH Bioenergia.

O CRA possui prazo de quatro anos e meio, considerado longo para o setor do agronegócio, que em geral possui linhas de crédito caras e de curto prazo. Com rendimento equivalente à taxa do depósito interfinanceiro (DI) mais 3% ao ano, os papéis foram adquiridos por clientes de altíssima renda (private) do BB. A emissão foi realizada conforme a Instrução nº 476 da Comissão de Valores Mobiliários, que dispensa o registro prévio na autarquia, desde que a operação seja restrita a até 20 investidores. Procurado, o banco não comentou o assunto.

Assim como os títulos ligados ao setor imobiliário, a aplicação em CRA conta com isenção de imposto de renda para pessoas físicas. Mas apesar do benefício fiscal e da demanda por capital por parte dos produtores, as emissões de recebíveis vinculados ao agronegócio só agora começam a decolar.

No ano passado, as ofertas públicas de CRA registradas na Cetip atingiram R$ 164 milhões, em sete operações. No fim do ano passado, o estoque do instrumento era da ordem de R$ 370 milhões, alta de 7,2% em relação a 2011.

Para João Paulo Pacífico, sócio da Gaia, a venda de recebíveis a investidores no mercado de capitais pode se tornar uma fonte alternativa de captação para empresas e produtores rurais. “O mercado de CRA tem potencial para se tornar, no longo prazo, o que é hoje o imobiliário”, afirma. No ano passado, os certificados de recebíveis imobiliários (CRI) registraram emissões de R$ 9,9 bilhões.

A queda dos juros aumentou a demanda por ativos privados de renda fixa, em especial os que contam com benefício fiscal. “Existe hoje um excesso de investidores de CRI e um excesso de projetos na área de agronegócio. O desafio é migrar essa demanda”, diz Pacífico.

Uma das dificuldades para viabilizar a emissão de títulos com lastro em recebíveis do agronegócio é a natureza sazonal do fluxo de caixa e os riscos do setor, desconhecidos da maior parte dos investidores. “Existe uma preocupação de que as operações sejam bem estruturadas para evitar problemas”, afirma o sócio da Gaia.

Na emissão da ACP, o fluxo de pagamentos aos investidores seguirá o período de safra da cana, entre os meses de julho e outubro. Os pagamentos realizados pela Odebrecht pelo fornecimento da cana passarão por contas da Gaia e só depois da remuneração dos investidores irão para a ACP. Os papéis possuem ainda garantia de cédula de produto rural (CPR) emitida pelo produtor Alamy Candido de Paula, dono da ACP.

Além de melhorar o perfil de endividamento, a produtora pretende usar os recursos captados para fomentar a atividade de plantio, afirma Tiago Medeiros, diretor da consultoria Czarnikow, que atuou como assessora da ACP na operação. A produtora tem planos de expandir a capacidade de 600 mil para 700 mil toneladas de cana.

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