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Avanço da cana

O salto superior a 35% da área cultivada com cana em Goiás, chegando nesta safra a 450 mil hectares, revela-se promissor. E também preocupante. Enquanto projeta riqueza e emprego, clareia a visão de que solos de cultivo alimentar poderão ser utilizados pela indústria do etanol.

O recente Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, conforme decreto assinado pelo presidente Lula (nº 6991, de 17/9/09), embora se constitua num bem elaborado estudo que se baseia em formulações da Embrapa concluídas desde 2008, coloca as terras do bioma Cerrado, em Goiás, como as mais aptas ao cultivo específico de cana, com um total de 12 milhões de hectares.

Mostra o estudo que o Estado possui poucos solos de altíssima aptidão produtiva. Essas áreas somam, em poucos municípios, apenas 783.213 ha. Se acrescidas com as de média aptidão, segundo o estudo, passam para 6.692.427 ha. Estão ocupadas atualmente com pastagens. As ocupadas c! om agricultura vão a 4.817.549 ha, a maioria de média aptidão agrícola.

Para cana, porém, lavoura de ciclo anual que requer adubações contínuas, as terras de Cerrado, mesmo que pobres em alguns elementos, são altamente capacitadas, tendo em vista outros fatores como topografia, regime pluviométrico, luminosidade e variedades adaptáveis.

A tecnologia alcançada evitará que se repita, em caso de nova corrida à cana, o acontecido na década de 70, no início do Proálcool, quando plantios no Nordeste do Estado deram pouco rendimento e foram abandonados, juntamente com as usinas.

O zoneamento criado pelo governo federal reserva a Goiás quantidade maior de solos aptos para produção de etanol, em relação aos demais Estados. O que, numa análise simplificada, traz perspectiva ainda mais alentadora para o futuro do álcool combustível goiano.

Não significa que o Estado vá plantar 12 milhões de hectares de cana. O Zoneamento Agroecológico aponta as terras apropriad! as ao seu cultivo sem a necessidade de desmatar o pouco que resta do Cerrado. Por isso, indica as áreas de pastagens, estejam ou não degradadas, e as de agricultura de grãos alimentares, como as apropriadas à cana.

Mesmo que o cultivo para fins energéticos se mostre extremamente vantajoso em relação aos grãos de alimentação humana, haverá um balanço para equilibrar a produção geral do Estado, reduzindo o perigo de apropriações de terras indispensáveis à segurança alimentar.

O decreto presidencial exclui a Amazônia e o Pantanal, além das reservas ecológicas, indígenas e ambientais, parques e outras áreas protegidas, como as reservas legais, e obedece a atual legislação. A preservação da Amazônia indica, também, que ali se continuarão formando rebanhos bovinos para abastecer mercados, internos e externos.

O zoneamento da cana reflete um momento de grandeza da tecnocracia brasileira. O estudo que deu origem ao decreto potencializa todas as possibilidades da agrop! ecuária de modo sustentável. Para se ter uma idéia, 92,5% do território brasileiro fica fora das zonas da cana.

Os 7,5% restantes representam 66 milhões de hectares de solos aptos ao etanol, mas que, na atualidade, estão produzindo alimentos e carnes e incluem também os cultivos de cana. Tenta-se, com a medida, assegurar o futuro do álcool e impedir desmedido crescimento do segmento econômico, em especial agora com a exploração do petróleo do pré-sal e oferta abundante de combustível fóssil.

Pode ser considerado o começo de regulação do setor sucroalcooleiro pelo governo, defendido por círculos do empresariado como forma de disciplinar a produção e perpetuar a atividade dentro de conceitos econômicos, sociais e ambientais.

A liberdade excessiva, deixando ao unicamente ao mercado o papel regulador, poderia trazer consequências desastrosas. Basta pensar na Amazônia transformada em chaminés de usinas de álcool, e! nas pastagens ali existentes, bem maiores que as áreas de agricultura, inteiramente plantadas com cana.

Como o zoneamento tem um contexto técnico-científico, não sendo, portanto, fruto de especulações ou desacertos e açodamentos, o documento servirá de base sólida para edificar no País um novo ciclo de agricultura diversificada e produtiva, sem agredir o meio ambiente. De forma autossustentada, produtiva e lucrativa, tanto para produtores tradicionais como para os sucroalcooleiros.

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