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Balanço do ano na cana mostra oportunidades desperdiçadas

Praticamente fechadas as atividades em 2011 com o final da safra, o setor sucroenergético apresentou saldo positivo. Mas, ao final, pode-se dizer que este foi um ano de muitas oportunidades perdidas, deixando de trazer ganhos para a sociedade.

Uma primeira oportunidade perdida veio com a safra de cana 8% menor devido ao clima, às pragas e às doenças, à falta de investimentos e a outros fatores.

E mais: a cana mostrou-se 2% pior em qualidade. Cerca de 100 milhões a 150 milhões de toneladas a mais poderiam ter sido produzidas, o que representaria faturamento de R$ 700 milhões a R$ 1 bilhão para a atividade agrícola.

A falta dessa cana logicamente gerou menos açúcar e menos etanol. No caso do açúcar, havia espaço no mercado mundial para serem exportados mais de 2 milhões de toneladas, o que representaria pelo menos cerca de US$ 2 bilhões a mais na balança comercial.

A falta de etanol trouxe outro prejuízo: a necessidade de importar mais de 1 bilhão de litros dos EUA, o que representou gasto desnecessário de quase US$ 1 bilhão na balança comercial.

No caso do mercado interno de etanol, a oportunidade perdida foi imensa, pois a frota cresceu. Poderiam ter sido vendidos mais 10 bilhões de litros de hidratado, o que representaria faturamento próximo a R$ 18 bilhões, gerando pelo menos uns R$ 4 bilhões em tributos. Essa venda permitiria exportar petróleo e gasolina, pois o etanol ocuparia o mercado interno.

Cerca de 15 a 20 novas usinas por ano seriam necessárias para o crescimento sustentável da oferta, mas apenas 5 entraram em operação.

Pode-se dizer que o setor de bens de capital deixou de vender algo próximo a R$ 8 bilhões, que gerariam grande valor em tributos e inúmeros empregos.

Em 2011, também pouco se avançou na cogeração de eletricidade. Sem reconhecimento em preço para essa energia renovável, existiram poucos projetos.

Para 2012, é provável que a safra seja um pouco maior, mas ficará muito aquém do necessário para atender as diferentes demandas atuais, além de mais 3 milhões de novos carros no mercado.

Fora isso, existe boa chance de os preços internacionais do açúcar serem menores, em virtude de boas produções nos países concorrentes.

É o momento de se desenhar no Brasil uma safra bem mais alcooleira, desde que os preços remunerem, e com isso arbitrar positivamente os preços do açúcar em 2012.

O setor sucroenergético termina 2011 com uma coleção de oportunidades perdidas, que serão maiores ainda em 2012. Quem perde com tudo isso não é o setor de cana, é a sociedade brasileira.

Essas perdas geram menos exportações e mais importações, menor ajuda no combate à inflação, menos empregos, menos tributos e menos desenvolvimento.

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP (campus Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.

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