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Avião a álcool tenta decolar na agricultura

O avião a álcool já ensaia os primeiros vôos para fazer a sua decolagem no mercado brasileiro. A Indústria Aeronaútica Neiva – subsidiária da Embraer – espera obter até dezembro de 2003 a certificação para a versão da aeronave agrícola EMB 202 Ipanema, equipada com motor movido a álcool hidratado, o mesmo combustível utilizado pelos automóveis. A empresa – que detém 85% da frota nacional neste segmento – pretende dar um novo impulso às suas vendas. “Com a introdução do motor a álcool, o total de 25 unidades vendidas em média por ano deverá subir a 40 aeronaves logo no primeiro ano”, calcula Luiz Fabiano Zacarelli, gerente comercial da Neiva.

A relação custo-benefício é o principal argumento da empresa para convencer os clientes das vantagens na aquisição desta versão do EMB 202 Ipanema. A Neiva já está cadastrando os interessados na compra da aeronave – que deverá custar em torno de US$ 227 mil – ou mesmo na conversão do motor. Luiz Zacarelli prevê, inclusive, que 100% das vendas da empresa, neste setor, serão de aeronaves a álcool. Segundo ele, a economia deverá ser, no mínimo, de R$ 170,00 por hora de vôo ou de R$ 68.000,00 por aeronave em um ano, considerando um total de 400 horas de vôo.

“Os meus cálculos são bem conservadores. Estou considerando o preço da gasolina para aviação a R$ 3,50 o litro. Mas, no mercado ela já sendo comercializada por valores acima de R$ 4,00. O litro do álcool pode ser adquirido, diretamente da usina, por R$ 0,90”, compara. Ele lembra que uma hora de vôo da aeronave a gasolina consome 70 litros e o avião a álcool, 83 litros, aproximadamente 18% a mais.

Os números mostram que a economia vai mais longe. Zacarelli diz que o setor agrícola no Brasil pode reduzir os seus gastos em mais de R$ 50.000,00 por ano, se todos os 800 aviões agrícolas em operação, comercializados pela Neiva, passarem a ter motor a álcool. Isto representará um consumo de 26,5 milhões de litros do combustível por ano. De acordo com o gerente comercial, o investimento para a conversão do motor, calculado em US$ 20 mil, pode ser “recuperado” em apenas um ano, com a economia no preço do álcool. A Neiva acredita que a certificação desse avião agrícola possa criar condições técnicas e comerciais favoráveis para o lançamento de modelos de aerovanes a álcool, da chamada linha leve, para dois, quatro ou seis passageiros.

Potência do motor amplia vantagem do ‘Ipanemão’

O combustível não será o único fator de diminuição de custos na aviação agrícola, com o lançamento do avião a álcool. A Neiva acredita que a nova versão do Ipanema prolongará o ciclo de manutenção do motor que ocorre, atualmente após 1600 horas de vôo. Segundo o gerente comercial da empresa, existe, no caso da gasolina, um maior desgaste do motor devido à temperatura elevada. O motor a álcool apresenta temperatura mais baixa, o que exige, inclusive, ajustes no sistema de refrigeração, com a diminuição da entrada de ar. “Esta situação permite maior limpeza aerodinâmica”, observa Luiz Zacarelli.

O aumento da potência do motor, entre 5% e 10%, tornará o EMB 202 – conhecido também como “Ipanemão” – ainda mais atraente para o mercado. O modelo a gasolina, que desenvolve 300 HP, poderá ter em média entre 320 a 325 HP. Além das vantagens econômicas, esse novo avião utiliza um combustível limpo e renovável, ao contrário da gasolina que provoca, por exemplo, elevada emissão de chumbo. “Daqui a cinco a dez anos, as exigências ambientais em relação à aviação serão maiores. Existem pesquisas, inclusive, para o aproveitamento do querosene”, informa.

A Indústria Aeronáutica Neiva fez a apresentação oficial do avião a álcool no dia 10 de outubro em Botucatu (SP). Para a obtenção da certificação da aeronave e do motor junto ao Centro Tecnológico Aeroespacial – CTA, órgão de comando da Aeronáutica, a empresa tem que cumprir diversas etapas para comprovar a aeronavegabilidade da nova versão da EMB 202. “É preciso colocar o motor em funcionamento numa bancada durante 150 horas”, exemplifica Zacarelli.

Além do acompanhamento do CTA, o projeto – que está exigindo um investimento de US$ 300 mil – conta com apoio técnico das empresas Lycoming e Hartzell, fabricantes do motor e do conjunto da hélice respectivamente. A Neiva – com 48 anos de existência – passou a ser controlada pela Embraer em 11 de março de 1980, que transferiu para a sua subsidiária a engenharia e toda linha de produção de aviões leves.

A Neiva produz o avião agrícola Ipanema – líder de mercado – há 30 anos. Essa aeronave possui hopper – tanque para produtos químicos – para transportar 950 litros ou 750 quilos de defensivos agrícolas. A comercialização do modelo a álcool só poderá ocorrer após a homologação da certificação.

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