A tonelada do bagaço da cana-de-açúcar chegou a ser disputada no primeiro trimestre de 2015, como fonte de queima em caldeiras de indústrias como a de suco de laranja. Na época, a tonelada da biomassa retirada em usinas paulistas custava entre R$ 100 e R$ 110. O preço até subia caso a usina ficasse a menos de 20 quilômetros de distância da ‘compradora.’
Neste segundo trimestre da safra de cana-de-açúcar 2016/17, o bagaço sobra em unidades paulistas de açúcar e de etanol. A sobra reflete o início antecipado da moagem em muitas unidades, o que gerou oferta também antecipada da biomassa. Houve o ganho de eficiência industrial de muitas das unidades, o que reduz as perdas de vapor e gera a consequente economia de cogeração para consumo próprio.
Outro motivo para explicar a sobra da matéria-prima do açúcar é que o mercado spot de compra de energia elétrica está retrativo, em decorrência da queda da atividade econômica industrial, principal consumidora de energia. Fora isso, a oferta de eletricidade hidrelétrica está suficiente para atender ao consumo.
Diante um quadro desses, o bagaço que sobra nas usinas despencou de preço. A tonelada que valia R$ 100 em março de 2015, hoje é comprada por até R$ 30.
O valor, conforme apurado pelo Portal JornalCana, valia na semana passada em pelo menos três unidades tradicionais do interior paulista para retirada da biomassa no local.
“O bagaço voltou a ser um problema para as usinas, apenas ocupando espaço”, revela o CEO de uma das usinas ouvidas pelo Portal JornalCana. “Já já, será melhor dar de graça essa biomassa apenas para desocupar espaço na usina.”
O que fazer?
As unidades termelétricas (UTEs) das usinas com contratos de longo prazo, seja os contratados via leilões públicos ou junto a comercializadoras, não têm problemas com a destinação do bagaço. Mas há unidades nas quais há sobra de 10% mesmo com esses contratos.
Produzir eletricidade com o bagaço extra e ir ao mercado spot não é atraente, conforme gestores de UTEs ouvidos pelo Portal JornalCana. Primeiro porque os custos de gestão do megawatt-hora (MWh) não geram remuneração. Nesta semana, por exemplo, o teto de venda do MWh no spot da região Sudeste-Centro/Oeste é de R$ 82,14.