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Baixo custo do açúcar não chega ao varejo brasileiro

Nas gôndolas dos supermercados, o açúcar brasileiro faz parte de uma realidade que não corresponde a de um país que ostenta a reputação de maior produtor global, com os menores custos de produção do mundo. O quilo do açúcar brasileiro no varejo oscila entre US$ 0,35 e US$ 0,44, praticamente a mesma cotação registrada na Argentina, que tem os custos de produção 70% maiores que o do Brasil.

Levantamento da Wal-Mart, a pedido do Valor, mostra que o quilo do açúcar refinado na Argentina sai a US$ 0,41 e, na Inglaterra, a US$ 1,01. Nos Estados Unidos, o produto está cotado a US$ 0,92. Os custos de produção do açúcar nas usinas brasileiras ficam em média em US$ 150 a tonelada, enquanto na Argentina em torno de US$ 250, de acordo com analistas do setor. Nos Estados Unidos, o custo chega a ser cinco vezes maior que o do Brasil, dependendo da região produtora, oscilando de US$ 500 a US$ 750 a tonelada. Na Europa, não se produz açúcar por menos de US$ 600 por tonelada.

“Todas as pontas da cadeia estão ganhando. As usinas ainda estão vendendo caro o produto na origem”, diz um especialista do setor. Para Paulo Mendes Passos, diretor comercial da Açúcar Guarani, com duas usinas de açúcar e álcool no interior de São Paulo, controlada pelo grupo francês Béghin-Say , os preços do açúcar no varejo obedecem a outros critérios. “A carga tributária é grande e os fretes encarecem a distribuição”, diz. No varejo brasileiro, o grupo detém a marca Guarani. Na França, a marca Béghin-Say é uma das mais vendidas naquele país.

Os preços do açúcar no varejo acumulam em doze meses alta de 60%, de acordo com a Coordenadoria de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), de São Paulo. No mesmo período, a cotação da matéria-prima caiu 4% no mercado interno. No ano, os preços pagos às usinas caíram 40%, enquanto nas gôndolas recuaram apenas 11,4%.

Segundo Júlio Maria Martins Borges, diretor da Job Economia e Planejamento, as usinas do Brasil e da Argentina agregam praticamente os mesmos valores à sua margem de lucro. “Temos o menor custo de produção do mundo para o açúcar, mas os reflexos não são sentidos na gôndola.”

Mesmo com a queda dos preços do açúcar no mercado internacional, o que reduz os ganhos das usinas, os empresários não estão perdendo dinheiro na origem, ao contrário de outros países produtores, como Austrália e Tailândia, por exemplo. Nos últimos três anos, o setor sucroalcooleiro registra um dos seus melhores desempenhos, com a margem bruta oscilando entre 20% e 30%, dependendo da eficiência de cada companhia, considerado alta para o segmento de agronegócio. “Neste setor, a pressão da concorrência na ponta não é forte, considerando que o processo de concentração das usinas de açúcar e álcool ainda é lento”, afirma Fábio Silveira, economista da MB Associados.

Na Europa e nos Estados Unidos, regiões com os mais altos custos de produção, os preços do açúcar no varejo são mais que o dobro do praticado no Brasil, com os custos cinco vezes maiores. “Descontados os subsídios que os produtores americanos e europeus recebem, os custos se aproximam à realidade da Argentina”, diz uma fonte do setor.

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